Page 25 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1988
P. 25
pensamento econômico era então ensi índices, prática até então inexistente, Roberto Campos, atual senador pelo
nado por notáveis engenheiros ou juris sobre a economia. Mato Grosso do Sul, afirmou que sua po
tas. O currículo à época incluía econo Ao deter-se no período Vargas, Ró- sição, hoje, é a favor do choque liber
mia bancária e regime aduaneiro com mulo de Almeida explicou que Getúlio tário, mercado aberto, monetarismo e
parado — rememorou Julian Chachel, quis política externa autônoma, câmbio produtivismo opondo-se ao gradua-
ex-aluno da FEA. Presença marcante múltiplo (no que foi combatido pelo iismo, nacionalismo (inveterado), estru-
era a de Eugênio Gudi n, um ex- FMI) e investimentos externos por in turalismo (destruidor de economias) e
engenheiro ferroviário, que tinha ido à termédio da Comissão Mista Brasil- do distributivismo. "E o económico que
conferência de Bretton Woods, que fixou Estados Unidos. "Na área da produção deve preceder o social e não o contrário”,
as novas regras da economia do pós- foi a época da criação do Plano Nacional advogou o senador, acrescentando que a
Guerra e criou o FMI. Sob a direção de de Energia, do Fundo Rodoviário, da Re política monetária deve favorecer a
Gudin introduzia-se, na FEA, o pensa de Ferroviária, da Comissão de Desen oferta, a política fiscal deve ser severa,
mento anglo-saxão. volvimento Industrial, do projeto de os capitais estrangeiros devem ser cha
— Dois movimentos básicos divi preços mínimos e do crédito rural. No mados a participar e o distributivismo
diram o pensamento económico no Bra plano social, instituiu-se o salário mí deve ser indireto, sob forma de edu
sil: a planificação central eo liberalismo nimo e o Banco do Nordeste e na área cação.
económico — ensinou Genival Santos, tecnológica nasceram o Centro Brasilei Na visão neoliberal do ex-ministro
antigo aluno da Faculdade. Nos anos 30 ro de Pesauisas Físicas, a Comissão de do planejamento, do Governo Castelo
e 40, as lideranças privadas do País es Energia Nuclear e o projeto de levanta Branco. ”a política de informática isolou
tavam na agricultura e no comércio de mento da Amazônia, via radar aero- o País, o Plano Cruzado revogou a lei da
commodities. Mas Roberto Simões, im transportado (Radam). Em embrião, oferta e da procura, a moratória tirou a
pressionado com o esforço industrial do deixou Getúlio Vargas a reforma admi credibilidade do Brasil junto a seus cre
pós-Guerra, propôs a planificação da nistrativa, precursora du Sest/Scplan e dores e agora a Constituinte, ao exa
econorpia, com apoio da empresa pri apoiou, em Quitandinha (RJ), a insti gerar aspirações, cria tensões desneces
vada. E combatido, tenpzmente, pelo li tuição da Cepal contra a pressão norte- sárias. Mas a economia deve conviver
beralismo de Gudin. A época nasce a umericana traduzida pela posição de com a disputa entre consumo imediato e
Fundação Getúlio Vargas para estudar João Neves”, lembrou Rómulo de Al acumulação a longo prazo, entre infla
o problema da renda nacional c calcular meida. ção e desenvolvimento, entre o planeja
mento do burocrata (supostamente ilu
minado) e de sua implantação pela ini
ciativa privada”.
Crise da Economia
Pós-Guerra
Economistas reunidos não poderiam de fenômeno novo. Até 70, o Governo se
deixar de falar no varejo da crise a curto endividou. Em 80 pagava seus compro Antonio Barros de Castro referiu-se
prazo. Para Kdmar Racha, a moeda inde missos e o País crescia, mas veio a subse- aos anos 50. do pós-guerra, quando se
xada tradicional, upesar dos ditames do qüente cobrança do FMI. Frente a crise, ensinava na FEA "as regras do jogo uni
FMI. não está sob controle, visto que há cada agente econômico partiu para mano versalmente aceitas” de origem anglo-
outras operações ativas como créditos ofi bras preventivas, o que desequilibrou a saxónica e se coibiam "particularis-
ciais e manipulações de moeda estrangei economia.
ra. Explica Racha que, ao instituir o Go Mas, segundo Carlos Lessa, toda crise mos”. como o desejo dos países em desen
verno incentivos cambiais e creditícios tem aspecto didático e surge agora nova volvimento, como Brasil e Japão, de cri
para obtenção de megassuperavits de ex idéia que é a do pacto social que dará certo arem estruturas industriais modernas e
portação. criaria também para si, imenso quando todo agente econômico achar que mercados de massa, a partir de um nú
vazio fiscal que o obriga a buscar recursos não poderá mais retirar vantagem da cleo produtivo central. 'Hoje, o Brasil já
internos. Estes aceleram a ciranda finan atual situação. "Retomada dos investi possui parque industrial que faz quase
ceira que hoje oscila em torno de 20% do mentos produtivos e manutenção do po tudo, o que leva décadas para construir,
PIB. der aquisitivo dos assalariados já serão mas a economia está perplexa quanto à
Repensar o esaucma de exportações, um bom começo, com a renegociação da rota a seguir", formulou Barros de
usar tarifas para obter recursos para o Te dívida externa trazendo desafogo à divida
souro. empregar superávit* da balança pública interna", diz Lessa. Castro.
comercial para negociar mais com outros Quanto ao médio prazo, "resta esperar O período juscelinista foi o da discus
países da América Latina e introduzir os ganhos de produtividade advindos da são do sonho brasileiro da modernidade.
certo grau de maior competição na econo introdução de novas tecnologias", for Em termos de planejamento estatal, foi
mia são os remédios preconizados por mula Julian Chachel. Mas para Roberto a época do Plano de Metas culminando
Bacha. Campos o caminho da cura já é velho co com a "meta-síntese" para a construção
De acordo com Conceição Tavares, a nhecido e se resume à "integração, desre de Brasília, que é a origem, segundo Ro
questão não é nem estruturalista e muito gramento dos monopólios, privatização e berto Campos, da infecção inflacionária
menos monetarista. mas se resume em competição, para term inar com a fase
saber "quem irá pagar a conta”. mercantilista, cartorial do pré-capitalis- do País. No entanto continuava o debate
Para Fernando Cardin, se está diante n sempre renovado entre a presença pla
nejadora do Estado e a estrutura produ-1