Page 45 - Telebrasil - Março/Abril 1986
P. 45
um exemplo real de que a indústria brasileira Gerente de Planejamento e Produtos da empre
deve estar ativamente engajada no desenvolvi sa, se posicionou quanto ao tema proposto em
mento de tecnologia de ponta genuinamente Campinas.
nacional. - Com relação ao perfil da empresa, a Cobra
No desenvolvimento da fibra monomodo, começou em 1964 numa associação com a Di-
por exemplo, a ABC teve participação paralela e gibrás, a Ferranti inglesa, e a E.E Equipamen
fundamental ao trabalho do CPqD, para alcan tos Eletrônicos, transferindo tecnologia do com
çar qualidade internacional. O mundo não quer putador Argo 700. Em 77, mudou sua composi
mais comprar fibras multimodo e a fabricação ção acionária com a introdução de bancos priva
da monomodo, no Brasil, vem equipara-lo à dos e estatais no seu capital, e passou a buscar
evolução da tecnologia mundial. Caracterizada um equipamento mais adequado à necessidade
por enlaces longos, de media e longa distâncias, do mercado nacional.
a fibra monomodo ainda conta com a vantagem O Argo 700 servia ao mercado de controle de
de operar com grandes velocidades de transmis processos. A decisão sobre a sua produção obe
são de dados. deceu muito mais a uma necessidade estraté
- A realidade hoje nos EUA e a implantação gica da Marinha. Por isso, essa primeira trans
do sistema de alta velocidade, enlaces longos ferência de tecnologia não representou muito do equipamentos para comunicação de dados -
de 140 Mbits, 1,3 Gbytes, ou 2 a 8 mil canais ponto de vista de industrialização. 0 compu mais precisamente concentradores O desen
simultâneos CPM. Nossa multimodo têm possi tador era fabricado um a um, sob medida para volvimento de software caracteriza o alto nível
bilidade de transmissão em torno de 34, che cada cliente. do modelo Cobra, capacitado com linguagem de
gando a 140 Mbits. Então, ainda em 86, es - Em 1979, a Cobra lançou de fato o primei programação própria, utilitários e produtos de
tarão sendo aplicados, no Brasil, as monomodos ro produto genuinamente nacional a linha de suporte de nível competitivo no mercado
de 1 Gbyte. A Cobra começou, então, a se preocupar
terminais de transcrição de dados desenvolvida
Delson mostrou ainda, a nível de ilustração, pelo grupo do Serpro que, em 1980, passou a com a independência da origem de mão-de-obra
números sobre as “dramáticas” trocas de enfo fazer parte do quadro diretor da estatal. Depois e tecnologia. Absorveu para seus quadros um
que de sistema microonda para sistema de fibra se consagrou com o lançamento do primeiro grupo que trabalhava na PUC, desenvolvendo
óptica. E concluiu: hardware e software no projeto do primeiro mi
equipamento da linha Cobra 500 Atualmente,
- Planejamento tecnológico deve, acima de a composição acionária da empresa está prati nicomputador nacional. Da Standard veio
tudo, objetivar a demanda da satisfação socio- camente com o BNDES, Caixa Económica, grande parte do pessoal da linha de produção,
econômica do pais. Tecnologia não deve ser um Banco do Brasil, EBB um p o o lde bancos pri toda a parte da engenharia de testes.
fim limitado em si mesmo. Em todos os setores a Cobra conseguiu ai
vados, e um conjunto de acionistas particula
res. Temos atuação comercial em todos os esta cançar um grau de autonomia considerado sa
Cobra dos da Federação. Em dezembro de 85, contá tisfatório. Chegar ao equilíbrio entre quantidade
vamos com 2.775 empregados. e qualidade de mão-de-obra foi a etapa mais
Basicamente baseado no modelo que a Cobra Hoje. na linha de desenvolvimento de hard séria e lenta Mas também aí alcançamos êxito.
vem adotando, analisando as vantagens da polí ware, a Cobra fabrica, desde terminais inteli Em resumo, praticamente o que a Cobra fez foi
tica da estatal para o desenvolvimento de tec gentes, micros, minis esupermims, até equipa atendera um comunicado da SEI para desenvol
nologia nacional, Anna M aria Machado, mentos de automação bancária, passando por ver tecnologia de ponta genuinamente nacional.
Tendo que decidir entre bancara transferèn
cia de tecnologia e procurar um parceiro no ex
terior ou desenvolver supermims de 32 bits, a
ESTIMULAR AS EMPRESAS A AUMENTAREM SUA
CAPACITACÀO TECNOLÓGICA Cobra optou por efetuar as duas coisas em con
junto.
- Como modelo Cobra, nós podemos sumari-
Em Como
zar a prioridade no desenvolvimento próprio, m
Desenvolvimento de novos produtos Dando maior autonomia às empresas dependente de buscar tecnologia no próprio
Permitindo o beneficiamento com o resul país ou no exterior. O importante é dotar o equi
Melhoria de produtos desenvolvidos por tado dos desenvolvimentos tecnológicos pamento de características próprias, aperfei-
outros Estim ulando a existência da infra- çoando-o e adequando-o às características na
estrutura tecnológica necessária: cionais. Daí a importância de determos Um ciclo
Seleção e qualificação de componentes a) recursos humanos completo de todas as atividades de produção
b) desenvolvimento de novas tecnologias dentro da empresa. Temos pessoal capacitado
Melhoria dos processos de produção c) testes de certificação de qualidade para a geração da idéia do produto, avaliação da
d) disponibilidade de componentes demanda de mercado, desenvolvimento de
e) projeto de componentes hardware e software, desenvolvimento de ele
mentos de teste ate chegar ao produto final e
sua industrialização. A adaptação as caracterís
Na opinião da Elebra, nada m ais im portante para um pais alcançar a autonomia tecnológica ticas do mercado, é um diferencial Cobra. A es
do que o dom ínio dos processos de produção. tatal vem sempre procurando absorver e inserir
nos seus projetos tudo aquilo que foi aprovei
tado nas transferências de tecnologia anterio
res.
Anna Maria Machado colocou, ainda, a par
ticipação da Cobra no desenvolvimento de for
necedores:
- Nós temos muita dificuldade de fornece
dores que atendam exatamente às especifica
ções solicitadas pela empresa. Como qualquer
alteração dentro do que foi solicitado causa um
impacto muito grande para nós, uma vez que a
reposição das peças obriga o replanejamento de
toda a linha, nós procuramos atuar diretamente
com o fornecedor. Pesquisamos, montamos um
protótipo e deixamos a encargo dos quase 300
fornecedores, a produção em escala industrial
Anna Maria Machado, da Cobra. José Ellis Ripper Filho, da Elebra Telecom. dos componentes.