Page 7 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1988

editorial
O Pacto Social, recen tem en te assinado
p elas classes em p resariais, tra b a lh a ­
doras e Governo, faz-nos lem brar da fábula
árabe de IBN AL-M ukafa, cujo resum o é o se­
guinte:
“Era um a vez um leão que m orava com
três amigos: um lobo. um corvo e um chacal.
S em p re que saia n caça, o leno trazia a li­
m ento para os três. ( 'erto dia, apareceu um
camelo que, tendo em vista a benevolência do
rei dos anim ais, tornou-se seu protegido e co­
meçou a fazer parte do grupo.
Um dia. o leao ficou ferido num a luta con­
tra um elefante feroz e não pôde m ais caçar.
Começou a passar fome, assim como os ou­
tros, uue se alim entavam com as sobras do
leão. Kíal acostum ados, os três não tinham
como conseguir comida. E eram severos críti­
cos do camelo que se nutria de pasto e o único
que não passava fome.
O lobo, o corvo e o chacal reuniram -se a
parte para planejar um ardil e, no final, che­
garam à conclusão de que a m elhor saída
para saciar a fome deles e a do rei era m atar o
camelo. C onsultado, o leão não concordou,
porque, além da lealdade prom etida ao ca­
meloi, havia um pacto de sobrevivência entre
os cinco.
Cham aram o camelo e foram ã presença do
leão. D iante do rei, o chacal falou: “M ajes­
tade•, devo-lhe m inha vida e a ofereço para
m atar sua fome". De imediato, o lobo e o corvo
não concordaram: “Sua carne não é digna de
um r e i!” E m seg u id a , os dois ta m b ém
ofereceram, o que foi prontam ente recusado
pelos outros, conforme anteriorm ente combi­
nado.
Pensou o cam elo que, falando do m esm o
modo, os dem ais interviriam com desculpas a
seu favor. Q uando ofereceu seu corpo, d i­
zendo que sua carne era a m ais saborosa e seu
tam anho m ataria a fom e de todos. teve acei­
tação unânim e e foi sacrificado. L o pacto foi
rom pido”.
E, agora, vam os ao pacto social, propria­
m ente dito.
Depois do insucesso do Plano Cruzado e do
Plano Bresser, de com bate à inflação, o Go­
verno, os em presários e os trabalhadores as­
A F á b u l a e o
P a c t o S o c i a l
(ou a obrigação cias partes
Lázaro José de Brito
de cumprir o acordo) iDiretor du Tolebrasil e
Diretor da Ce te lí
“Sc existe um segredo do sucesso estii em vossa
capacidade de compreender o pensamento de
vosso interlocutor e de ver as coisas do ponto de
vista tão claramente como o vosso".
Henry Ford
sinaram , no dia 2 de novem bro últim o, um
docum ento intitulado: “Com prom isso Social
— Pacto C ontra a Inflação”. r
O prim eiro a pensar na idéia foi o P resi­
dente Tancredo Neves, que, em 1984, se e n tu ­
siasm ou com o Pacto de M oncloa, cm que to­
dos os segm entos da sociedade, na E spanha,
sentaram à mesa “para asseg u rar a estab ili­
dade da moeda”.
A cred ita-se que a lg u n s seg m en to s que
ainda não aderiram à equipe — por exemplo:
os políticos, os banqueiros e a CUT (C entral
Única dos Trabalhadores), e eventual m ente
a igreja e os m ilitares — logo se integrarão J á
que o problem a é nacional, lhes interessa e,
principal m ente, porque eles têm m uito a con­
tribuir.
E o que ficou acertado nas prim eiras reu ­
niões? — a ) 26,5% máx i mo de reajuste de p re ­
ços e tarifas entre 3.11 a 2.12.88; — b ) 25%
máximo de reajuste de preços e tarifas en tre
3 12.88 a 2.1.89, sendo que. em am bos os ca­
sos, só haverá reajuste a cada 30 dias; — c) re­
ajuste válido para 94 itens, que serão fiscali­
zados pelos signatários do Pacto; — dl os sa lá ­
rios serão reajustados pelas U R Ps (21,39%
em novembro e 26,05% em dezembro); — e) o
Governo a p re se n ta rá ao C ongresso, em 30
dias no máximo, proposta de saneam ento das
finanças públicas. Isto significará m ais es­
forço para au m en tar a arrecadação e d im i­
nuir as despesas.
Com estas m edidas espera-se que a infla­
se ção decresça p au latin am en te m es a m ês, a
p a rtir de novem bro, até chegar a um nível
aceitável.
Com a previsão de fechar a balança com er­
cial com um “superávit recorde” de 20 bilhões
de dólares e o desejo dos m inistros da á re a
econômica de zerar o déficit público, sobre o
PIB, em 1989, fica no coração dos brasileiros
a esperança de êxito do Pacto Social.
P ara o sucesso do plano, se faz ab so lu ta­
m ente necessário o m áxim o rigor no cum pri­
mento do acordo por todas as partes. Isso im ­
pediria a repetição de outros insucessos e, tal
como na fábula, que algum as das partes ve­
nham a oferecer outra em holocausto.