Page 15 - Telebrasil - Julho/Agosto 1984
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e não diferencia entre grandes e peque banqueiros e em presários e são os prin vamos tomando poupanças externas
nas empresas. Mesmo para o caso das cipais assuntos de m anchetes de jornais. para resolver nossos problemas”.
estatais, estas devem pagar o que o mer Um a crise cuja solução global não divi — A tese adotada até 79 foi a do gra-
cado de trabalho exige, levando porém samos ainda como um todo — afirmou dualismo — era preferível continuar in
em conta que o tipo de emprego que Galvêas. vestindo e nos prepararmos para melho
oferecem é mais estável e com um maior rar a balança comercial. E quase deu
componente de poder, representando A pior crise do Brasil certo, ainda que exageramos um pouco
um salário invisível. em certas importações. Passamos de im
*
O senador classificou o modelo econô — E no quadro das trocas internacio portador a exportador de papel e celulo
mico do Brasil, como o de intervenção nais que o Brasil ficou substancial se, e de produtos siderúrgicos, e equili
dirigida, porque na realidade não se mente mais pobre, com seu pior ano em bramos nosso intercâmbio em termos de
acredita nas forças do mercado. As fór 82, porque recebeu menos por quanti bens de capital. O golpe brutal da taxa
mulas de reajuste salarial, de desvalori dade exportada, pagou mais juros por de juros, em 79, demonstrou, porém, ser
zação cambial, o tabelamento da taxa de suas importações, teve seus investimen essa pior vilão do que o petróleo, porque
juros e dos preços revogam a lei da tos externos diminuídos (o investidor fora de nosso controle — afirmou Gal
oferta e da procura e impõem-se uma prefere juros ao retorno dos projetos), vêas.
mudança fundamental da política eco caiu o preço de seus produtos primários — E ste é um problem a ex trem a
nômica. (diminuiu a procura e os estoques inter- mente difícil — reconheceu — e depende
dos Estados Unidos. No entanto, eles se
Vilões internacionais defendem argumentando que não existe
uma correlação evidente entre o déficit
Baseado num trabalho de 208 pági público americano e o aumento interna
nas, como fez questão de destacar, o Mi cional de juros.
nistro da Fazenda Ernane Galvêas, que
freqüenta o auditório da ESG há 17 anos A atual estatística
consecutivos, disse que o período bri
lhante de um quarto de século de pros A partir de 1982, com o fechamento
peridade m undial que sucedeu à 2." da porta de recursos externos para sus
Grande Guerra foi interrompido em ou tentar nossa balança de pagamentos,
tubro de 73 pelo problema político do passou-se a uma política que Galvêas
Oriente Médio. chamou de "gradualismo acelerado”,
como alternativa para não suspender os
Numa profusão de 47 quadros esta
tísticos, o Ministro procurou demons pagamentos dos juros aos credores in
ternacionais ou moratória. Decidiu-se
trar que a origem de nossas mazelas cortar as pressões nas importações cor
foram causadas pela conjuntura inter tando projetos com três admitidas exce
nacional e destacou como grandes ções: Petrobrás (para aum entar a pro
Vilões da última década" o preço do bar dução de petróleo); Pro-Álcool e Carajás
ril do petróleo, que quadruplicou de pre (com pagamentos via minério).
ço em 74 e teve nova escalada "brutal” Ressaltando a coragem do Governo
em 79 e o choque das taxas de juros que em adotar um programa de exportações
passaram a se elevar de 79 para cá.
para obter um superávit na balança co
A crise daí decorrente dividiu o mercial, Galvêas mostrou que os incen
mundo em três grandes grupos: os ex G A L V Ê A S tivos permitiram passar de um déficit
portadores de petróleo (com um superá de 2,8 bilhões de dólares em 79/80 para
vit inicialmente fabuloso em sua balan um superávit de 6,5 bilhões em 83. "E o
ça comercial e agora estabilizado), os in "O golpe brutal da taxa processo tem que continuar” — acres
dustrializados (que passado o l.° im de juros demonstrou centou. 'Ternos que obter 9 bilhões de
pacto reajustaram suas economias) e os superávit em 84 e mais 10 bilhões em
importadores de petróleo (e tomadores ser para nós pior 85. Esta é a perspectiva de sairmos da
de empréstimos), como o Brasil. vilão do que o choque crise, administrando a carteira de nossa
— Se nos anos que sucederam o pri do petróleo, porque dívida”.
meiro grande aumento do petróleo, o fora de nosso controle” — Demos resposta à crise fundamen
mundo conseguiu uma acomodação, tal tal do problema energético através de
não aconteceu após 79. Sinais de uma mudanças estru tu rais — continuou
grande recessão apareceram: firmas fe Galvêas. Resta a questão dos juros, mas
charam, bancos quebraram (mesmo em isto é uma questão de briga. Brigar com
países desenvolvidos), a Polônia se de nacionais) e seus parceiros de mercado os bancos oficiais, com as instituições fi
clarou insolvente, em meados de 82 a na África e América Latina tiveram sua nanceiras irrternacionais e com os gran
Argentina suspendeu o pagamento dos capacidade de compra diminuída em des países industrializados, que têm
juros (um dos aspectos da guerra das conseqüência da valorização artificial grande responsabilidade desta crise.
Malvinas) e o México pediu moratória do dólar. E se a elevação do preço do pe Mesmo reconhecendo que a inflação
de 90 dias. Em setembro de 82, na reu tróleo fez o Brasil perder 28 bilhões de tomou um curso anormal, Galvêas cul
nião do FMI, em Toronto, instalou-se a dólares entre 79 e 83, a elevação dos pou a indexação da economia, a desvalo
crise internacional — lembrou Galvêas. juros gastou mais de 22 bilhões de dóla rização cambial e as catástrofes da na
Visivelmente emocionado (é freqüenta- res de 79 a 84 — frisou o Ministro da Fa tureza como responsáveis pela crise
dor de reuniões internacionais) prosse zenda. atual. Para ele, a saída é visível, pois já
guiu: Sempre munido de estatísticas, lem fizemos mudanças de estrutura, uma tô
— O nome da Crise Mundial é hoje a brou, com certa nostalgia, que até 1979 nica de argumentação governamental
Dívida Externa dos países subdesenvol o PNB continuou crescendo e f'o país in necessária, o que já estaria sendo reco
vidos, que cresceu de US$ 78 bilhões em diferente à crise mundial era uma ilha nhecida, segundo o M inistro da Fa
77 para os 800 bilhões de dólares atuais. de prosperidade”. Reconheceu, todavia, zenda, pelos nossos credores internacio
E é isto que hoje preocupa governantes, que "a crise estava latente porque está nais. Agora é observar e esperar. t