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TB— Em que setores atua a Internacional * se levada a ter mais uma empresa estatal,
de Engenharia? | num momento em que o Governo Federal
5 procura reduzir a sua participação como
SQ — A International é uma empresa de . empresário, como gestor de recursos no
engenharia dos setores de gerenciamento o campo industrial.
e detalhamento. Ba gerencia ou simples
mente faz o projeto; a execução física, seja TB — Pela sua resposta, o Sr. é sempre fa
dos equipamentos ou dos serviços, é de vorável à privatização?
terceiros. Nossas atividades vão desde
Carajás, onde fizemos boa parte dos estu SQ — Inteiramente. Há setores que, tradi-
dos conceituais, à Vale Sul, inteiramente tionalmente, estão ligados à segurança
projetada e gerenciada pela International; nacional e quanto a estes, eu não posso
temos atividades no campo nuclear, prin- generalizar. Agora, não há razão nenhu
tipalmente no campo de enriquecimento ma para o Estado participar da indústria
de urânio; no campo de hidroeletricidade, de bens de capital, se há um setor atuante
aí ligados a projetos de subestações, a sis e ativo no campo industrial. Quer dizer, a
temas de controle, de comunicação, de aceitação da presença do Estado se faz na
telefonia, etc.; temos os setores de petró queles empreendimentos que sejam tipi
leo e petroquímica, como as plataformas camente ligados a segurança nacional, ou
de Garoupa e Enchova; temos serviços no aqueles outros que envolvem tais mar
campo de comunicações para a Életro- gens de risco ou taxas de retomo de capital
brás, para a Telebrás, para os vários siste tão baixas que, simplesmente, o capital
mas telefônicos do Brasil. Estamos partici privado não pode ser mobilizado. Com
pando, agora, da grande concorrência do Q uintela: "A gran de vantagem exceção destes, é indiscutivelmente mais
satélite doméstico, onde estamos associa d o B ra silem relação a outros eficiente uma economia sob controle pri
dos aos franceses. Essa é que é a abran países, é o fato d e ser um p aís vado, porque descentralizada, e o risco
gência da empresa, formada por cerca de em construção: sign ifica qu e as envolve a necessidade da eficiência, o
1.000 profissionais, com escritórios no oportunidades estão aí, e p or risco obriga ao ganho da produtividade—
Rio, S. Paulo, Belo Horizonte, Salvador, isso é tão im portante qu e o quer dizer, é uma economia muito mais
Porto Alegre, Recife. Agora estam os setor privado esteja na fren te, dinâmica, ressalvando certas estatais
abrindo um escritório em Belém, para p ois é ele qu e está sem pre como Petrobrás, Betrobrás, Telebrás...
atender aos contratos de Carajás.
atrás d e oportunidades novas".
TB — Todas as Brás?
TB— Ao que o Sr. atribui ter sido procura
do para atuar como o executivo do Jari?
SQ — Não, nem todàs as Brás, mas mui
para o Jari. É um projeto em andamento e tas delas, as que exercem uma função em
SQ — Eu sou amigo do Dr. Augusto An que, conceitua Imente, eu acho correto, presarial relevante e que fazem sentido
tunes, que é o acionista majoritário, e sou mas que necessita de muitos ajustes de dentro do mundo moderno, que deixou
membro do Conselho de Administração natureza operacional para tomá-lo não só de ser um mundo absolutamente liberal,
da Caemi, grupo que o Dr. Antunes de do laissez faire. Mas o mundo da econo
dica seus esforços empresariais. Num de rentável mas, principalmente, um ele mia brasileira de hoje está com um grau de
mento de atração e desenvolvimento de
terminado momento o Dr. Antunes me participação estatal acima do possível e
telefonou, dizendo que se havia chegado outros empreendimentos na própria re necessário. Eu acho que as circunstâncias
a um acordo sobre a transação e que havia gião do Jari, quer dizer, na margem es foram levando a mobilização da poupança
necessidade de ser escolhida uma pessoa querda do Amazonas. O Jari é, basica a ser dirigida pelo Estado. Agora mesmo,
que reunisse algumas características: a mente, um grande projeto florestal com no Jari, a grande participação do Banco do
dupla utilização— celulose e madeira cer
primeira é que fosse um empresário, já Brasil deve ser vista não como uma ocor
que o projeto ia ser nacionalizado e rada. Existe uma exploração de caulim rência mas como uma decorrência — o
privatizado; segundo, um empresário que bem sucedida, rentável; existe, potencial- Banco do Brasil participa do Jari como de
não fosse um dos sócios do empreendi mente, o projeto da bauxita refratária, que
não faz parte da Ga. do Jari mas faz parte corrência de um processo histórico que
mento, para que não houvesse nenhuma de um entendimento, uma futura trans colocou na mão do Estado, através de seus
prevalência de um grupo sobre outro; e ferência do Jari para o grupo Antunes; vários agentes, um poder financeiro que a
terceiro, uma pessoa que se desse com os existe o projeto do arroz, que irá a 15.000 inexistência de um mercado de capitais
22 sócios, mas não tivesse ligações de de hectares de arroz irrigado; e existem proje grande, de mecanismos de canalização da
pendência. A motivação destes empre tos de bubalinos e bovinos. O projeto é poupança, teriam colocado na mão do se
sários foi a de não deixar que o projeto fos complexo. Eu costumava brincar e dizer tor privado. Essa grande massa de recur
se abandonado, pois as repercussões in que olhava para o Jari e via tantas facetas sos — 180 milhões de dólares que o Banco
ternacionais seriam seríssimas para o Bra que ele parecia um projeto poliédrico — aporta — nenhum empresário privado
sil — e o outro extremo de não abandonar, hoje cheguei a conclusão que é esférico — poderia aportar. Houve necessidade de
seria estatizar. E foi dentro deste esforço tem um número infinito de facetas. reunir 22para que fossem mobilizados li
de nacionalizar e privatizar o Jari que os milhões de dólares.
acionistas entraram e eu entrei.
T B — Qual o significado que o Sr. dá a na
cionalização do Jari? TB — Como o Sr. vê o campo das TCs no
TB — No momento, já é possível avaliar o momento?
projeto Jari? SQ — A nacionalização, em si, não tem
nada de significativo— o significativo foi a SQ — Eu vejo como usuário e comopresta
SQ — A magnitude amazônica daquele nacionalização com privatização. Eu não dor de serviços. Como usuário, eu náo
projeto é tal que é preciso um certo tempo tenho dúvidas de que havia um desejo na sou mais do que um dos 120 milhões de
para avaliar potencialidades, avaliar os cional de que este projeto fosse nacionali brasileiros que reconhece a evolução es
pontos fracos e os fortes. Eu me atribuí um zado, acho que isto é evidente. A felici pantosa que o Brasil teve—eu mesmo me
prazo variável de seis m eses a um ano dade da solução foi ter nacionalizado via lembro das dificuldades insuperáveis de
para poder dispor de um plano concreto privatização, o que evitou que a região fos- se fazer comunicações entre cidades im¦
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