Page 23 - Telebrasil - Março/Abril 1983

I m p o r t a ç õ e s 1 9 8 3
A L T E R A Ç Ã O N A S
A indústria de TCs foi colhida de surpresa
com a publicação pela Cacex de uma lista de
produtos (insumos para telecomunicações),
cuja importação passou a ser proibida. Com a
finalidade de analisar a situação reuniram-
se, em mesa-redonda, no escritório da Tele-
brasil, em São Paulo, Delson Fontes SifTert,
diretor do Grupo Setorial de TCs da Associa­
ção Brasileira de Indústrias Eletro-Eletrôni-
cas (Abinee); Luiz Carlos Bahiana, coordena­
dor da Área de Telecomunicações da mesma
entidade; José Raul Allegretti, diretor da
Revista Telebrasil; e Alexandre Polesi, da
Sucursal do "Jornal do Brasil”, em São Pau­
lo. As perguntas foram dirigidas aos Srs.
Bahiana e SifTert.
l.a pergunta — Como a indústria reagiu à
lista publicada pela Cacex proibindo a im­
portação de produtos de TCs?
Bahiana — E a segunda vez que a indústria
é colhida de surpresa por medidas de restri­
ções à importação resultantes de situações
conjunturais. Na primeira, em 1975, houve
pelo menos aviso prévio. Em junho daquele
ano foi determinado um depósito compul­
sório de 50% do valor da importação, retido
por um ano, sem qualquer remuneração. Es­
sa medida, que funcionou com uma taxação
adicional, colocou a indústria em pé de
guerra.
Em dezembro de 1975, o depósito compul­
sório foi aumentado para 100%, além de as
alíquotas sofrerem várias alterações. As con-
seqüências foram graves para a indústria,
que, durante 5 anos, trabalhou para conse­
guir a nacionalização de seus produtos. Em
novembro último, poucos foram avisados
que, a partir daquele mês, uma lista con­
tendo centenas de itens, teriam suas impor­
tações suspensas, além de que as importa­
ções do setor privado serão reduzidas em
22%, em 83, em relação a 82.
Nosso problema é que não há tempo de re­
ação para substituir centenas de peças, o que
é uma tarefa gigantesca. A simples nacio­
nalização de um item requer desenho de fa­
bricação a três fomededores para fazerem a
proposta, protótipo, análise, rejeição, cabeça
de série, etc. A Cacex talvez nos dê seis meses
de prazo, mas é muito pouco.
Período
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
Fonte: Geicom
Em 1982, as importações chegarão no máximo a 80 milhões de dólares e as necessidades mínimas das indústrias podem-
ser estimadas em 75 milhões de dólares.
R E G R A S
2.* pergunta — Qual seria a alternativa de mento tranqüilo, equilibrado com a indús­
solução? tria, e um primeiro esforço já está se desen­
Bahiana — Bastaria que o governo nego­ volvendo nesse sentido. A Abinee se encarre­
ciasse com a indústria uma redução do volu­ gará de formalizar as consultas, por empre­
me que fosse possível, deixando a cargo desta sa, para otimizar o resultado, analisando as
a seleção dos itens. Os componentes da lista possíveis cotas de sacrifício. A lista de proibi­
dependem do tempo e da possibilidade de ções seria então proposta pela Associação.
substituição.
4." pergunta — Qual a situação atual do se­
tor de TCs?
Bahiana — A lista de mateiral suspenso já
está causando prejuízo. Como o ciclo tecnoló­
gico em telecomunicações é de um a três
unos, quando as regras mudam há uma con­
sequente (jueda na produção.
5S pergunta — E como tem sido a história do
setor?
Siffert — O setor de TCs está sendo perma­
nentemente punido e sem razão. Essas redu­
ções estão atingindo um setor que progressi­
vamente vem diminuindo seu nível de ativi­
José Raul Allegretti, diretor da Telebrasil. dade. Estão batendo em doente. Segundo da­
dos da Abinee a produção caiu 12%, em 81,
em relação a 80, e 8%, em 82, em relação a
1981. Já foram realizadas todas as nacionali­
zações economicamente viáveis. Daqui para
frente faremos as anti-economias, mas seis
meses são insuficientes para efetivá-las.
6. "p e r g u n t a — Proporcionalmente a seu fa-
t u r a m e n t o a i n d ú s t r i a d e T C s i m p o r t a
muito?
SifTert — O faturamento da indústria de tele­
comunicações em 1982 foi de US$ 800 mi­
lhões, com importações da ordem de US$ 80
milhões. Porém, a indústria de informática
produz de 400 a 500 milhões de dólares e im­
Luiz Carlos Bahiana, coordenador da área porta US$ 200 milhões. É preciso lembrar
setorial de Telecomunicações da Abinee. também que TCs representam, em importa­
ções, apenas 10% do montante do setor pri­
vado nacional.
3.a pergunta — Qual a redução prevista em
valor? 7 . a p e r g u n t a — Qual tem sido a experiência
Bahiana — Para o setor privado está pre­ da Abinee com a Cacex?
visto reduzir de 7 para 5 bilhões de dólares. A Siffert — A experiência tem sido boa, e a
Abinee acha que 22% de redução é demais. Abinee já fez para a Cacex a lista de similari­
Isto porque telecomunicações são infra-es­ dade de produtos nacionais. Mas a lista atual
truturas para viabilizar projetos agrícolas e foi feita pela Cacex sem consulta à Abinee e
de mineração, que vão ajudar à exportação. O as aproximadamente 50 empresas de TCs es­
setor de TCs da Abinee pleiteia um entendi­ tão com centenas de itens a reprogramar.
Seria melhor que houvesse diálogo, evitando
prejuízos iguais aos que ocorreram em 1975.
BALANÇA COMERCIAL As idéias da Abinee para negociar com a Ca­
Setor de Telecomunicações (Empresas Industriais) cex são:
1) Tentar uma contraproposta ao percentual
Exportações Importações Balança Comercial de 22%.
2) Manter a relação em suspenso, ficando a
— ‘ 249,0 (249,0)
Abinee de apresentar nova relação, resul­
1,5 161,0 (159,5)
tado do consenso da indústria.
30,7 117,0 ( 86,3)
24,6 68,0 ( 43,4)
8 . “ p e r g u n t a — E qual é a posição da Tele-
35,1 66,5 ( 31,4)
brás no caso?
33,0 77,9 ( 44,9)
31,5 88,4 ( 56.9) Siffert — Procuramos o diretor da Telebrás,
que entendeu nosso problema. A Diretoria de
Valores: Milhões de Dólares Assuntos Industriais tentará ajudar junto à
Cacex e está informando às suas subsidiárias
para serem mais flexíveis quanto a multas,
perdas de reajuste, etc.