Page 7 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1988

editorial

0 reverso da medalha

Gilberto Geraldo Garbi

(Presidente da NEC e Diretor da Telebrasil)

Desde que deixei o Sistema Telebrás e pas­ Quanto ao cumprimento dos prazos de en­

sei a trabalhar para o segmento industrial do trega, os riscos a que as indústrias estão sub­

setor das telecomunicações, tenho ouvido metidas são inesgotáveis. O suprimento de

perguntas freqüentes a respeito do que está componentes nacionais, sua qualidade e as

sendo a nova experiência. E natural que isto imprevisíveis demoras na obtenção de guias

ocorra, pois todos nós temos a curiosidade em de importação de insumos e máquinas fazem

conhecer o outro lado daquilo que vivemos. com que as estimativas de prazos sejam um

Hoje, minha resposta é simples: refor­ exercício penoso e falho.

mulei m uitos de meus conceitos e estou Nestas circunstâncias, não faz sentido o

aprendendo coisas que recebiam de mim pou­ que poderíamos chamar de "punições cruéis”,

ca atenção quando trabalhava no segmento como a perda de reajustes, recentemente

operador de serviços de telecomunicações. abolida para os novos contratos, ou qualquer

Aliás, o conhecimento que já pude adquirir tratamento inflexível e rígido para com os fa­

nestes poucos meses permite-me afirmar bricantes.

que, quando dirigente do Sistema Telebrás, Finalmente, no capítulo da falta de plane­

muitas vezes avaliei, erroneamente, a reali­ jamento, vale dizer que a eficiência das in­

dade industrial do setor e tomei decisões, no dústrias cai e seus custos sobem sempre que

mínimo, inadequadas. elas são submetidas ao regime do "stop and

go”, o que tem sido hábito histórico no Brasil.

Tentando ser sintético, parece-me que a

origem das distorções da visão que as opera­ A concentração de contratações ou, mais gra­
ve ainda, de entregas em determinados perío­

doras têm da indústria está em que, cons­ dos, as reprogramações de obras por motivos

ciente ou inconscientemente, acredita-se que orçamentários e as postergações de paga­

os fabricantes cobram preços exagerados, ga­
mentos nos últimos meses de cada ano são

nham muito dinheiro, têm recursos inesgotá­ problemas que pouco dependem do setor em

veis, atrasam as entregas por negligência e si, já que são causados por fatores exógenos,

podem trabalhar sem planejamento de enco­ mas afetam profundamente o segmento in­

mendas. Esta visão, evidentemente, está er­
dustrial. Tudo isto, ao final, repercute nega­

rada.
tivamente contra todos: operadoras, usuá­

Embora os preços pareçam ser muito altos, rios, fabricantes, coletividade.

o fato é que a rentabilidade das indústrias é O que acaba de ser dito não é novidade e re­

pequena e isto não se deve a qualquer inefi­ ceberia a concordância da maioria dos que

ciência intrínseca de sua parte. trabalham no segmento operacional. A

As grandes imperfeições da economia bra­ grande diferença está na intensidade com

sileira têm provocado a coexistência de três que o problema é sentido quando se vive as

realidades de difícil compreensão: preços al­ batalhas diárias da indústria. Somente o

tos, salários baixos e lucros reduzidos. Nos úl­ aperfeiçoamento da postura de disposição ao

timos tempos, aliás, a rentabilidade das in­ diálogo e à compreensão das dificuldades re­

dústrias tem passado por permanentes so­ cíprocas, já manifestada pela Telebrás, per­

bressaltos, com as diversas alterações intro­ mitirá a superação dos problemas atuais e o

duzidas pelo Governo nas regras do jogo, pro­ fortalecimento dos dois segmentos que, afi­

vocando abruptas mudanças de estados lu­ nal, são parceiros unidos pelos mesmos obje­

crativos para deficitários. tivos.