Page 68 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1977
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ê o caso do Brasil, empréstimos financeiros de para financiamento de balanços de pagamen 2. Empréstimos aos países em desenvolvi
bancos privados internacionais passaram a se tos assim como de projetos específicos em mento e o conceito de risco — país
tornar a principal fonte de financiamento exter países em desenvolvimento pelos bancos priva
no. Mais tarde esse papel se generalizou de tal dos internacionais passaram a ser mais impor Como se vê, as atividades de créditos financei
modo que os volumes de recursos canalizados tantes que os das fontes tradicionais. ros internacionais dos bancos privados passou
basicamente por duas fases:
• primeiro, uma fase em que os empréstimos
se destinavam a empresas operando em países
com moeda conversível (em estrutura de taxas
de câmbio fixas). Em tais empréstimos, os ban
cos só tinham que se preocupar com a credibi
lidade da empresa a que estava emprestando,
com sua capacidade de geração de caixa. Nisso,
as atividades de empréstimo internacional não
diferiam do que os bancos já estavam habitua
dos a fazer e não exigiam praticamente nenhuma
modificação na sua sistemática de avaliação do
risco.
• segundo, uma fase em que os empréstimos
passaram a se destinar em partes cada vez
maiores, a países de moeda não-conversível.
Em função disso, os bancos passaram a ter
que olhar não somente a credibilidade da em
presa tomadora do empréstimo e sua capacida
de de geração de caixa em moeda nacional,
mas também sua possibilidade de compra de
câmbio a fim de servir à dívida.
Esta segunda fase introduziu a necessidade de
não somente realizar a análise de crédito a que
Com efeito, no caso do Brasil, já em 1973, em níveis sem precendentes (média de 14,1% em os bancos estavam habituados, como também
préstimos externos em moeda correspondiam a agosto, para depósitos de 6 meses, contra a considerar o risco-país.
62% do total da dívida externa, e já a 70% no cerca de 6% no início de 1973). Com as receitas
fim de 1976. Além disso, enquanto o total de de exportaçSo para os países da OPEP a que Por risco-país entende-se a possibilidade de o
empréstimos do sistema financeiro brasileiro esses pagamentos correspondiam, seus aumen país em que se localiza a empresa tomadora do
(para repasses externos) se elevava a Cr$ 1.024 tos de reservas eram re-canalizados para o empréstimo vir a ter problemas de balanço de
bilhões, o saldo de empréstimos externos em mercado de euromoedas. Esse refluxo, por sua pagamentos de tal magnitude que lhe seja im
moeda correspondia a Cr$ 224 bilhões. vez, associado ao reajuste dos balanços de pa possível pôr divisas suficientes nas mãos de
gam entos de diversos países que sofreram empresas nele localizadas de modo a que pos
Com o aumento brutal sofrido pelo preço do abalos com os novos preços do petróleo, e a sam pagar juros e amortizar seu endividamento
petróleo, esse processo se intensificou. Países queda na demanda de crédito para investimento externo conforme os contratos de empréstimos.
importadores de petróleo, tanto industrializados em capital fixo por parte das empresas dos
como em vias de desenvolvimento, bruscamen países que passaram por uma recessão, propor Os bancos privados passaram, assim, a ter
te geraram um grande déficit em suas contas cionou uma nova era de alta liquidez no merca que analisar os balanços de pagamentos dos
externas, que procuraram financiar através de do de eurodólaros, a qual corresponde a uma países com que operam de modo a estabelecer
em préstim os bancários. Com os prim eiros nova queda nas taxas, que em 1976 apresentaram limites de empréstimos condizentes com suas
pagamentos a serem realizodos — representa uma média de 6.2%. Ao contrário do que recea regras de administração de carteira. Essa amplia
dos pelo superávit de US$ 62 bilhões realizado vam alguns, o sistema bancário privado interna ção do escopo da análise, aliás, não se formali
em 1974 pelos países da OPEP — o mercado se cional funcionou bastante satisfatoriam ente zou de imediato nos bancos, tendo estes em
estreitou bruscamente e a taxa de juros básica como instrumento do locaçflo dos gigantescos muitos casos absorvido "know -how " de orga
do mercado de eurodólaros (LIBOR) subiu a recursos do petróleo. nizações internacionais — tais como o Banco
Mundial — que já há muito encaravam a ques
tão sob esse prisma.
LIBOR CJ rnfüMl
A necessidade de realizar análises macroeconô
micas dos países em desenvolvim ento com
que operam os bancos internacionais, ultrapas
sa o âmbito do balanço de pagamentos, não
só devido a que a interdependência econômica
impede que se analise o balanço de pagamentos
do "per si", como também a que se necessite
aprimorar o conhecimento do ambiente econô
mico em que operam as empresas clientes.
Nesse contexto, a importância do desempenho
da inflação é prim ordial. Por um lado, altas
taxas de inflação impactam sobre o comporta
mento do balanço de pagamentos de diferen
tes maneiras, em geral no sentido da deteriora
ção. Uma das mais importantes delas é através
do aumento da demanda de importações, de
natureza especulativa. Por outro lado, desorga
nizando a economia e dificultando o processo
de planejamento, taxas de inflação elevadas e
altamente variáveis (o que se poderia chamar de
fora de controle) tendem a provocar uma dete
rioração no desempenho financeiro das empre
sas, depondo contra a atratividade daquele
mercado para os banqueiros internacionais.
Nessas condições, o efeito negativo da infla
ção sobre o desempenho do balanço de paga-