Page 10 - Telebrasil - Julho/Agosto 1965
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derada pelo Sr. Carlos Lacerda, certa-    intento — encampar a Com panhia T e­
mente não teríamos chegado ao ponto       lefônica. Foi impedido pelo decreto de
que chegamos — um terrível e imo-         intervenção federal na com panhia. A
bilizador déficit de telefones.           interventoria anômala até hoje vigora,
                                          e precisa terminar em favor dos usuá­
   Será preciso recuperar o tempo per­    rios assinantes.
dido. Qualquer solução que encare rea­
listicamente o problema terá de pon­         Com tôda a certeza, o governador
derar, primeiro, a cobertura do déficit,  continua com pretensões ao controle
ou a reconquista do tempo perdido;        da CTB. Trata-se evidentemente de
segundo, terá de criar condições para,    pretensão absurda, pois a ninguém,
daqui por diante, impedir a formação      com mínimo de bom-senso em m até­
de nôvo déficit, o que só será consegui­  ria de segurança nacional, ocorreria
do se o serviço telefônico acompanhar     confiar ao Sr. Carlos Lacerda o con­
o crescimento vegetativo da vida urba­    trole das comunicações telefônicas do
na e interurbana.                         País.

   Estamos diante de um desafio cuja         Portanto, no equacionamento da so­
dimensão exigirá a participação coo­      lução, duas hipóteses podem ser afas­
perativa de todos: do Govêrno Fede­       tadas: a da intervenção vigente, já vis­
ral, dos governos estaduais atendidos     ta e experimentada, e a estatização no
pela Companhia Telefônica Brasileira,     sentido estadual, na forma de qualquer
da Companhia concessionária, e dos        fusão ou de subordinação à CETEL.
assinantes.
                                             Restam algumas hipóteses, uma das
   Qualquer solução estritamente esta­    quais, a estatização ou federalização
tal, sob a forma de nacionalização por    por compra pelo Govêrno Federal, se
compra ou encampação, não oferecerá       ajustava à política naci.onalizadora do
perspectiva de telefones abundantes e     govêrno Goulart, mas não se encaixa
operantes. O caso da CETEL já é bas­      harmoniosamente na filosofia do go­
tante expressivo aqui na Guanabara.       vêrno Castelo Branco.
Tôda gente sabe que a empresa tele­
fônica do Estado não tem condições           A abertura da CTB de forma a que
de continuidade sôbre seus próprios       dela passassem a fazer parte acionis­
pés, ou, em outras palavras, com sua      tas privados e públicos brasileiros, pas­
própria renda. Ela só não está falida     sando o controle acionário à maioria
porque empresa estatal não entra em       nacional, só poderá ter apêlo se vier
concordata ou abre falência. Sobre­       apoiada firmemente em uma diretiva
vive ao amparo oficial.                   clara e insofismável por parte do Go­
                                          vêrno Federal: os assinantes financia­
   Tôda gente sabe que a CETEL é sus­     rão em grande parte o crescimento do
tentada pelos assinantes e pelo Tesou­    serviço. O aumento das tarifas já con­
ro do Estado. O que vale dizer por        cedido, e mesmo admitindo que elas
usuários e por não-usuários do nôvo       não mais ficarão em atraso com a
serviço. Ninguém sabe, todavia, quan­     inflação, não será suficiente para for­
do êste nevo serviço estatal entrará      mar o capital necessário aos enormes
efetivamente em funcionamento, ou se­     investimentos exigidos pelo tempo per­
ja, entrará em ligação com o resto        dido em matéria de serviços telefô­
do sistema telefônico local e geral.      nicos.

   A solução adotada no projeto CETEL        É fácil — e não demanda coragem
— a do financiamento do aparelho, em      — clamar que o serviço telefônico es­
grande parte, pelo usuário — foi justa­   tá em colapso e que alguma coisa tem
mente a que, à época do Prefeito Ne­      de ser feita. Coragem revela quem de­
grão de Lima, foi furiosamente ata­       clara que coisa é essa, pois a grande
cada pelo atual governador. Éste, em      dificuldade é afirmar o melhor para o
suas oscilações pendulares, evoluiu,      povo, mesmo que isso signifique impo­
mais tarde para a solução estatal, e       pularidade momentânea e contrarie­
chegou mesmo a querer imitar o go­         dades ao governador do Estado.
vernador do Rio Grande do Sul, Sr.
Leonel Brizola, em suas atividades en-        O certo, em matéria de telefones, é
campadoras.                               manter o serviço nas mãos da inicia­
                                           tiva privada, se preciso abrindo o con­
   O Sr. Carlos Lacerda, ao tempo do      trole da emprêsa aos acionistas popu­
govêrno Goulart, quase conseguiu seu       lares — os assinantes. Permitir que
                                           ela venda seus serviços a preços cor-
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