Page 59 - Telebrasil - Março/Abril 1980

I N F O R M
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Diz Elcio Martins:
Qual a importância das telecomunicações no
desenvolvimento industrial nacional?
Esta pergunta foi respondida com dados cientí­
ficos pelaTELEBRASIL no ano passado, atra­
vés de um estudo elaborado pela Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas
sob a coordenação do professor Martin Lu. A
conclusão mais importante do estudo é que para
cada cruzeiro investido em terminais telefôni­
cos. gera-se um total de. Cr$ 1,48 somente em
termos interindustriais. O estudo foi além, con­
cluindo por outro lado que “ os mpactos diretos
e indiretos das telecomunicações são superiores
em 60% que os dos outros setores industriais.
Em outras palavras, caso se decida entre o au­
mento de uma unidade monetária da demanda
final de bens produzidos por um setor e em tele­
comunicações, é a opção por este último que
geraria maiores efeitos multiplicadores interin-
dustriais” .
Esta aparente obviedade parece não estar sendo
levada em consideração pelos hom ens que
decidem a aplicação de recursos no setor de
telecomunicações. O universo das empresas
fornecedoras de equipamento para telecomuni­
cação encontram-se hoje “ no fundo do poço' ’,
com ociosidade em tomo de 50%. estoques ele­
vados e empregados sendo demitidos. Do lado
das companhias telefônicas, ou melhor, dos
serviços prestados, começa a deterioração em
virtude da falta de investimentos para compen­
sar a demanda. Algumas regiões de São Paulo
não tém ao menos plano de expansão para
serem subscritos, como Santo Amaro e em ou­
tras cidades, como o Rio de Janeiro, o serviço é
total mente caótico.
Um dos maiores bancos comerciais brasileiros
está em vias de implantar seu sistema on Une,
interligando via computador todas suas agên­
cias. o que traria uma economia de combustí­
vel, tempo e melhoria de atendimento conside­
rável. Porém, mostra-se hesitante por temer a
alta dependência deste sistema no serviço tele­
fónico brasileiro. “ Um colapso no serviço tele­
fônico carioca isolaria nossas agências naquele
centro financeiro tão importante” , disse o dire­
tor responsável pelo setor de computação do
banco.
A contratação de apenas 170 mil terminais em
1979 ficou muito abaixo dos 700 mil terminais
previstos no 2.° PND e pode ser comparado à
média de 165 mil terminais instalados somente
pelo Estado de São Paulo, no triénio 1974-
1976. As indústrias do setor, que se prepararam
E ^
E C O N
A e c o n o m i a e m c o m u n i c a ç ã o
E s t u d o d a F I P E m o s t r a p o d e r
m u l t i p l i c a d o d o s t e r m i n a i s
técnica e funcionalmente para atender às proje­
ções, encontram-se hoje relutando pela sobre­
vivência, caso as distorções e a importância das
telecomunicações não sejam consideradas.
Multiplicador
Para justificar a importância das telecomunica­
ções, ou melhor, do setor industrial envolvido,
o estudo elaborado pela FIPE bastaria. Em sua
pesquisa, o professor Martin Lu descobriu uma
característica importante da indústria de teleco­
municações, qual seja, a expansão do setor se
baseia em indústrias de avançada tecnologia, e
por outro lado, constrastando com esta vincula-
ção as indústrias de “ ponta" — intensivas no
usode capital — relacionam-se também com
atividades produtivas tradicionais, que usam
intensamente o fator trabalho, mesmo o de me­
nor qualificação.
“ É o caso das induções exercidas sobre o setor
de construção civil e de serviços, bem como
sobre a preparação, implantação e conservação
de sistema de distribuição” , diz Martin Lu.
P ara e n c o n tra r aquele m u ltip licad o r de
CrS 1,48, Martin Lu e sua equipe usaram ma­
trizes de insumo-produto. A determinação dos
efeitos multiplicadores, diz ele, é dada a partir
do cálculo da matriz dos coeficientes técnicos,
como a proporção de insumos necessários para
a produção de uma unidade de produto. Com
base na inversa desta matriz, também chamada
de Leontief, a soma em coluna fornece o efeito
multiplicador do setor respectivo.
Na ausência de uma matriz completa que expli­
citasse as interdependências entre todos os
setores de atividades produtivas, a estimação
dos efeitos multiplicadores das telecomunica­
çõ e s no B rasil foi p ro c e d id a pela pós-
m ultiplicação da matriz inversa de relações
interindustriais por um vetor-coluna padroniza­
do que representa as proporções de insumos
materiais demandados aos diversos setores in­
dustriais. A matriz empregada foi elaborada pe­
la Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, referente ao ano de 1970, para o
Brasil.
A estimação do vetor-coluna que representa os
insum os m ateriais de telecom unicações
demandados aos setores industriais foi realiza­
da com base em informações do setor de custos
da TELESP, para seu “ Manual de Custos para
Expansão” , edição de janeiro de 1978.
O resu ltad o final foi a relação de 1 para
1,480629, significando que, para cada cruzeiro
O M I C O
investido em term inais, gera-se um total de
CrS 1.480629 somente em termos interindus­
triais. “ Esta importância das telecomunicações
é, até certo ponto, surpreendente", diz Martin
Lu, acrescentando que, caso multiplicadores da
matriz completa fossem adicionados, o valor fi­
nal seria ainda mais elevado, pela sua impor­
tância como catalizador de acessibilidades
entre agentes e processadores de decisões.
M artin Lu lam entou tam bém as lim itações
quanto à disponibilidade de dados, que não per­
mitiram a montagem de multiplicadores de em ­
pregos, os quais, pelas características funcio­
nais do setor, seriam extremamente interessan­
tes para se avaliar devidamente a sua importân­
cia no processo de crescimento nacional.
Reflexos no setor
Este estudo do professor Martin Lu perderia sua
finalidade se não apresentasse sugestões para
enfrentar a crise prenunciada desde o início do
ano passado. Além disso, foi encom endado
pelo então presidente da TELEBRASIL, Antô­
nio Salles Leite, para servir, até certo ponto,
como um instrumento técnico-econômico de
apoio às pretensões expansionistas do setor,
diante da prometida desaceleração manifestada
pelo então Ministro da Fazenda, Mário Henri­
que Simonsen.
As sugestões levaram em consideração o desa-
quecimento, “ a partir do momento em que se
deixou de administrar por objetivos e se passou
à administração da crise", explica Martin Lu.
Ele acrescenta que, na prática, essa política de
desaquecimento teve reflexos diferenciados pa­
ra os diversos setores produtivos, dependendo
fundamentalmente do grau de controle do Go­
verno Federal sobre estes setores.
No caso do setor de telecomunicações. os refle­
xos desta política tiveram efeitos negativos
maiores que em outras atividades. A explicação
para este fenômeno é muito simples: por um
lado, o Governo Federal detém o controle de
quase todas as variáveis de decisão do setor, e,
por outro, qualquer expansão implica em pres­
sões imediatas sobre o balanço de pagamentos.
Assim, as penalidades sentidas pelas telecomu­
nicações foram proporcionalmente maiores que
as de outros setores produtivos.
Um dos fatores considerados importantes para
Martin Lu é o prazo de maturação de um contra­
to para instalação de terminais que varia de 36 a
40 meses. ‘ ‘ Isto equivale a afirmar que, embora
a oferta de serviços de telecom unicações