Page 7 - Telebrasil - Maio/Junho 1989

e d it o r ia l
A e x p l o s ã o
t e l e c o m u n i c a ç õ e s
1988, por 1 bilhão de dólares, a ROLM SYS­
TEMS, subsidiária americana da IBM que
opera no mercado de centrais privadas de
Luiz de Oliveira Machado comutação, e que vinha enfrentando prejuí­
(Presidente da Telebrasil) zos. A canadense NORTHERN TELECOM
iniciou um programa de fornecimento de cen­
trais publicas digitais ao Japão - primeira
empresa estrangeira a fazè-lo - e já tem uma
Envolvidos pela grave crise que o Brasil “joint-venture” na China para fabricar cen­
atravessa, deixamos frequentemente de trais privadas. Mesmo as grandes presta­
acompanhar com atenção os fatos que ocor­ doras de serviços, como a NYNEX e a BRI-
rem com as telecomunicações a nível mun­ T1SH TELECOM, estão formando “joint-
dial, perdendo assim a oportunidade de ex­ ventures” para oferecer serviços em outros
trair subsídios importantes para avaliar a países.
nossa própria evolução Recente artigo publi­ Pesos-pesados tais como ITT, IBM, GTE,
cado pela revista Time Internacional abandonaram ou arrefeceram suas ativida­
(01.05.89) aborda a evolução mundial das des nesse mercado. A ITT foi absorvida em
telecomunicações através de fatos e números sua maior parte pela ALCATEL. a GTE pela
de grande impacto, que resumimos em segui­ SIEMENS e FUJITSU. A IBM vendeu a
da. impulsionadas pela competição decor ROLM e concentra agora esforços com outros
rente da redução das políticas protecionistas, parceiros ppra desenvolver o ISDN ("Inte-
da liberalização dos monopólios c da quebra grated Services Digital NetWork”). Para os
na rigidez das regras do jogo, as telecomuni­ usuários, a batalha resulta em mais opções e
cações mundiais transformaram-se num dos preços declinantes; para os fabricantes, em
segmentos mais atraentes e competitivos, vendas maiores, bons lucros e altos riscos.
explodindo com novos serviços, produtos e Nesse cenário de associações, serviços glo­
demanda. bal» e competição aberta, a» antiga» diferen­
Como resultado, as receitas mundiais da ça» nacional» se diluem ou desaparecem, e as
indústria de telecomunicações, medida» em telecomunicações se globalizam
bilhões de dólares americanos, saltaram de Podemos resumir remuiltando o» fatores
860, em 1983. para 500 em 1988, e apontam que caracterizam a explosão mundial da»
para uma cifra em torno de 1 trilhão de dóla­ telecomunicações; menor protecionismo,
res no final do século. Ao lado da liberaliza­ abrandamento dos monopólios, elevada com­
ção das regras, outro fator primário das mu petitividade, altos custos da tecnologia, ten­
aanças é a tecnologia, de um lado oferecendo dência para associações e parceria», cres-
novas e impressionantes possibilidades, de e n te m te i n a n n ii.ih /.u ç u o
outro implicando em custos elevados e pro- Vejamos como se apresentam no Brasil
gressivamente crescentes. Por exemplo, esti­ esses fatores Começando com a tecnologia,
ma-se em pouco mais de 200 milhões de dóla­ os dado» relativos ao Brasil não são anima­
res o custo de desenvolvimento de uma fa­ dores. Enquanto os Estado» Unidos investem
mília de centrais publicas de comutação da 3'< do seu PIB em tecnologia e a Coréia do
geração CPA analógica; esta cifra sobe para Sul se aproxima de 2f>, apenas para citar
1 (um) bilhão de dólares no caso de centrais dois exemplos, o Brasil não atinge Ví Em
CPA digitais, e deverá se situar entre 1,5 e 3 termos absolutos os valores aplicados no Bra­
bilhões para a futura geração de centrais de sil são bastante baixos frente ao que se aplica
comutação, onde sinais ópticos substituirão em outros países Por exemplo, no ano de
os eletrônicos Não é, portanto, um negócio 1984 o valor das aplicações dos Estados Uni­
para os pequenos. dos em tecnologia correspondeu a 80 vezes o
A solução encontrada pedas forças de mer­ que se aplicou no Brasil.
cado foi a das fusões, aquisições e incorpora­ Outro dado importante para referência é
ções. Fabricantes de telefonia aplicaram 4,5 ue os gastos totais por ano com importação
e tecnologia e correi atos vêm caindo acele­
bilhões de dólares em fusões e aquisições em 3 SCOPUS pelo BRADESCO-DIGILAB, a ip-
1988, oito vezes o valor aplicado em 1987 Os radamente no Brasil, desabando de 313 mi­
gigantes mundiais da indústria de telecomu­ lhões de dólares, em 1979, para 135 milhões
nicações faturaram cifras acima de dez bi­ em 1988, o nível mais baixo dos últimos 9
lhões de dólares em 1988. O mercado mun­ anos (dados do Banco Central do Brasil). E
dial virou um campo de batalha, onde se com­ claro o contraste com o que ocorre no mundo
pete ferozmente para atender consumidores desenvolvido, implicando em defasagem
cada vez mais exigentes, usando como arma cada vez maior para a indústria brasileira.
principal n tecnologia desenvolvida a altos Há cerca de um ano foi divulgada com desta­
custos. Mesmo os grandes grupos procuram que uma nova política industrial, que prome­
associações de interesse, saindo das frontei­ tia, entre outras, medidas de estímulo à mo­
ras de Réus puíses, para enfrentar os custos dernização do parque industrial brasileiro. O
elevados e a compet ição. fato é que a nova política até agora não de­
A AT&T, rpaior supndor mundial de colou e, mesmo que o t ivesse feito, não benefi­
equipamentos telefônicos, formou parceria ciaria parte substancial das telecomunica­
com a 1TALTEL para um projeto de 27 bi­ ções, que, estando no âmbito da Lei de Infor­
lhões de dólares de modernização do sistema mática, fica explicitamente excluída do al­
telefônico italiano. A ALCATEL está nego­ cance da nova política Prejudica-se assim a
ciando um projeto de 1 bilhão de dólares, com competitividade do setor, inclusive a nível
10 anos de duração, para prover sistemas internacional, na medida em que não se fa­
telefônicos modernos à União Soviética. A cilita a automação dos seus processos indus­
SIEMENS AG comprou, em dezembro de triais e de desenvolvimento tecnológico, fi-
m u n d i a l d a s
cando. portanto, privado das corresponden­
tes reduções de custos.
Em ambos os aspectos citados - desenvol­
vimento tecnológico e industrial - a perfor­
mance do setor de telecomunicações tem se
destacado em relação aos padrões brasilei­
ros. Porém, para se aproximar do estágio ob­
servado nos países desenvolvidos, é neces­
sário que se mantenha um nível elevado de
investimentos em tecnologia, que se criem
maiores facilidades para obtenção de recur­
sos atualizados para desenvolvimento e pro­
dução, e sobretudo que as regras de proprie­
dade industrial e outros regulamentos per­
mitam maior integração tecnológica inter­
nacional.
Com relação à liberação dos monopólios,
não ha muito espaço no nosso setor, visto que
está em vigor dispositivo constitucional que
impede a quebra do monopólio estatal de ex­
ploração dos serviços públicos de telecomuni­
cações. Ja no campo das medidas protecionis­
tas, vale ressaltar que a política industrial do
setor de telecomunicações tem se tornado
mais flexível, permitindo o acesso de novas
empresas a mercados anteriormente limita­
dos a um certo número de fabricantes, dei­
xando para as leis de mercado o encargo de
selecionar as que se mostrarem mais ca­
pazes.
No campo dus parcerias, o primeiro ponto
a ser ressaltado é que a Lei de Informática e
outros dispositivos reguladores impõem bar­
reiras quando as associações ou incorpora­
ções envolvem capital estrangeiro em área
irotegida por reserva de mercado. Por outro
f
ado, deve ser destacado como fator positivo o
interesse do BNDES, que atribuiu priori­
dade ao complexo eletrônico nacional, ao
qual destinará em 1989 equivalente a 100
milhões de dólares visando apoiar a política
de fusões e incorporações (DATA NEWS n?
450).
No setor de informática* impulsionado
pelas forças de mercado e pelo interesse de
grandes usuários, já se observa uma tendên­
cia para o fortalecimento das empresas atra­
vés de associações e incorporações. Veja-se os
exemplos da RIMA, fabricante de impres­
sora^ na qual se associaram BRADESÇO e
ITAU, da compra da PHILCO pelo ITAU, da
corporaçào da EUEBRA MICROELETRO-
NICA pela ITAUCOM. Outras empresas
buscam alternativas para fugir da incorpora­
ção por grupos mais fortes. Uma solução cria­
tiva foi a da TECISA, uma associação à moda
japonesa de 26 empresas nacionais, pro­
curando unir esforços em busca de competiti­
vidade num ramo de altos investimentos, o
da microeletrônica. No caso, o consórcio visa
o desenvolvimento de um conjunto de circui­
tos integrados - o “chip set” - associados ao
microprocessador INTEL 80386, o coração
dos novos sistemas de 32 bits de uso geral e
estações gráficas de alto desempenho.
As considerações acima apenas tangen-
ciam o tema da integração do Brasil à explo­
são mundial das telecomunicações. Servem
como estímulo à reflexão e preparação para o
aprofundamento que a TELEBRASIL, atra­
vés de sua revista e dos seus próximos even­
tos, procurará promover.