Page 11 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1988
P. 11
informática, ficou patente, nunca foi de nacionais detendo 98,2% do mercado. exporta (dados de 86) cerca de 6,2 bi
seu completo agrado. Nove anos m ais tarde, o faturam ento lhões de dólares encabeçando a lista
A questão não se reveste, no entanto, bruto das em presas nacionais suplan calçados, café em grãos, suco de laranja,
de um só aspecto monolítico. As m ulti tava o das m ultinacionais aqui instala gasolina e toca-fitas para automóveis,
nacionais de inform ática aqui instala das — na área de processamento de da cacau, aço e pasta de m adeira. E im
das, por exemplo, após terem se oposto, dos para uso geral — e a indústria gera porta: aviões a jato, hulha, milho, leite
de início, à idéia de reserva de mercado, va 41 mil empregos, 17% dos quais nas em pó, peças para aeronaves e compo
m udaram a estratégia, optando por con m ultinacionais. nentes microeletrônicos, gerando um
solidar sua posição no segm ento de com N a á re a de telein fo rm ática, aqui saldo positivo de 3 bilhões de dólares. Os
putadores de m aior porte, de periféricos com preendida coisas tais como term i EUA absorvem cerca de 33% das expor
de alto conteúdo tecnológico e de produ nais de telex, dados, videotexto, fac- tações brasileiras e o mercado europeu,
ção local, visando o mercado exportador. símile, modems, redes locais, PABX di outro tanto. Assim, qualquer ação re
Num clim a local de boa vontade, que gitais e CPAs, em 86, segundo a SEI, as tal iatória dos EUA, constitui elemento
procuram incentivar, os grandes da in em presas nacionais faturaram 475 mi de peso.
formática aqui instalados, cientes do po lhões de dólares, além de crescer a uma O contencioso B rasil-EU A não é
derio tecnológico e financeiro de suas taxa de 23%, contra 7% das multinacio novo e muito menos restrito à informá
m atrizes, reservam suas expectativas nais. tica e ocorre sempre que um dos dois paí
para o cenário futuro da 8:' economia do ses se sente prejudicado — mas não no
mundo. Trade Act caso da reserva de mercado da indústria
Em paralelo, há que lem b rar que, autom obilística. Em 79 tratava-se de
a p a rtir de 81 e como fenômeno m un A legislação do 'lYade Act nasceu em ferro gusa, depois passou a ser aço inoxi
d ia l, os c a p ita is e x p a tria d o s n o rte- 74, e com posteriores revisões à sua Se dável, mamona, álcool etílico, artefatos
americanos reverteram a tendência de ção 301, dá poderes ao presidente dos de couro, ceras, fio, m áquinas, soja,
um crescente investim ento externo. Em EUA para impor tributos, cotas e restri frango e suco de laranja, a maioria pro
84, o repatriam ento de lucros de 15 bi ções e produtos externos, em defesa dos dutos sobretaxados. Em relação ao
lhões de dólares superou o nível de in interesses do pais. A dicionalm ente, Acordo Geral de Tarifas e Comércio
vestimento efetuado fora dos EUA e, em qualquer cidadão ao se sent ir lesado co- G att, este e um tbruni (vide Revista
87, foram repatriados nada menos do mercialmente pode apelar ao Governo Tolebrnsil N/D-86, pág.7) onde são dis
que 20 bilhões de dólares. norte-americano. Foi o que fez a direção cutidos direitos e obrigações dos países
Do ponto de vista prático, a política da Microsoft. em relação ao comércio exterior. O Gatt
de inform ática trouxe resultados palpá Tomo pano de fundo dos aconteci prevê a proteção do mercado em três ca
veis — cresceu o bolo como um todo e mentos é preciso levarem conta três coi sos: segurança nacional; dificuldades na
cresceu a participação brasileira. Nos sas: o comércio exterior brasileiro: o balança de pagam entos; e indústria
idos de 77, o mercado de informática era contencioso Brasil-EU A , e a ação do nascente, mas em relação a seu real po
apenas de 200 m ilhões de dólares, re Qatt. derio de barganha, com enta um ex-
partido entre 9 em presas, com 6 m ulti Quanto ao comércio exterior, o Brasi I chanceler brasileiro, que "a soberania
de qualquer país, na verdade, não pode
ser atingida por tratados externos”.
Na sua breve história, o contencioso
de informática na adm inistração Rea-
O Caso Microsoft gan abriu investigação a cerca da polí
tica brasileira de informática (85); con
clui contra a reserva de mercado, ónus
A Microsoft é a segunda empresa inde indeferiu a SEI os requerimentos sob justi
pendente de software americana em ter ficativa de que o Sisne preenchia os requi sobre as importações, proibição de in
mos de faturam ento (só perde para Lotus) sitos da equivalência funcional com o MS- vestimentos estrangeiros, falta de pro
e seu carro-chefe é o sistema operacional DOS e tinha sido desenvolvido de maneira teção ao software (86); suspendeu as in
MS-DOS para microcomputadores. Nas independente por empresa nacional. vestigações tendo em vista o compro
raízes do "caso Microsoft" está o Ato Nor A reação à decisão da SEI tomou dois misso do Brasil de não estender a re
mativo n? 27/83 que, ao fixar os critérios caminhos: Polymax e Sid entraram com re serva a outras áreas e não prorrogá-la
da produção para computadores de 16 bits curso junto ao Conin; e a Microsoft contra- além de 1992. Finalm ente, em 87, a
no País (tipo IBM-PCs), determinou que o atacou, inicialmente, reclamando que o
sistem a operacional (um programa espe Sisne nada mais era do que uma cópia do aprovação da Lei de Software na Câ
cial que gerencia a máquina) deveria ser MS-DOS e depois representando junto ao mara dos Deputados faria cair o item re
desenvolvido no País. governo dos EUA. contra o Brasil, por dis lativo aos direitos de propriedade in
A em presa nacional Scopus decidiu criminação indevida de seu produto. A Sco telectual.
entrar no mercado de 16 bits e, segundo pus reconheceu o erro e corrigiu 783 códi A aparente calmaria seria quebrada
declarou, após 100 mil horas de trabalho, gos de uma rotina de periféricos que eram pela representação da Microsoft cla
envolvendo 15 engenheiros durante 4 cópias exata dos MS-DOS, num total de mando discriminação por parte do Bra
anos e a um custo de 64 milhões de cruza 571 mil bytes representados pelas linhas
dos (out/87), obteve um sistema operacio de código-fonte do Sisne. Na ocasião, o sil e que foi acatada pelo Governo norte-
nal que denominou de Sisne. Na ocasião, Sisnejá mantinha equipamentos da Cobra, am ericano. Em 13.11.87 declarava o
interessada no mercado brasileiro, a Mi Siscoe Microtec tendo sido extensivamente presidente Ronald Reagan sua intenção
crosoft realizou levantamento e concluiu testado pela USP, PUC/RJ e Serpro. Em 22 em penalizar as exportações brasileiras
que grande número de empresas brasilei de setembro de 87, a SEI recusava a entra (não disse quais) em 105 milhões de
ras utilizava, sem a devida licença, o MS- da do MS-DOS da Microsoft para equipar dólares, além de vetar a entrada nos
DOS. micros PCs fabricados no País, ainda que o EUA de produtos de informática, cober
Pouco depois, após negociarem com a mesmo continuasse à venda no País. A Mi tos pela reserva de mercado.
Microsoft, as empresas brasileiras Sid, La crosoft alegou prejuízo estimado entre 50 e
bo, Microtec, Polymax, entraram com re 100 milhões de dólares (ainda que no en
querimento junto à SELpara a produção de tender da Abicomp não tenha sido acima de Diplomacia
máquinas de 16 bits, empregando como sis 1 milhão de dólares) e reclamou ao governo
tema operacional o MS-DOS — no enten americano. A decisão norte-americana teve re
der das empresas, sem similar no País (ca A Microsoft tem mantido polêmicas flexos im ediatos. No Brasil, exporta
tegoria C, pelo Ato N orm ativo n.ü 22). tam bém no Jap ão , C ingapura, Hong dores ficaram preocupados e gerou-se
Numa decisão que levou quase 10 meses, Kong, Taiwan e Coréia do Sul. um clima de controvérsia em relação à
oportunidade de política de informática, t