Page 22 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1983
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petitividade de nossos produtos em tais
^ mo é o caso do Brasil). Após realizarmos es de-obra, dirão alguns. Não mais. Uma aná países.
ta avaliação, concluímos que somente cer lise detalhada da incidência sobre o preço de No nosso setor de telecomunicações o
ca de 20% dos equipamentos de comutação venda dos nossos custos de pessoal mostrará maior dos obstáculos é o que se refere à exi
e 30% dos equipamentos de transmissão es que eles já estão atingindo padrões interna gência de produtos da mais moderna tecno
tão disponíveis para a exportação. (Portan cionais. O Brasil não pertence mais à cons logia. Salvo raras exceções, os produtos aqui
to, 5 milhões de terminais telefônicos e 1 mi telação de países de mão-de-obra barata. fabricados são de uma geração que poderia
lhão e 200 mil canais-ponta). ser chamada de clássica, suficientemente
Calculando a preços médios internacio- modernos e amplamente adequados às ne
13 r nais correntes, os volumes disponíveis al- cessidades do país. Em contrapartida, os ín
J cançam o valor de US$ 2 bilhões e 250 mi O mercado externo dices de nacionalização são bastante altos,
lhões. Se acrescentarmos equipamentos de tendo sido as importações do setor substan
rádio, equipamentos de força e acessórios disponível é apenas 20% cialmente reduzidas durante os últimos
talvez o total possa ser estimado em 2,5 bi do mercado mundial anos. A possibilidade de, a curto prazo, es
lhões de dólares anuais. tarmos fabricando somente produtos da
Uma última palavra de precaução. Nem mais recente e sofisticada técnica carece de
todo o mercado está disponível para qual fundamento realista. Nossas possibilidades
quer exportador, pois, assim como aconte Em resumo, sem levar em conta outros de exportação em livre competição se limi
ce no Brasil, muitos sistemas são vendidos fatores negativos que exporemos mais tam, portanto, a alguns mercados que reco
inicialmente subequipados. Isto significa adiante, apesar da existência de um apreciá nhecem a sensatez de introduzir equipamen
que as expansões futuras devem ser neces vel mercado externo nossas indústrias têm tos de técnica convencional ou a produtos
sariamente feitas na mesma técnica, o que que competir, no cenário internacional, com que, a exemplo dos “Bandeirantes” da Em-
cria mercados cativos para os fornecedores pelo menos 18 empresas tradicionais, em
originais. Por falta de dados disponíveis não circunstâncias tais que a oferta total é supe braer, encontram um “gap” de mercado que
pudemos avaliar a redução do mercado que rior à demanda, e em que os concorrentes foi esquecido pelos competidores. Uma pos
sibilidade adicional têm as empresas ligadas
daí resulta. partem de bases de custos sensivelmente in às multinacionais, pela exportação através
feriores às nossas, resultantes principalmen de suas associadas no estrangeiro. Voltare
A Estrutura da Competição te da melhor economia de escala e dos cus mos a este assunto mais adiante.
tos inferiores dos insumos.
Como tem sido atendida a demanda de Tudo isto, inserido em um cenário mun Cabe também mencionar que o atendi
exportação? Excetuando a Western Eletric, dial recessivo, dentro do qual todos os paí mento a especificações diferentes gera cus
que tem suprido somente o mercado ame ses querem exportar o máximo e importar tos de desenvolvimento adaptativo para ade
ricano, identificamos 18 empresas indus o mínimo, contribui substancialmente para quar nossos produtos às exigências dos
triais de grande e médio porte que disputam dificultar um bom desempenho de nossas clientes. Estas despesas se adicionam ao
o mercado de equipamentos de comutação. exportações. custo do produto, mas não podem ser repas
A produção anual, em 1980, atingiu (incluin sadas ao preço de venda. Em um caso ex
do Western Eletric e as empresas do bloco Comportamentos Peculiares tremo, que é do nosso conhecimento, o au
oriental) o número de 27,5 milhões de ter dos Clientes mento de custo do produto chegou a atingir
minais, ou seja, 10% acima das necessida 10% do valor de venda. Tais incrementos de
des do mercado. Estima-se que a capacida Já mostramos que os mercados externos custo são dificilmente suportáveis diante do
de total é ainda máior, o que indica que mui disponíveis para a exportação constituem quadro desfavorável que já vivemos no mer
tas ou todas trabalham com capacidade ocio cerca de 20% do mercado mundial total. On cado interno.
sa. Daí resulta unia acirrada competição no de se situam tais mercados? Uma vez que já As demais dificuldades acima menciona
mercado internacional. das (falta de planejamento, de infra-estru
excluímos os países desenvolvidos e alguns
daqueles em vias de desenvolvimento, res tura, de manutenção e de recursos) podem
tam países, salvo algumas exceções, perten ser parcialmente compensadas pela colabo
O mercado de TCs centes ao terceiro mundo. Destes, cerca de ração do governo, como mostraremos mais
tarde.
25 têm alguma demanda significativa (supe
a alcançar é de dois bilhões rior a 3.000 terminais por ano).
e meio de dólares O comportamento de um grande grupo A Influência dos Descompassos
destes países apresenta semelhanças mar Cambiais
cantes. Para citar alguns traços comuns:
1. Ausência de um planejamento siste
As dezoito maiores empresas que com mático para atingir seus objetivos de E bem conhecido o fato de que uma si
petem conosco produziram, neste mesmo telecomunicações. tuação de supervalorização do cruzeiro le
ano, cerca de 18 milhões de terminais tele 2. Adoção, por razões históricas ou por va a dificuldades sérias na obtenção de um
fônicos (mercado doméstico mais exporta capricho, de especificações técnicas e de cri preço de venda competitivo no estrangeiro.
ção). Das dezoito, dozé produziram no ano térios para aquisição que divergem das ado Não sendo matéria da*nossa especialidade,
800.000 terminais ou mais, e cinco produ tadas pela maioria dos países desenvolvidos não vamos nos deter no assunto. Queremos
ziram 1 milhão de terminais ou mais. Se con e, também, daquelas adotadas pelo Brasil. mencionar que, desde janeiro de 1980 até a
siderarmos que todos os fornecedores des 3. Inadequação ou mesmo carência to última maxidesvalorização, o cruzeiro tem
tes equipamentos no Brasil têm fornecido, tal de sistemas de infra-estrutura básicos ou estado sempre supervalorizado, tendo che
em conjunto, no máximo400.000 terminais especializados, bem como de organizações gado ao máximo de 32% em março de 1981,
por ano, fica evidente a nossa desvantagem adequadas de operação e manutenção. a um mínimo de 20% em dezembro de 81,
em economia de escala. 4. Desejo de adquirir, a qualquer preço, subindo novamente a cerca de 25% em ju
Cabe acrescentar que o custo dos insu- o que há de mais moderno e sofisticado em nho, tudo com relação ao dólar americano.
mos necessários à fabricação é sensivelmen matéria de equipamentos de telecomunica Após a maxi voltamos a uma situação favo
te inferior nos países industrializados. Em ções, sejam estes apropriados ou não para rável, mas já se notam leves tendências de
alguns casos, partes e peças custam nestes o ambiente e circunstâncias locais. Poae-se inversão. (Ver gráfico 1).
países a metade e até a terça parte do que afirmar, sem sombra de dúvida, que, quan
custam no Brasil. Seria injusto e mesmo le to mais subdesenvolvido for um país, mais
viano atribuir a responsabilidade pelos pre exigente será a este respeito. O Desempenho do Setor
ços dos componentes aos fabricantes nacio 5. Em muitos casos, carência parcial ou nos Ültimos Anos
nais, que, na sua estrutura de fabricação, so total de recursos para financiar a expansão
frem dos mesmos problemas que nós. Co dos sistemas, levando a uma grande depen As dificuldades que acabamos de descre
mo os equipamentos telefônicos são muito dência de financiamentos externos. ver, quanto à inadequação de nossos pi o
intensivos em materiais, esta influência é Estas circunstâncias criam problemas tos e nossa falta de competitividade com
também considerável. Mas parcialmente adicionais aos exportadores e influem em ciai, constituem uma séria limitação as n ^
compensada pelos custos menores de mão- maior ou menor grau sobre a possível com sas possibilidades de exportação.
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