Page 57 - Telebrasil - Julho/Agosto 1982
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— é que sempre que se fala em aperfeiçoamento
de recursos humanos, pensamos em curso. No
Brasil existe uma visão, mas na verdade muitas
vezes é pura questão de tempo, de treino, de Centro
condicionamento, ou mesmo de vivência. No Escola dê
P.eD.
processo de formação de um gerente, além de
várias outras qualidades, uma componente im
portante é a vivência. Por isso não achamos que
só a escola entre no processo. E a tudo isto vem se
somar um outro aspecto importante, o ciclo esco-
la-empresa-escola em que se passa um certo Pessoal
Próprio
tempo na escola para reciclar-se, um processo
muito pouco adotado no Brasil.
Mais um ponto que gostaríamos de levantar,
Fig. 5 - Esquema de relacionamento
e que no nosso caso é uma preocupação acentua
da, é a parte da humanização. No Ita achamos
que deve haver um equilíbrio entre os ganhos da
recursos humanos; ela tem recursos humanos Toda a informação de um país deve estar ar
tecnologia e os ganhos em tennos de cultura, de
próprios, tem uma competência interna que mazenada de alguma forma, sendo que a mais
filosofia, de espiritualidade. É preciso entender
pode ser usada para solucionar vários problemas importante destas formas é o cérebro humano.
mos porque a tecnologia deve ser serva do ho
em termos da indústria. E tem, também, recur Por isso devemos cuidar, com muito carinho, da
mem e não o homem estar condicionado à tec
sos materiais que, as vezes, o setor industrial não quela tríade professor-escola-aluno. E já que as
nologia.
pode dar-se ao luxo de ter e que na escola, como telecomunicações entram no processo de circula
O problema está na dosagem, porque no nos centro de pesquisas, são válidos. Essa inteiração, ção da informação, o setor tem uma importância
so entender a cultura não pode ser alargada de o uso dessas outras alternativas por parte do se fundamental dentro do processo. E nós sempre
maneira tal que ela vire generalista, perca utili tor industrial é bastante válido e desejável. nos preocupamos em antecipar o atendimento
dade, tome-se uma cultura puramente declama das necessidades do país nesses setores.
tiva para citações, não resolvendo o entendi O ITA e as Telecomunicações
mento fundamental da vida. O problema é de Atualmente estamos planejando a implanta
ção de um curso de engenharia de computação
ajuste da dosagem e a forma é algo que nós ques Enfocando, agora, as telecomunicações, que
tionaremos e cujo caminho certo procuramos, remos mostrar que a nossa preocupação sempre voltado para a capacitação em projeto. No nosso
para fornecer dentro da escola a parcela justa. foi muito grande com o setor e sempre procura caso específico, de um programa aeronáutico, re
Na verdade, a escola exerce um papel acelera mos nos antecipar às necessidades futuras. Uma solvemos o problema da estrutura, mas o que vai
dor na formação do indivíduo e podemos ter al das diretrizes do Ita é a adoção de um currículo lá dentro é uma incógnita. Nós precisamos pro
ternativas de escolha. Há países que preferem só flexível que possa ser ajustado anualmente, con duzir competências para solucionar o que está
fornecer a formação básica e deixar que a prática forme as necessidades. Em termos de telecomu dentro da estrutura, criar um curso específico de
e as empresas forneçam a especialização. O nicações temos uma visão própria e que não é re computação para fazer este atendimento em ter
americano, em geral, dá este tipo de formação. Ele cente. mos nacionais.
normalmente oferece uma formação inicial mais Começaríamos dizendo o seguinte: muitas Para finalizar gostaríamos de deixar algumas
rápida, joga o indivíduo na indústria e depois, decisões são tomadas erroneamente por falta de idéias gerais. Uma boa solução para o entrosa-
dependendo da necessidade, este volta à escola dados mais completos; muitas medidas são to mento, o relacionamento indústria-escola, só
paia a pós-graduação, para aquele retomo à es madas sem que haja a catalogação dos seus resul pode ser alcançado por uma mudança de ati
cola que nós comentamos. * tados e quando elas redundam em fracassos, tude de ambas as partes. É necessário um conhe
No nosso caso, temos formas mixtas: a forma muitas experiências são repetidas porque não foi cimento mais profundo, um estreitamento do re
ção básica fica com a escola, a especialização e o catalogado que elas redundaram em fracasso. E lacionamento. As escolas não podem sofrer um
processo de padronização, porque toda padroni
direcionamento ficam com a indústria, permane quantas vezes são solicitadas as mesmas infor
zação ou sistematização exagerada inibe a criati
cendo dentro da escola uma pequena parcela das mações, por falta de armazenamento convenien
duas últimas. Todas as soluções são válidas, são te? Nós achamos que, em nòsso país, ainda não vidade. Há, talvez, a necessidade do estabeleci
alternativas que podem ser adotadas. Uma es há uma visão da importância da informação — mento de programas conjuntos e garanto que
cola pode se propor a formar indivíduos de altís ela é um parâmetro básico do país, tal como ener muitos dos setores industriais que montaram
simo nível ou de nível médio. Um indivíduo de gia, saúde ou educação. programas conjuntos com a escola ficaram sur
alto nível, no caso da tecnologia, seria um de alta A informação é essencial para a administra presos com a capacidade da escola em atendê-
criatividade; o de nível mais baixo seria um indi ção de qualquer estrutura e o grau de desenvolvi los. A participação efetiva de empresários dentro
víduo para operar na rotina e podemos dizer que mento de um país pode ser medido pela quanti de conselhos de escolas, a participação nas deci
qualquer uma dessas alternativas de formação é dade e pela qualidade e nível de estruturação da sões são itens importantes; outra medida seria o
válida, desde que bem feita. O problema é de es informação nele existente. Na verdade, todo co estabelecimento, pelo setor industrial, de cen
colha. nhecimento de um povo está armazenado sob al tros de pesquisa onde o professor pudesse atuar;
Outro problema de escolha é o esquema de guma forma e a informação (de uma forma uma atitude que tem sido prejudicial à escola é a
relacionamento. Foi mostrado o esquema de re simplificada) tem três fases: coleta, armazena sangria de recursos por parte do setor industrial,
lacionamento do Ita, mas existem várias opções mento e recuperação. Logicamente, todas estas já que é um setor de remuneração mais forte.
de comunicação da escola com a indústria, com o três fases são importantes. No caso da coleta, se Normalmente, quando há uma emergência, a in
mercado. No Ita temos a escola e um centro de quero exercer a gerência de um sistema ou de dústria recorre à escola e a esvazia.
pesquisa e desenvolvimento vinculado à escola e qualquer estrutura, qualquer que seja a dimen Poderíamos dizer que a solução do problema
dotado de pessoal próprio; o pessoal da escola são que ela tenha, preciso ter um perfeito conhe não é única. É até bom que assim seja, que tenha
atua no centro e o centro já está vinculado à em cimento daquele sistema, tenho que ter dados mos uma matiz de soluções. Também dizemos
presa e ao mercado. Existe, assim, um processo precisos. A fase de coleta é que vai especificar o que não existem soluções milagrosas ou salva
de inteiração acelerado. Outros esquemas po sistema. No Brasil, onde temos gosto pela deci doras. Em termos de processo de formação, de
dem ser propostos, mas esse tem funcionado. são centralizada, se não tivermos uma visão mui educação, às vezes tem que se plantar sem a pre
A figura 5 ressalta que a escola não deve ser to clara dos dados daquele sistema, provavel ocupação de nós mesmos colhermos, porque ela
olhada apenas como repositório de formação de mente à decisão vai ser falha. é um processo de germinação lenta. T f