Page 42 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1987

DE 19 A 22 DE SETEMBRO DE 1987

Amaury:

a o c o n s u m id o r

O presidente da Confederação das Associações

Comerciais do Brasil, Amaury Temporal, começou

sua palestra elogiando o editorial "O Direito do

Usuário", publicado na Revista Telebrasil. julho/

agosto de 87, de autoria do vice-presidente da enti­

dade, Lázaro José de Brito. Em seguida, falou sobre

as rápidas mudanças que o mundo vem passando,

principalmente nos países desenvolvidos. Segundo

ele, o resultado global das mutações é um mundo

pós-ideológico, da obsolescência das ideologias,

onde se vê países comunistas como a URSS e a Chi­

na Continental abrindo suas políticas econômicas

fechadas, enquanto países reconhecidamente capi­

talistas já adotam ingredientes socialistas.

Para o conferencista a Rússia tem firme propó­

sito de se modernizar, de se desburocratizar, de ser

mais produtiva, de ser mais competitiva. "Se Mi-

khail Gorbachev vai conseguir seus objetivos, eu

não sei, mas que é uma revolução importante, é” ,

afirm ou o empresário. Segundo Amaury, “ a

grande revolução é a revolução da eficiência e

da produtividade” .

Depois de discorrer sobre os conceitos de liber­

dade, democracia e livre arbítrio, Temporal enfati­

zou que "a economia de mercado se distingue fun­

damentalmente do capitalismo de estado, pela pos­

se dos bens de produção, pela ênfase relativa no

planejamento, mas também por quem decide o que

vai ser produzido, em que nível e em que quanti­ Mesa de Debates: (E-D) Wanderley de Castro (Listei); Alencastro e Silva fex-PR Telebräs); Gilberto

dade. No sistema capitalista esta decisáor pertence Garbi (PR NEC do Brasil); Amaury Temporal (PR ACRJ); Waldemar Mehl (Induco).

ao consumidor. Portanto, o papel do mercado numa

democracia é sumamente importante, é uma das

vertentes da liberdade, que no campo político se
aqui por vários oradores, o fato de olharmos o go­ — Depois de novo aumento na carga tributária,
traduz em pluralismo democrático, na descentrali­
verno como um Olimpo, onde estão os deuses que em junho do ano passado, usando o eufemismo de
zação das decisões, e no campo económico se tra­
têm uma linguagem própria, desígnios próprios, e empréstimo compulsório (que nunca vai ser devol­
duz na liberdade de mercado e na soberania do con­
de vez em quando mandam raios e trovões sobre a vido), nós tivemos uma nova rodada de passar o
sumidor". sociedade, ao passo que as democracias estabeleci­

Mais adiante, Amaury Temporal falou em esta­ chapéu — disse Temporal.
das, sedimentadas, imaginam o governo como o re­ Para o orador o déficit público e um dos maiores
dos democráticos, autocráticos, autoritários e pa­
alizador de metas e objetivos desejados pela socie­ causadores da inflação e não os empresários.

ternalistas, como foi o caso do governo ditatorial de dade.

Getúlio Vargas. E explicou: O orador disse, ainda, que o brasileiro é um indi­ Referindo-se à Comissão de Sistematização

— As nossas tradições sócio-culturais estào na presidida pelo constituinte Bernardo Cabral, o
vidualista e nào se dispõe a participar da sociedade
contra-máo da democracia, porque, como já foi dito palestrante considerou que, "visando o presente, e
organizada, que possa juntar interesses legítimos
uma Constituição de farol baixo, não tem farol alto,
na defesa de seus próprios interesses:
pior ainda, é uma Constituição que promete a uto­

— Brasileiro não vai nem a reunião de condomí­
pia, promete o bem-estar social instantâneo e. evi­
nio e. por isso, as praxes democráticas ficam muito
dentemente, é uma Constituição divorciada da rea­

difíceis — comparou o empresário.
lidade brasileira".
Ele considerou as TCs um assunto sumamente
Prosseguindo sua palestra, Amaury Temporal
importante, por ser indispensável ao desenvolvi­
condenou, como um todo, o projeto de Bernardo
mento económico de um pais. Lembrou que em Cabral, para afirmar, mais adiante, que "os brasilei­

passado recente recursos do setor (FNT) foram des­
ros desejam um Brasil desenvolvido. Nós queremos

viados para uma caixa única do governo "para cobrir abandonar o Terceiro Mundo e todas as suas condi­

buracos" e o fato dessa ocorrência demonstrou que cionantes de miséria, de subdesenvolvimento t

o setor não foi capaz de se organizar em defesa de
uma agressão para todos nós, privilegiados da eh e

seus interesses de forma adequada e nào podia fa­
nacional, convivermos com a miséria da maiorra es­
zer porque não tinha massa crítica.
magadora do povo brasileiro". E acrescentou para

— O processo democrático se faz por alianças finalizar:

— disse o conferencista — e uma das coisas extra­ ;— Nós temos que crescer com eficiência e ef'

ordinárias que está ocorrendo hoje em dia é a idéia cácia, mas também temos que abandonar postura-

que está se formando: a aliança entre o capital e o xenófobas, adicionando o ingrediente da poupanç

trabalho contra o poder imperial do governo. externa à poupança interna e sermos rea'men

Amaury Temporal discorda que os empresários mais participantes de uma economia crescenie-

sejam responsáveis pela inflação, lembrando que o
mente internacionalizada. r
Plano Cruzado I representou apenas o congela­ Por fim, Amaury Temporal falou sobre a cri v*

mento das demandas sobre a renda nacional em de uma Associação de Usuários de Telecomuni

que salários e preços estariam congelados. "Antes Ções, uma entidade que seria boa paraosetor. f*

Conferencista Amaury Temporal, PR da Confe­ do Plano entrar em vigor o governo já havia aumen­ que se é bom para os usuários é também bom pa -

deração das Associações Comerciais do Brasil. tado a carga fiscal de uma maneira brutal". Brasil".