Page 51 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1980
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Não resta dúvida de que é preciso trei dade, em termos de terminologia e de crática, e utilizando-se da não-coope
nar pessoas, capacitando-as para viver instrumentos. Escrevendo em 1978 ração e da propaganda informal. O e
situações de conflito. Tal treinamento no American Journal feito, na maior parte das vezes, é gran
deve abranger todas as formas de con Mayer Zald e Michael Berger procura de, na medida que tal tipo de ação pode
flito, desde o individual ao revolucio ram examinar a mudança e o conflito bloquear, eficazmente, decisões da cú
nário, ou seja, deve trazer contribui na organização, usando conceitos que, pula da organização.
ções da psicologia à ciência política. até então, haviam sido utilizados ape
Deve basear-se em habilidades de co nas em análises macro-sociológicas. O
municação interpessoal, em métodos artigo que escreveram intitula-se Cada vez mais a análise do
de dinâmica de grupo, em técnicas or “ Movimentos Sociais na Organiza
ganizacionais de definição de funções ção: Golpe de Estado, Insurreição e conflito na organização está
e responsabilidades, em estratégia de Movimento de Massa“ e examina os se aproximando de análise do
negociação, em teoria dos jogos e fenômenos sociais da organização a conflito na sociedade
mesmo em formas de uso do poder partir da forma como eles mobilizam
coercitivo de maneira adequada, o que recursos de que dispõem para atingir
a tomaria próxima à estratégia militar. seus objetivos. No Brasil, com a ampliação avassala
dora da burocracia governamental nos
Não é suficiente para o administrador Três formas básicas de movimentos últimos anos, temos observado inú
apreender sobre as diversas estratégias sociais são identificadas pelos autores meros exemplos destes dois tipos de
de resolução de conflitos; é preciso, em organizações complexas e .se dis articulação, como a tão referida oposi
também, que ele seja submetido a ex tinguem entre si pela amplitude, locali ção do chamado “ segundo escalão”
periências simuladas de conflito, antes zação na estrutura social da organiza da administração federal a certas polí
que enfrente situações reais. Com o ção, objetivos e táticas adotadas. A ticas do Governo, como a privatização
uso de técnicas modernas de aprendi primeira das formas estudadas é o de empresas públicas ou os contratos
zagem experimental do tipo labora golpe de Estado, a tomada do poder de risco na área do petróleo. Todavia,
tório, é possível simular conflitos e dar “ por d e n t r o p o r grupos próximos do pela própria natureza conspiratória de
ao administrador a oportunidade de topo tia pirâmide hierárquica e que está tais fenômenos, bem como pela centra
testar a sua capacidade em resolvê-los. ligada, basicamente, a problemas de lização e pelo sigilo que se encontra na
Uma variedade de técnicas tem sido sucessão nas chefias superiores. administração pública brasileira, tem
utilizada, por órgãos de desenvolvi sido difícil um estudo sistemático.
mento de pessoal, no treinamento de
gerentes na solução de conflitos inter Não obstante tais fatos, a imprensa tem
pessoais e intergrupais. relatado, valendo-se quase sempre de
informações off lhe , uma série
Podemos, também, preparar uma or
de “ golpes de estado” e de “ insurrei
ganização para a resolução de confli
ções” burocráticas, bem ou mal suce
tos, utilizando métodos de desenvolvi
didos. Da substituição do general Fro
mento organizacional que interve
ta no Ministério do Exército em 1977,
nham em seu processamento e em sua
até a do general Octaviano Massa da
estrutura, tendo como objetivo pre
A insurreição burocrática, por outro la Secretaria Geral do Ministério de Mi
pará-la para a mudança. Assim, a orga
do, difere do golpe pelo seu objetivo, nas e Energia, no corrente ano, temos
nização passa a perceber que precisa
já que não pretende, simplesmente, testemunhado articulações deste tipo,
reformar-se a si própria para enfrentar
derrubar um chefe e substituí-lo por as quais, dependendo do âmbito em
o conflito.
outro mais do agrado de grupos dentro que se dão, podem deixar o círculo da
Os problemas que constituem a gênese da organização. Tipicamente, a insur organização e alcançar o sistema polí
do conflito devem ser resolvidos, já reição aparece quando uma alteração tico como um todo.
que não é de forma alguma suficiente o de procedim entos, desejada pelos
uso de estratégias de solução de confli membros da organização, não é imple O terceiro tipo de movimento social, o
tos para que eles desapareçam. Na ver mentada pela direção superior, ou movimento de massa, se distingue dos
dade, tais técnicas permitem desobs quando é implementada uma alteração anteriores por sua visibilidade: trata-se
truir a comunicação e restaurar uma sem a aprovação e o consenso dos fun de uma tentativa de expressar insatisfa
medida de confiança, para que os pro cionários. ção que é coletiva e pública. Envolve
blemas reais possam ser enfrentados um maior número de participantes que
com objetividade. Ambos os tipos têm características são mobilizados para uma ação aberta
conspiratórias, com os insurgentes se através de petições, abaixo-assinados,
Movimentos sociais articulando para opor-se à diretiva ou à e mesmo greves e “ operações-tartaru
pessoa em posição de direção, sem lan ga’ ’ ou sabotagem. Este tipo é próximo
Assim, cada vez mais, a análise do çar mão de uma oposição aberta, já que dó conflito revolucionário na definição
conflito na organização está se aproxi não existe a possibilidade de uma “ o de Derr, mas tem uma amplidão maior
mando da análise do conflito na socie posição leal” numa organização buro- do que a que está implícita naquele