Page 16 - Telebrasil - Maio/Junho 1990
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Infra-E strutura
U m l i b e r a l à t e s t a d o M i n i s t é r i o
“Devemos entender que o Brasil, A inflação seria a cobertura pela socie clima vis-a-vis do similar estrangeiro. É
quer queira quer não, já apre dade de cheques sem fundos emitidos preciso aumentar a produtividade para
senta peso específico suficiente pelo Governo. Ao mesmo tempo que se poder pagar salários mais altos.
para mudar tendências da econo procuram grandes espaços para exercitar Sociedade da informação
a liberdade, cresce a intervenção do Es
mia mundial, mas caso se recuse a tado na vida do cidadão.
aceitá-las poderá ficar de fora e • A valorização do indivíduo é que Ozires Silva prognosticou que, futura
assim penalizar, acentuada- está emergindo como a grande conquista m ente, a indústria deixará de ser a
mente, a já sofrida população do do século XX, onde o Estado deve ser o re grande geradora de empregos, entre
flexo do indivíduo e não o inverso. gando este acervo à agricultura. A área
País”. (Ozires Silva). • A preservação da democracia de intelectual passará para a área de infor
pende de vigilância constante dos cida mação. Este fator é irreversível — disse
dãos. Nós queremos participar do proces ele. Haverá produção em alta escala, bai
so político não para postular cargos, mas xos custos, etc.
onhecido pelas suas idéias liberais e
C coerentes, o M inistro da Infra- sim para prestigiá-lo como cidadãos. De — Nos Estados Unidos — exemplifi
vemos, porém, policiar as pessoas que nós
Estrutura Ozires Silva, responsável por cou —, nos últimos anos apenas 5 mi
lhões de empregos foram gerados pela in
três dos mais importantes setores da eco elegemos. dústria e a grande maioria foi destinada
nomia nacional — comunicação, trans
aos planejadores, ou àqueles que conse
porte e energia — disse ter “a certeza de guem reduzir dramaticamente os chama
que as preocupações que hoje ass%am o
sistema de telecomunicações no Brasil, dos macacões azuis, fazendo crescer bas
em particular o que está soh o monopólio tante a área dos chamados colarinhos
estatal, são os mesmos que afetam a Em- brancos (executivos). Os macacões azuis
braer e a Petrobrás”, empresas estas são apenas 40% do que havia no início
aonde foi presidente. Em 1984, ele já di deste século, nos EUA.
zia “ser evidente que temos de encarar o — O mundo globalizado não permite
futuro e olhá-lo com confiança e com cora mais que o valor da empresa seja medido
gem, inclusive fazendo autocrítica e acei pela maximinização dos lucros; isto é coi
tando as críticas externas que o sistema sa do passado. Hoje, a valorização da em
estatal vem sofrendo”. presa está em função da competitividade
— O Governo Federal parece ser o com que ela participa do mercado. E o
único acionista que não deseja o sucesso confmamento das empresas multinacio
de sua própria empresa, contribuindo nais, que hoje é muito mais transnacio-
para a construção de uma imagem nega nal do que multinacional, não condiz com
tiva das sociedades anônimas que ele pró as atuais necessidades conjunturais.
prio construiu — referia-se Ozires Silva — E o Brasil, como ele se situa nisso?
ao setor de telecomunicações por ocasião — indagou o Ministro da Infra-Estrutura
de sua palestra no XVII Painel Telobrasil para ele mesmo responder —: Na econo
realizado em Fortaleza. A exemplo do mia global, na produção polarizada nós
que ocorria com a Petrobrás, a Telebrás “A preservação da enxergamos um denominador universal.
também era alvo de injunções impostas democracia depende A valorização do trabalho é extrema
pelo Governo Federal às empresas esta mente importante, porque com a valori
tais. da vigilância zação do trabalho cresce o mercado in
terno.
constante do cidadão.”
As idéias mais recentes — Acho que ninguém duvida de que os
mecanismos que causam nossa inflação,
Antes mesmo de ser convidado para • Precisamos hoje de joint-ventures vêm da área financeira. Quando veio o
dirigir o Ministério da Infra-Estrutura, o felizes entre Governo e sistema produ governo da Nova República, em 1985, a
coronel Ozires Silva externava suas tivo, entre governantes e governados, inflação já estava alta, cerca de 200% ao
idéias que viriam a coincidir com as do onde todos nós possamos participar do de ano, mas procurou-se combatê-la tenaz
Presidente Fernando Collorde Mello. Eis senvolvimento do Brasil. mente. Foi política do Ministro Domel-
alguns pontos convergentes: • Não podemos conviver em um País les, da Fazenda, que começou a segurar
• Temos de estar preparados para os com mais de 30 milhões de analfabetos. os preços do serviço público para comba
saltos que o mundo tem dado: globaliza Precisamos integrar toda essa gente ter a inflação, sem que o outro lado fosse
ção da economia, polarização da produ através da cultura à sociedade; da nova atacado, quer dizer, o problema do déficit
ção, reciclagem extremamente rápida, sociedade inteligente que já permeia o público, o problema da ciranda e dos
flexibilidade das linhas de produção, mundo. custos financeiros, que afinal estavam
valorização do trabalho e tendência do • Se dependemos do comércio exterior concorrendo para o estouro da base mone
desenvolvimento tecnológico. por que tantas limitações para importar, tária.
• Somos 140 milhões de habitantes: contratar, associar-se e, evidentemente, Nova Constituição
raças sem conflito, mesma língua, exportar? Teremos que comprar de ter
mesma legislação — portanto, temos um ceiros para satisfazer nossos compromis — Nós temos 100 mil decretos em vi
mercado doméstico poderoso, embora sos e obter reservas. gor — observou o Ministro, realmente
50% da população não se integre verda- • Quanto às relações capital-traba uma “maravilha" de criação de regula
doiramente no processo. Com uma mão, lho, as ações atuais no campo político- mentos. Escrevemos uma Constituição
oferecemos ciue este mercado cresça, com sindical buscam mais a ociosidade do que extremamente curiosa, onde tem, em seu
outra, que ele empobreça. a operosidade, procurando obter mais Artigo 1?, 77 itens de obrigações e garan
• Prejudica-se o investimento e corrói- direitos e menos obrigações. Nossos pro tias individuais e coletivas. Começamo
se cada vez mais o salário do trabalhador. dutos perderão a competitividade em tal a entender o processo político. Investimo