Page 64 - Telebrasil - Julho/Agosto 1981
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M I C R O E L E T R Ô N I C A N O M U N D O
E s e m p r e c o n v e n i e n t e r e l e m b r a r q u e o h o m e m n ã o
t e r i a i d o à L u a , n ã o f o s s e a e x i s t ê n c i a d a
m i c r o e l e t r ô n i c a .
O a r t i g o a n a l i s a o e s f o r ç o e u r o p e u f r e n t e à a c i r r a d a
c o m p e t i ç ã o m u n d i a l n e s s e i m p o r t a n t e s e g m e n t o d a
t e c n o l o g i a d e p o n t a .
A Europa encontra-se sempre em competição tecnológica com
os EUA. Entre 1960 e 1970, fez tentativas no campo de computa
dores e aeronáutico, neste com o lançamento do Concorde. To
das estas tentativas, entretanto, redundaram em fracasso. Nos
últimos cinco anos, o objetivo em mira tem sido a microeletrô
nica, indústria que, apesar de produzir bens de pequeno volu
me físico, apresenta altos riscos financeiros e enormes conse-
qüèncias a níveis nacionais.
Atualmente, este segmento é dominado pelos Estados Uni 23% MERCADO MUNDIAL
DE MICROELETRÔNICA
dos, que controlam 59% do mercado de semicondutores, segui
dos pelo Japão, com 23%.
Como estratégia, os europeus estão auxiliando os produtores lo 18%
cais, promovendo associações e aquisições de empresas, al
terando as tarifas de importação, isto é, lançando o maior pro
grama desde a II Guerra Mundial.
A Alemanha, França, Inglaterra e Itália — praticamente toda a
Comunidade-Européia — planejam investir US$ 1 bilhão. Outra
quantia semelhante será alocada pelos próprios fabricantes lo JAPÃO OUTROS
cais. Porém, dirigentes de corporações pensam que essa ativi
dade apresenta um tempo muito longo de retorno do investi
mento, tendo, inclusive, gerado dificuldades a gigantes como a
GE, a Westinghouse, a Philco e a Silvania. Trata-se de área de A Europa está Confusa
forte competição, com evolução tecnológica acelerada, bem
como necessitada de níveis de investimento muito altos, como Jean-Claude Pelissolo, coordenador de sistemas eletrónicos e de
podemos inferir, pois uma simples linha de produção não fica dados do Ministério da Indústria da França, acha que, sem pro
por menos de US$ 40 milhões. dução doméstica de semicondutores, as indústrias estão cami
nhando no escuro. Procuram os europeus repetir as condições
O Combustível do Progresso que deram origem às indústrias de semicondutores nos EUA e
Japão. Analistas europeus acham que o domínio atual no setor
Os europeus já se conscientizaram de que não podem ficar na dos EUA, se deve à combinação de eventos tais como:
mão de fornecedores estrangeiros, pois uma interrupção no flu
xo de entrega de chips seria desastrosa para sua defesa. O mi — descoberta, em 1940 e 1950, pelos Laboratórios da Bell, de fe
núsculo chip tanto pode viabilizar, quanto destruir, indústrias nômenos da física de estado sólido, base da tecnologia de
vitais necessárias às exportações, tais como máquinas-ferramen semicondutores;
tas, automóveis e conjuntos de TV, pois seus custos caem ao — posterior crescimento das indústrias de computadores, aero
mesmo tempo que aumentam suas performances. As compa espacial e de defesa, criando demanda para componentes
nhias locais de semicondutores produziram somente 16% dos miniaturizados;
US$ 1 1 , 1 bilhões de dólares que representam a produção mun — acesso das indústrias americanas aos fundos governamen
dial do ano passado, dos quais os europeus consumiram 26%. tais e capitais de risco não encontráveis facilmente na Europa
Este déficit se apresenta, em maior profundidade, nos compo
nentes mais avançados, como memórias e microprocessadores. Ian Mackintosh, dirigente da Mackintosh Consultants, da Ingla
Segundo o Dataquest, em 1979 a Europa consumiu US$ 1,6 bi terra, afirma que o governo americano, através de contratos do
lhão em CIs, dos quais só produziu 1/3 e, mesmo assim, pouco Departamento de Defesa, NASA e outros, subsidiou a indústria
competitivos com os de origem americana e japonesa. a um nível médio de USS 55 milhões anuais entre 1958 e 1974
Segundo Christopher Layton, especialista em semicondutores Outro fator importante foi a tendência das empresas a se locali
da Comunidade Européia, um consumidor europeu que obte zarem no Silicon Valley, o que encorajou a constante rotathi-
nha o chip seis meses após seu competidor americano poderá dade de engenheiros, com a conseqüente difusão da tecnologia
ter seu produto final com quase dois anos de atraso. através das indústrias.