Page 11054 - Revista Telebrasil

Entretanto, já bem antes, as sementes
do temporal que hoje desaba sobre nós
em toda a sua intensidade tinham sido
plantadas. Em outubro de 1973, a
decisão dos países produtores de
petróleo de elevar seus preços a níveis
quase insustentáveis para os con­
sumidores, desencadeou uma crise de
repercussão internacional que não
poderia deixar de nos afetar. Apesar de
muitos países terem reagido inicial­
mente com rapidez excessiva, o Brasil
conseguiu manter, de certa forma, um
clima de confiança que prometia,
apesar das adicionais dificuldades, que
as perspectivas continuavam otimis­
tas.
No mês de julho de 1975, as primeiras
consequências sérias foram sentidas
(instituição do depósito compulsório
por 180 dias), e a partir daí foi como se
tivessem ruído as barragens de uma
represa cujo volume não mais podia
ser contido. As restrições à importação
(tanto quantitativas quanto qualita­
tivas) que se sucederam com rapidez
surpreendente, lançaram a desordem
na estrutura operacional das indús­
trias, que, por causa da conhecida
complexidade dos produtos de tele­
comunicações, dependem, em maior
ou menor grau, das importações de
partes e peças complementares. A
liberação de guias de importação
arrastou-se, peças e componentes
vitais deixaram de chegar a tempo e
hora, com paralizações parciais das
fábricas e a impossibilidade de cumprir
os cronogramas contratuais. As
medidas adotadas em dezembro do
1975, que taxaram adicionalmento as
peças importados, criaram aumentos
de custos que nunca tinham sido
previstos, e os preços de venda pre
viamente acordados tornaram se total­
mente insuficientes.
operadoras, embora tivessem, por sua
própria dificuldade na obtenção de
guias, evidências de que tais atrasos
não dependiam da responsabilidade
das indústrias, não se mostraram
muito dispostas em abrir mão de
cláusulas punitivas, como multas e
perda de reajuste, que existiam, é cer­
to, nos contratos assinados, mas que
não deveriam ser aplicadas durante a
difícil situação que então se criou.
Em agosto de 1976, as perspectivas já
reduzidas de um volume de 700.000
terminais por ano desapareceram por
completo diante da decisão do Minis­
tério das Comunicações de que o teto
de encomendas ás indústrias do setor
estaria a partir daí, para os próximos 10
anos, em torno de 500.000 terminais
anuais. Com suas bases anteriores de finidos, que estão sendo agora
planejamento solapadas, preparavam- rados sem possibilidade de correi
se as indústrias mais uma vez para re­ pelos efeitos da presente conjuntura
formular seus programas, tentando
ajustar-se, com a possível brevidade, às Procuraremos apresentar nossas fó.
novas condições do mercado. Quem culdades de maneira serena e semp*
tem experiência industrial na área de xões. Para conseguirmos tal resultado
telecomunicações sabe que os ciclos não há como o equacionamentomate
de planejamento, programação, fa­ mático, que é sujeito a provas e i$en:: 1
bricação e instalação são relativamente de emoções. Contudo, dada a cor-, i
longos. Peças e partes têm que ser en­ plexidade do assunto, a precisão ser,!
comendadas aos fornecedores com sacrificada em favor da simplicidade$
antecedências que podem chegar a 18 apresentação, usando, para evita- j
ou mesmo 24 meses. Novas máquinas, qualquer parcialidade, númerc;
que têm que ser previstas para médios e às vezes aproximados, qi*
aprofundar com urgência o grau de podem ser aceitos por qualquer índus
nacionalização demoram a chegar, es­ tria. Esperamos que, ao chegarmos a:
barrando muitas vezes com objeções conclusões, fiquem bem claras as
do CDI e da CACEX, se tiverem que ser providências que devem ser tomadas
importadas. para corrigir a situação.
A última dificuldade (se é que assim
podemos prever) atingiu as indústrias III — O efeito das reduções de
em consequência da recente decisão encomendas sobre o
de reduzir os investimentos no setor. desenvolvimento do sistema
As perspectivas de novas encomendas nacional
em 1977 são extremamente reduzidas,
e a retomada do ritmo mínimo de Já foi mencionado o fato de que a nos
500.000 terminais por ano em 1978 sa densidade telefónica ainda apresa
permanece uma incógnita. ta valores muito baixos. Foi exatamr
te a necessidade de procurar atingir;
Perplexas, e sem mais recursos para se
defender, tiveram as indústrias que equilíbrio telefónico, baseado em es
presenciar, durante os últimos dois tatísticas mundiais, que motivou •
anos, não somente a destruição do fixação de metas de expansão basta*
sonho inicial, mas duas sucessivas te altas para o II PND.
reduções de programação, ao mesmo
tempo em que sofriam de maneira O gráfico da figura 1 mostra nossa
violenta o impacto consequente de situação passada e atual com relacà:
todas as medidas de restrição ás im­ ao que deveríamos atingir em 1985 -
portações, Cronogramas alterados, reta que define a situação de equilibn;
ameaças de multas e perdas de reajus­ è baseada em formulação jâ cons-
tes, aumentos internos de custos in­ derada clássica, que mostra haverumi
suportáveis, e, mais recentemente, correlação bastante estreita entre t
atrasos do pagamento de etapas já densidade telefônica de um país e sui
vencidas pelas empresas operadoras, renda "per capita".
combinados com as elevadas taxas de
As empresas
inflação que ainda vigoram, deixam Mesmo supondo um crescimentc
muito poucas perspectivas para o anual pessimista de 1 % da renda "pe
futuro se medidas corretivas não forem capita", deveríamos atingir em 198:
tomadas a curto prazo para alterar o uma densidade telefônica de cerca
rumo dos acontecimentos. 11 telefones por 100 habitantes
Utilizando uma taxa de crescimento
Mais uma vez repetimos, temos total
4%, que não é impossível, apesar &
compreensão para o fato de que as
presente desaceleração, chegamos J
empresas operadoras enfrentam
um valor de cerca de 15 telefones po'
problemas tão sérios quanto o nosso. É
100 habitantes.
preciso reconhecer, entretanto, que,
no pior dos casos, elas deixam de ex­
Adotando uma taxa anual de cres
pandir temporariamente seus sistemas,
cimento da população em torno de 3^
mas continuam vivas.
e supondo a relação entre telefones f
Mais complexa e mais delicada é a terminais é de cerca de 1,3 para1
situação das indústrias. Estas podem deveríamos ter, em 1985, entre 12.2 *
ser levadas ao completo desiquilíbrio 15,8 milhões de terminais telefônicos
comercial se a relação entre preços de Já no início de 1980 precisaria^-
venda e custos de produção não se atingir entre 9,5 e 11,3 milhões de tf
mantiver dentro de limites bem de­ minais.