Page 17 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1980
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O
a *
V. C . VI
Advogado-Secretario Kxecutivo da
Telebrasil
A Entel S.A., primeira firma nacional criada com o fim exclu- misso, estável, várias firmas aceitaram o contrato.
sivode executai projetos de telecomunicações, era um centro de
convergência de profissionais do setor, não apenas brasileiros, Desta forma, evitaram a perda de tempo com repetidas concor
como também estrangeiros. Entre.as visitas que recebemos do rências e a geração de uma espiral inflacionária decorrente do
exterior, cremos que a de Takeshi Kajii, o mago das telecomu fato de terem as empresas que levar à despesa os custos das pro
nicações do Japão, foi sem dúvida a de maior destaque. postas e/ou dos projetos não aproveitados.
Kajii aqui esteve em 1963. Dissemos-lhe, na ocasião, que tí Mais tarde, tivemos oportunidade de privar com Hisashi Mit-
nhamos no país uma demanda repri suishi, uma das culturas mais ecléticas
mida, a qua dificilmente poderia ser ¦ que já conhecemos, membro da equipe
atendida, face ao irrealismo tarifário, à -------------------- --------------— — — p ... ^ ™ que estudou o problema em seu país.
falta de financiamentos adequados e de Procuramos ouvi-lo sobre muita coisa,
investimentos particulares nacionais e inclusive sobre o que dissera Kajii, ao
estrangeiros, por causa da indefinição de definir a política de telecomunicações
rumos. Estávamos, por isso, lançando que colocaria o Japão cm destaque.
mão do chamado autofinanciamento.
Nesse particular, duas opiniões se Disse-nos Mitsuishi que a compra por
manifestavam: uma favorável à entrega preço pré-fixado, dentro de condições
de ações corres|)ondentes à importância definidas, permitiu a aquisição de equi
cobrada pelo terminal; outra, que consi pamentos por preços reais, economizou
derava ser preferível que o imobilizado tempo dc ambas as partes (comprador e
constituísse um “ capital morto“ , não vendedor) e deu ao fornecedor a possi
remunerável. bilidade de estruturar-se para uma pro
dução planejada. O acompanhamento
Contou-nos Kajii que, no Japão, não da produção da prancheta à operação
Milagre també
adotaram o critério de condomínio, mas pelos técnicos da N'I 1, a seleção dos
o da aquisição da prioridade (chamado viabilização. mais aptos para os laboratórios da indús
quick instalation), para obtenção do ________________ tria e a nacionalização gradual puseram
telefone. Um banco estatal adquiria o tí os japoneses no patamar em que se en
tulo de prioridade, representado por um certo número de ações; contravam os países de origem dos equipamentos adquiridos. A
o promitente assinante participava com um percentual que vari pesquisa universitária completou o quadro que possibilitou ao
ava em tomo de 20%, em função de conceito de natureza social. Japão não apenas acompanhar o desenvolvimento tecnológico,
Com isso, nacionalizou-se a concessionária e atendeu-se à de mas também situar-se na vanguarda desse desenvolvimento.
manda reprimida. As expansões ulteriores foram confiadas a re
cursos proporcionados pela tarifa.
Nossa política tem sido gradual, permanente,
0 anteprojeto do Código Brasileiro de Telecomunicações pre
em um rumo escolhido com cuidado, após
via, em seu art. 42, forma semelhante de aquisição do comando
muito debate. Definido o rumo, só nos resta
acionário, mas esse artigo desapareceu do texto, embora ainda
constasse da versão final submetida e aprovada pe lo plenário da segui-lo. O milagre acontece.
Câmara em 24 de agosto de 1961.
Outro ponto interessante que nos revelou o visitante foi a forma
O pensamento japonês foi assim resumido por Mitsuishi:
de compra de equipamentos, aquisição de tecnologia e nacio
nalização. Como o Japão seria um dos maiores compradores do
“ Quando encomendamos o projeto do satélite de comunicações
pós-guerra, não fez licitações para comprar pelas melhores ofer
em 30 GHz à Ford Aerospace, o fizemos po? estai em condições
tas, mesmo porque estas, em licitações, não são necessaria
de construí-lo em nossas fábricas. A filosofia que adotamos está
mente as melhores opções; isto porque, para evitar as competi
de alguma forma contida em um provérbio or iental que diz: ‘Se
ções ruinosas entre fornecedores, existe, em muitos casos, a di
eu leio, eu conheço; se eu escrevo, eu gravo; mas eu só sei se
visão do mercado internacional. Por essa razão,a Administra
fizer.1 Nossa política tem sido gradual, permanente, em um ru
ção japonesa estabeleceu as condições de compra em um con
mo escolhido com cuidado após muito debate. Definido o ru
trato de adesão. Davam preço, programação e quantidades a
mo, só nos resta segui-lo. O "milagre1 acontece naturahnente.11
serem adquiridas, condições de transferência de tecnologia e de
nacionalização. Como as condições foram viáveis e o compro-