Page 47 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1980
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A l g u m a s C o n s i d e r a ç õ e s Antônio Carlos P o jo do Rego
Sociólogo e Assessor Legislativo da C&mara dos
s o b r e o C o n f l i t o Deputados
interessantes sobre a natureza dos confli ao contrario, é construtivo, produzindo
tos e sua resolução, apresentando, inclu tensões criativas para a organização e os
sive, uma taxionomia dos conflitos nas indivíduos. Além disso, a análise situa
organizações complexas. cional nos permite saber que nível de au
toridade, que meios e que conhecimen
Derr, como a maior parte dos analistas, tos serão necessários para enfrentarmos
considera que os conflitos na organiza o conflito tal como ele se apresenta em
ção provêm demuiitas fontes, e que a cada caso concreto.
Atualmente, podemos afirmar sem possibilidade de sua resolução depende
medo de erro que, praticamente, todos fundamental mente da situação existente Assim, é essencial que se reconheça pre
vivemos vinculados a uma ou várias or em cada caso. Os administradores, que viamente a natureza do conflito, defina a
ganizações burocráticas. Na realidade, vivenciam conflitos nas organizações estratégia de resolução e a implemente,
participamos, como membros efetivos que dirigem, perceberam que muitos tendo, sempre em vista a situação obje
ou como usuários, de empresas, clubes, destes conflitos são resultantes de di tiva com a qual se está lidando e não al
igrejas, sindicatos, repartições públicas ferenças entre as organizações e, princi gum modelo teórico e abstrato. Esta si
e partidos políticos, dos quais retiramos, palmente, a forma como as pessoas pro tuação é balizada, como vimos, não so
seja o nosso sustento, seja a possibili curam se integrar a elas e ao trabalho, mente pelos dados que podemos levantar
dade de participação efetiva na vida so que nelas exercem. Assim, tais conflitos na organização, mas também pelos per
cial. e as estratégias de resolvê-los não podem tinentes à própria sociedade, ao sistema
ser limitados a uma análise da organiza político e econômico que encontramos.
Todas as instituições de que fazemos ção, mas devem levar em consideração
parte têm adotado, com o passar dos variáveis ambientais, principalmente a A visão do conflito, portanto, a sua legi
anos, estruturas cada vez mais comple cultura da sociedade onde a organização timidade, é uma numa sociedade demo
xas e burocráticas, e, com isto, tenderam atua e a forma peculiar desta sociedade crática e pluralista e outra, muitíssimo
a tomar-se mais fechadas e resistentes à vivenciar e administrar seus conflitos. diversa, numa sociedade submetida a
mudança social que se observa no am um Estado autoritário ou mesmo totali
biente que as rodeia. Ao mesmo tempo, tário. Observamos muito bem este fenô
tem ocorrido, nas pessoas que vivem a meno nos últimos meses no Brasil, onde
organização e na organização (afinal, Os conflitos serão inerentes às o conflito industrial passou a ser visto de
passamos mais tempo acordados em organizações complexas e é ne forma diversa pelo Estado e pelos em
nossos empregos do que em qualquer cessário aprender a conviver presários daquela que prevalecia anteri
outro lugar) o fenômeno da alienação, ormente, a medida que tivemos um pro
representado pelo sentimento muito co com eles . cesso de liberalização do sistema polí
mum de que não nos é possível exercer tico. Se, antes, o processo de greve, por
influência efetiva no funcionamento e na exemplo, era visto como uma questão de
estrutura de poder da organização. imediata perturbação da ordem, isto é, o
Estes conflitos são inerentes às organiza conflito industrial era entendido como
Neste contexto de mudança externa e ções complexas. Esta é uma verdade in um conflito à nível da sociedade como
de alienação interna, não é surpreen contestável, sendo, portanto, necessário um todo, passou-se a ver que se podia ter
dente que surjam conflitos, isto é, pro- que aprendamos a conviver com eles. A greves sem perturbações da ordem.
• » * • Todo o quadro foi matizado de um modo
cessos sociais de oposição, por vezes estratégia de gerenciamento dos confli
violentos, entre pessoas, grupos e ins tos que apresenta, portanto, maior eficá impossível há alguns anos antes.
tituições. cia é a que leva em consideração tal ne
cessidade e a que se situa dentro de uma Voltando às observações de Derr, perce
No seu livro ‘"Conflict Resolution in perspectiva situacional, na medida que bemos que, para ele, é possível identifi
Organizations: views from the fields of propõe a importância de avaliarmos os car vários tipos de conflito nas organiza
Educational Administration", C. Broo- dados do conflito, procurando perceber ções, estabelecendo-se modelos como
klin Derr faz uma série de observações se ele é potencialmente destrutivo ou se, numa taxionomia do fenômeno.