Page 14 - Telebrasil - Julho/Agosto 1984

trializados. A segunda favoreceu nossas
importações num momento em que a
economia mundial estava se recu­
perando. E os resultados aí estão:
— O déficit em contas correntes do
Brasil de 14.7 bilhões de dólares (5% do
PNB), em 82. caiu para 2,5% do PNB,
em 83, e deverá cair em 84 para 1,6% do
PNB íuma situação equivalente ao
milagre” do início dos anos 70).
Quanto ao ajustamento do perfil
energético — considerado fundamental
— o petróleo importado, no total do con­
sumo do país, caiu de 80%;, em 79, para
40% em 84. Hoje consomem-se 14%- me­
nos energia do que há cinco anos para a
mesma unidade de produto. E as causas
foram explicadas entusiasticamente
por Delfim: "A produção interna passou
de 150 mil barris, em 79, para 500 mil
barris diários (hoje são 470 mil) espera­
dos até o fim do ano; e aprendemos a con­
sumir ainda que pela imposição de pre­
ços — reconhecido pelo próprio como
"bárbaros”.
Sobre o setor público, disse o minis­
tro que precisa retornar a um "tamanho
adequado", mesmo depois do esforço,
que considerou lento e precário, de redu­
ção de 521 para 374 empresas. O déficit
público caiu para 2,6%, em 83, graças a
compressão dos salários e das despesas
Mas também defendeu que nem todo
projeto pode ser abandonado, principal-
mente quando faltam apenas 5 ou 10%
para seu término e assim passem a
gerar retorno.
Dentre diversos pontos que o minis­
tro destacou como importantes ou fun­
dam entais situou-se a ênfase dada,
agora, na captação de recursos através
do Imposto de Renda - considerado so­
cialmente mais justo. Em 73 represen­
tava 29% da arrecadação tributária e
este ano passou a 55%. Os ganhos de ca­
pital contribuem com 79% do imposto o
inclui 13% de tributos originados de lu­
cros financeiros.
A estrutura produtiva
O processo produt ivo
indústria — sofreu o impacto da crise
externa. O sucesso da agricultura não
terá sido dos melhores, mas o controle
do preços foi abolido (excessão do óleo de
soja), os subsídios eliminados e procu-
rou-se "ligar" o setor às exportações.
Houve pequeno crescimento nos últi­
mos anos, ainda que condicionado às en­
chentes, seca e perdas de safras.
O setor industrial foi, segundo Del­
fim, o que mais sofreu as conseqúências
da elevação das taxas de juros e afir­
mou,, para surpresa de muitos, que o
Pro-Alcool contribuiu para manter alto
o nível da produção da indústria auto­
mobilística — uma indústria de enorme
poder multiplicador. A recuperação do
setor industrial, após a queda em 82 e
83, é lenta, mas espero que seja dura­
doura, porque hoje está na direção cor­
reta e está sendo puxada pelo setor ex­ plicar suas causas: resíduos de todos os
terno”. ajustes estruturais efetuados. O Minis­
tro lembrou que os preços começaram a
Inflação cair antes de 83, mas recrudesceram
com a necessidade de nova desvaloriza­
Reconheceu o Ministro Delfim Netto ção cambial e da frustração das safras.
que as mudanças de estrutura que reali­ Os preços agrícolas aumentaram em
zou, sempre se operam com sacrifícios 350% no ano passado e os industriais
imensos e dramáticos, como os da queda 190%. Após o diagnóstico despreendido
do nível de emprego e do aumento da in­ de um autêntico tecnocrata, Delfim re­
flação. Mas ninguém passou impune ao ceitou o remédio para a queda da in­
processo do ajuste interno às novas con­ flação:
— as tensões inflacionárias devido
dições do mercado internacional — aos reajustes estruturais estão pratica­
mesmo os países do Terceiro Mqndo com mente absorvidas pela economia e a
independência energética. política monetária terá que ser restrin­
O PIB brasileiro cresceu de 6,7% em gida para baixar o ritmo da elevação dos
80; caiu de 1,9% em 81; teve pequeno preços de um nível "indecente” de 220%
crescimento em 82; decresceu de 3,3% para um nível "não menos indecente” de
150% ao ano — disse com uma ponta de
humor-negro.
Mas nem tudo está perdido. Delfim
mostrou um dos hipotéticos modelos
preparados pelo FMI (existem dezenas
desses modelos), nos quais os índices do
serviço da divida sobre as importações e
da dívida sobre o PIB, que são os indica­
dores que mais interessam o credor es­
trangeiro, estão melhorando no caso do
Brasil.
A mensagem final do conferencista: o
Brasil mudou sua estrutura nos setores
energético, publico e produtivo para re­
solver o problema externo. Vamos agora
partir para a solução do equilíbrio in­
terno.
Entrevista à parte
Como um dos participantes do ciclo
de palestras sobre a economia, realizada
em junho na Escola Superior de Guerra,
o Senador Roberto Campos concedeu,
D E L F I M após sua conferência, uma rápida entre­
vista coletiva à imprensa. Na ocasião,
ele afirmou que o programa de ajusta­
"As mudanças de estrutura mento acordado com o FMI para o resta­
belecimento da economia chegou tarde
trazem sacrifícios demais e que seu resultado sobre a infla­
imensos e dramáticos ção está sendo lento devido às expectati­
como a queda do vas da sociedade que ainda alimenta du­
nivel de emprego e vidas de sua eficácia.
agricultura e Para o Senador do PDS/MT, a elimu
o aumento dos preços” nação de subvenções (que apresentam
custos que não eram percebidos antes) e
a persistência dos resíduos de inflação
corretiva (reajustes defensivos de pre­
em 83 e terá um modesto crescimento ços) são outros fatores que dificultam a
em 84 — um quadro desalentador se re­ queda da inflação. Não crê porém que a
lembrados os bons tempos do "milagre”. desindexação da economia possa ser fei­
Rebatendo fortemente os críticos que ta por decreto, porque transformaria
apelidaram o modelo atual de exporta­ apenas a indexação (ou reajustes for­
dor — dando um recado com endereço mais) em indexação informal, pela ex­
certo — Delfim enfatizou que para cada pectativa dos agentes econômicos frente
dólar exportado geram-se mais dólares aos rumos da economia, que permane­
de renda distribuídos internamente. Se­ ceria a mesma.
gundo ele, o resto é intriga de quem não Não descartando a possibilidade de
entende do assunto. "Pela primeira vez ser um futuro ministro da área econô­
estamos crescendo sem colidir com nos­ mica, caso o deputado Paulo Maluf se
so equilíbrio externo". eleja presidente, Roberto Campos é fa­
Para quem desejava ouvir ou saber vorável à livre negociação salarial,
sobre o fim da inflação, Delfim não emi­ visto que o emprego de fórmulas de rea­
tiu muita esperança, limitando-se a ex­ justamento é ineficaz como instrumento