Page 17 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1989
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nufatureiros, é altam ente sofisticada, a casa dos 500 elementos). assim, a indústria procura introduzir
começar pelos seus insumos que com Para fazer frente a tais desafios, a ob soluções parciais, que tentam adaptar a
preendem desde lâm inas de silício, rea tenção de CIs de alta integração faz uso produção do chip para determ inada
gentes químicos, gases e terras-raras intensivo (e extensivo) de técnicas PAC/ aplicação. Uma das soluções é a do chip
até m etais considerados nobres, como FAC (Produção e Fabricação A uxilia denominado de uso geral. Este chip, di
ouro e platina. O sistem a de produção das a Computador) empregando progra gamos um processador, com memória e
em massa de circuitos integrados pode mas especializados que ajudam a per fonte de alim entação, faz de tudo. E
sofrer variações de acordo com o espe correr todo o ciclo da produção do chip como o faz? Via program ação. Como
cial processo que está sendo utilizado, (vide Tabela) com eficiência e rapidez. porém o componente não é específico
mas, basicam ente, com preende: uma “A m icroeletrônica é um a das indús para dada aplicação, seu uso poderá sair
fase de projeto e de geração de máscaras, trias que mais valoriza a inteligência”, caro e será provavelmente ineficiente.
outra de processamento físico-químico, gosta de formular Roberto Spolidoro. No outro extremo das alternativas
tam bém conhecida como fundição do encontra-se o chip totalmente dedicado.
silício (se tal for o substrato empregado) Dedicados E como um terno feito no alfaiate: per
e mais uma fase de adição de term inais, feito (se o alfaiate for bom) e de custo
encapsulamento e teste. Ao contemplar um cenário ideal para elevado para uma só peça. Só se justifica
Do ponto de vista do processamento a microeletrônica, o usuário teclaria os a solução, em termos empresariais, se
físico-químico, a obtenção de CIs en requisitos de seu projeto específico num houver um volume tal de aplicações
volve utilizar equipam entos especiali terminal de entrada de um sistema pro para o chip dedicado em questão, que
zados como fornos automáticos com alto dutor de chips e do outro lado, após sua viabilize, economicamente, a produção.
controle de tem peratura e de atmosfera ve zumbido apropriado a toda história Decorre daí a importância da padroni
gasosa (onde se dá o milagre da difusão de ficção-científica, sairia o produto fi zação de equipamentos e sistemas. As
de um m aterial em outro), dispositivos nal desejado. Todavia, ainda se está sim, chips dedicados para interfaces
de implantação iônica e processos em at longe de que isto aconteça, mas, mesmo RDSI (Rede Digital de Serviços Integra
mosfera limpa, que faz o local da produ dos) ou para aparelhos televisores de
ção dos chips aparentar m ais um am alta definição multi-sistemas (o televi
biente hospitalar de país desenvolvido sor ao captar o sinal se adapta, automa
do que o de uma unidade fabril. ticam ente, ao sistem a NTSC, PAL-M,
De acordo com os industriais, exis Secam ou outro qualquer), são perfeita
tem sérias diferenças entre a produção mente viáveis.
quase artesanal de um chip, em um la No campo intermediário, residem as
boratório m edianam ente aparelhado, e soluções que os industriais denominam
o da produção em massa desses compo como gate-arrays (m atriz de portas) e
nentes. Por outro lado, crescem os desa standard-cell (células padrão) e cuja
fios de controle de qualidade à medida idéia é sempre a mesma, ter elementos
que cresce o grau de integração dos dis semipadronizados que são adaptados ou
positivos, cuja densidade anua em torno coordenados para produzir o resultado
de 10 m ilhões de elem entos por cm 2, que se deseja. Voltando à analogia do
mas que poderá alcançar a casa de 1 bi vestuário, trata-se do terno de meia-
lhão, dentro de um horizonte previsto de confecção. “Agora, porém, surge uma
10 anos (em termos comparativos, a ele nova esperança com os denom inados
trónica necessária ao funcionamento de Fernando Vieira de Souza, diretor de P&Uda compiladores de silício que facilitam ex
um televisor a cores não ultrapassa a Tvlebráa. tremamente o projeto de um chip e o que
é mais importante tornam este projeto
adaptável a qualquer tipo de Silicon
foundry (que só aceitam determinados
O pensamento de José Ellis Ripper F" tipos de especificações)”, explica José
Ripper Filno, da Elebra M icroeletrô
nica.
José HM lis Rip- sua vez, equivale a uma revolução: em
per F? é presidente presas antigas podem relutar em mudar,
cia Divisão de Mi- surgem novos grupos, produtos e oportu Brasil
croeletrônica du nidades. É a hora do corre-corre.
Elebra S/A e tem Durante cinqüenta anos a indústria A produção de componentes microe-
preceitos firmes em automobilística apenas evolui mas en letrônicos no Brasil tem cerca de trinta
relação ao desen controu sua revolução tecnológica, com os anos de existência (vide Quadro), nas
volvimento tecnoló novos processos de produção introduzidos
gico. Eis, a seguir, suas idéias, algumas pelos japoneses. Em informática, o nmin- cendo com empresas multinacionais en
sob forma de aforisma. Tecnologia não é frame todo poderoso encontrou também capsulando, testando e comercializando
produto a ser comprado e sim cultura a sua transição com o advento dos micros. com ponentes discretos vindos do ex
ser desenvolvida. Com desenvolvimento Nos componentes eletrônicos a maior terior. Exceção feita foi a dos componen
tecnológico produzem-se bens e serviços transição foi a da válvula termoiônica ao tes para aplicações de potência cujo pro
para satisfazer as necessidades da po transistor e ao circuito integrado. Poucas cesso físico-químico, mais simples, aqui
pulação. Em paralelo, gera-se conheci empresas sobreviveram, como conseguiu era feito. Com o correr dos anos, o in
mento e com ele autonomia decisória para a Pnilips. teresse do empresariado brasileiro para
o País. Tecnologia é, portanto, algo alta Ainda borbulham novas transições com este mercado coincidiu com a saída
mente desejável de ser alcançado. tecnológicas em microeletrônica. Duas
O mercado é patrimônio que toda na delas: a fabricação flexível (fazer compo das empresas norte-americanas do País
ção utiliza e negocia. Mercado livre é nentes à vontade do freguês, porém com (RCA, Philco), algo que ocorreu há cerca
como amor livre, muito bom para os ou tecnologia de produção em massa) e o pro de dez anos. Uma tentativa inicial de
tros, já em casa... O progresso tecnológico jeto flexível (a mesma idéia com o empre dominar aqui o ciclo do silício não deu
tem lá suas regras — evolui quase sempre go do compilador de silício). Deste modo é certo. Foi o fracasso da Transit, em Belo
através de pequenas melhorias sucessi o momento do Brasil encontrar seu nicho Horizonte.
vas. Mas ás vezes, Bingo! surge uma novi tecnológico em microeletrônica contra O Brasil, hoje, domina praticamente
dade radical que se presta, inclusive, a pondo-se aos mitos de que país em desen todo o ciclo do silício (vide Rev. Telebra-
novos usos. E a transição tecnológica. A volvimento deve investir em tecnologia
época da evolução gradual da tecnologia é estável até alcançar o estágio dos países sil N/D 88, pág. 38) à exceção do proces
muito ruim para quem está de fora e quer desenvolvidos e de que não adianta tentar so físico-químico de difusão e o da im
ingressar no mercado, pois quem está por que só a IBM investe um bilhão de plantação iônica para circuitos de muito
dentro se consolida e quem está de fora dólares em P&D. alta integração (da ordem de 2 micra),
não penetra. A transição tecnológica, por cujas Silicon foundry ainda não foram
im plantadas no País, apesar da linha de t