Page 16 - Telebrasil - Março/Abril 1988

Almir: Otimista sim, mas com realismo

Por ocasião do X V III Painel Tele- nhassem a inflação o resultado seria melhor TB — Sendo mais específico, quais as per.

ainda. pectivas de serviços como o videotexto
brasil, realizado em Salvador (BA), transmissão de dados e o uso do satélite par,

o presidente da Telebrás, A lm ir TB — Qual a situação financeira do Sistema comunicações de diversos tipos?

Vieira Dias, concedeu entrevista ex­ Telebrás? Bode ser considerado um setor que Almir Tais serviços estão sendo expiou

clusiva à Revista Telebrasil. contribuiu para a crise da dívida externa? dos por nossas empresas e creio que a»;-

Almir — Financeiramente, o Sistema Tele­ continuarão a sê-los. Nós não somos esta:

brás está numa posição excepcional porque a zantes, nem privatistas. Nossa filosofiaéadt

Telebrasil — O novo texto constitucional nossa dívida é da ordem de 700 milhões de fazer o que é melhor e mais rápido parafai,
senvolvimento do Pais. Então, há servir.,
poderá significar mudança na organização dólares que é pouquíssima se comparada a que efetivam ente poderiam ser efetuad,

das telecomunicações brasileiras? um patrimônio de bilhões de dólares.

Almir Vieira Dias — A influência do que pela empresa privada, mas nunca serviç.,.

acontece na política e na própria legislação TB — E quando à dívida interna? que fossem de muita alta rentabilidade (¦

sobre o setor de telecomunicações se dá sem­ Almir — Internamente nâo existe dívida. que deve acontecer é o seguinte: serviço- qi>

pre lentamente. Isto porque o setor repre­ Então, o que acontece, é termos um setor no a nosso ver não nos convém explorar. e>i*

senta uma massa muito grande e muito bem qual os bancos batem à nossa porta querendo sim serão oferecidos a iniciativa privada

estruturada que não pode, se for o caso, ser emprestar dinheiro. Nós temos, portanto, fa­

alterada facilmente. O setor movimenta, in­ cilidade para a obtenção. Mas, atualmente, TB — Há uma pressão muito grande par

clusive. cifras muito altas. Gostaria de expli­ nós não precisamos de crédito. Até que no fu­ que se atenda à demanda de serviços de

car melhor: um direcionamento rumo à pri­ turo, com base em programações que requei­ municação de dados. O que o Sistema Tel-

vatização exigiria dos grupos que se dispus- ram maior agilidade, venhamos a precisar brás está fazendo a respeito?

sem a comprar nosso acervo um desembolso destes recursos. Espero até que isto aconteça Almir — A comunicação de dados hoje ê re,

de mais de 10 bilhões de dólares. E isto é, sem visto nossa boa posição e capacidade de endi­ lizada sob monopólio da Embratel, quet^-

dúvida, muito dinheiro. vidamento. feito isto com muita desenvoltura, espec.a
mente nesse último ano através da Renpar t

TB — Nâo haveria possibilidade de vir di­ que está faltando é á integração das empr-

nheiro de fora para adquirir, digamos. 49% sas-pólo neste programa.

do Sistema Telebrás?

Almir — Mesmo vindo de fora permanece o TB — Inclusive na posse da nova Diretor,

fato de que se trata de muito dinheiro. Mas da Embra tel, o senhor disse que isto seria fi­

isto não é tudo. Há que considerar ainda o as­ to. Como anda este programa de integrara>

pecto de que o serviço de telecomunicações Almir — Nós estamos iniciando a intenor

sempre foi considerado, no Brasil, um serviço zação da comunicação de dados, mas v;-

necessário à segurança. Então não saberia que a Embratel apresentou um desempenf

dizer se uma participação muito forte de ca­ excepcional nesta área, como no caso ã

pital estrangeiro num setor como esse seria telex, é possível que o início da intenonz£u_

bem vista no País. Este assunto teria de ser para comunicação de dados possa tamfcrr

analisado. Porém, o mais importante, além ser feito pela Embratel. Nós estamos aicc

de tudo isto, e mais os investimentos que em fase final de análise da situação E-

seriam necessários, é o aspecto de que o setor análise deve ser muito bem feita levand -r

das telecomunciações é um modelo de su­ conta que a Embratel faz muito bem o -

cesso. serviço, assim como as empresas-pólo íaic~

bem a telefonia. As empresas-pólo, tods ..

TB—E que vantagens advém para o setor de serão treinadas para comunicação de da:

telecomunicações o fato dele ser um modelo

de sucesso? TB — Tocando no aspecto dos recums r-

Almir — Em primeiro lugar, no modelo manos. Existe atualmente uma dicotomia :

atual, o setor não precisa de recursos do Go­ reajuste de salários entre o setor eslaU. -

verno para crescer. File tem crescido muito onde ocorre o congelamento da URP—e -

acompanhando a evolução tecnológica mun­ tor privado, onde reajustes salariais esta :

dial. E também um setor que tem propiciado berados. O senhor antevê alguma poss :

a solidificação de um parque industrial ex­ dade de movimento maior no sentido de pr-

tremamente moderno. Em comparação, o se­ lisação das atividades no Sistema Tekbr-

tor de energia elétrica já não apresenta as Almir — Em relação ao congelament.

mesmas características em seu parque in­ rial, quer queiramos ou não. nós som>>

dustrial, sendo que a maioria de suas com­ TB — Fala-se muito em interiorização e po­ fato uma empresa estatal e como tal si*

pras são feitas no exterior. Para o nosso setor, pularização das TCs, mas existem também às regras do Governo. E o que fazemos e -

a maioria das compras são feitas no País e só serviços novos que podem ser implantados. faremos sempre. O referido congelamen: -

muito raramente se recorre a compras dire­ Será que frente ao que diz a nova Constitui­ URP nos pegou em situação favorável de­

tas, inclusive, em países desenvolvidos. ção seria possível surgir um quadro em que, vez, porque no ano passado os empregac >

digamos, "o filé mignon"seria explorado por Sistem a Telebrás tiveram uma ev.'

TB — Como o Sr. classificaria as tarifas do terceiros, ao passo que ficaria reservado ao salarial muito significativa. Talvez uma-

Sistema Telebrás? Sistema Telebrás a tarefa da colocação de maiores de sua história. Muito justam

Almir — Nossa tarifa não é boa. Ela sempre telefones em situações talvez até não tão ren­ quero dizer, logo de pronto.

esteve abaixo da inflação. Mesmo no ano pas­ táveis?

sado, que pode ser considerado um ano de re­ Almir — Bem, eu acho que absolutamente TB — Como assim?

cuperação tarifária, nós constatamos a exis­ não. Em primeiro lugar, temos um ministro Almir — Porque o Sistema Telebrás « -

tência de uma defasagem no aumento de chamado Antonio Carlos M agalhães, que com seus salários extremamente delat­

tarifas de 320% contra uma inflação de possui uma linha política bem definida e que em relação a outras estatais do mesmo :¦ '

365%. jamais permitiria que segmentos mais rentá­ e em relação ao segmento industrial K

veis fossem para as áreas privadas e nós fi­ entào um desequilíbrio da balança de ~

TB — E qual a influência deste nível no de­ cássemos apenas com o restante. Mesmo por­ gos com fuga de pessoal do Sistema Te •'

sempenho do Sistema Telebrás? que ele já demonstrou, na prática, a imple­ para o setor privado, o que acaba pe­

Almir — Mesmo com esta defasagem tari­ mentação de program as de caráter social cando a todos. Hoje a situação dos

fária conseguimos um bom nível de cresci­ valendo-se de recursos dos serviços mais ren­ entre empresa privada e estatal esta e.-

mento. Se tivéssemos tarifas que acompa­ táveis. brada. Vejo a URP como uma medida :