Page 45 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1988
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trial global, de longo prazo, que deter
mine, em suma, "o que deve fabricar o
País e o que deve importar”, salientou o
técnico.
De acordo com Antonio Antunes, é
preciso que a nova política industrial re
organize o relacionamento do Estado
com a iniciativa privada, estimulando o
desenvolvimento tecnológico autô
nomo; defina o papel econômico da mul
tinacional; e promova o diálogo entre di
versos agentes de um mesmo complexo
industrial, visando term inar com as.
queixas circulares quando "todos se
queixam de todos”.
No entender do especialista do Mi
nistério da Fazenda, a implantação da
nova política industrial deverá ser gra
dual, porém, sem efetuar uma abertura
incondicional para o capital privado (in Pcdro Samz, economista da Cepai Antônio Antunes, Ministério da Fazenda
terno ou externo) como querem os neo-
liberais — mesmo porque todo país tem
sua dose de protecionismo, mais ou me dindo o mundo entre os que exportavam mulando patrimônio produtivo há qua
nos disfarçada — nem mantendo toda m anufaturados e os que exportavam se quatro décadas e este não deve ser
economia nas mãos do Estado, como pre bens primários "Os anos 50/60 foram os trocado por problemas de dívidas a curto
conizam os nacionalistas. da expansão das multinacionais ao in- prazo”, lembrou o técnico da Cepai.
"Do ponto de vista geopolítico, o Bra serirem-se no modelo de substituição de Em relação à industrialização do
sil precisará renovar alianças interna im portações dos países do terceiro Brasil, Ignácio Rangel, do Conselho Fe
cionais, provavelmente com a América mundo Foi a época dos financiamentos deral de Economia, vê três ciclos longos:
Latina, para alcançar grandeza de es internacionais, com juros baixos e in o arteeanal para consumo dos próprios
cala de mercado para seus produtos in versões a lorvgo prazo”. engenhos e fazendas coloniais, o artesa-
dustriais, na próxima década. Em rela Explicou Sunkel, a seguir, que "com nai para satisfazer o mercado e o indus
ção às multinacionais, a atitude deverá os choques do petróleo dos anos 70, a trial para substituição de importações,
ser neutra, mas do ponto de vista estra maior parte (70G) do financiamento in iniciado na década de 30. Ele observa
tégico será indispensável m anter um ternacional foi feito por bancos privados que a economia brasileira sempre acom
núcleo de em presas nacionais que que passaram a reciclar pctrodólares. panhou, em maior ou menor grau, o
garantam o desenvolvimento da tec Mas tal sistema demonstrou se precário ritmo das economias da Inglaterra e de
nologia”, disse Antonio Antunes lem e passou a financiar o próprio serviço da pois dos Eslados Unidos, mas que foi
brando que "chegou a hora do País com dívida (rolagem), chegando, cm 82, ao fruto das crises internacionais que o
petir internacionalmente e que se o pro impasse da dívida externa, que freou o Brasil cresceu, como ao passar do capi
tecionismo deve existir para proteger mi/ngre do desenvolvimento econômico talismo mercantil para o industrial, por
novos empreendimentos, não deve ele do terceiro mundo, em especial nu ocasião da Segunda Guerra Mundial.
servir para disfarçar custos embutidos”. América Latina.” "Agora, com a crise da dívida externa
Oswaldo Sunkel observa que é na co poderá ser a oportunidade do Brasil par
Perspectivas brança da dívida externa que reside o tir para a fase do capitalismo financeiro,
recrudescimento da filosofia neoliberal com base na privatização dos serviços
Ao historiar a crise atual da América dos países desenvolvidos que, através de públicos, que permaneceriam, no en
Latina, Oswaldo Sunkel lembrou que o organismos internacionais, preconizam tanto, sob orientação do Estado”, racio
desenrolar da economia mundial do pos- a redução da presença do Estado na eco cina Ignácio Rangel.
Guerra teve como divisor de águas os nomia e a abertura internacional dos Já Flávio Versiani, da Universidade
anos 70. Antes, houve uma fase de ex mercados, numa atitude coerente com a de Brasília, acha que se autores como
pansão que se seguiu ao embalo indus maximização do retorno do capital apli Buarque de Holanda, Caio Prado, Gil
trial da àegunda Guerra Mundial divi- cado. "Mas é a América Latina vem acu- berto Freyre mostraram em suas obras
uma visão romântica do subdesenvolvi
mento, outros, numa visão fatalista, o
O que é Cepai? yiram como condicionado por problemas
do tipo de colonização ou dos problemas
A Comissão Econômica para América dental. geográficos ou climatológicos a que o
Latina e Caribe (Cepai) constitui uma das A cada dois anos a Cepai realiza con País foi submetido. A Cepai viria a in
cinco comissões económicas regionais da ferências, tendo a últim a ocorrido, em troduzir uma visão mais científica ao es
Organização das Nações Unidas (as ou abril de 88, no Rio de Janeiro. tudar o comércio internacional na
tras: África, Ásia Ocidental, Ásia Pací A doutrina cepalina, conhecida como América Latina, com base em ganhos
fico e Europa) que se subordinam ao Con centro-periferia, nasceu nos anos que se desiguais entre centro-periferia e de
selho Econômico e Social da ONU. seguiram à Segunda Guerra Mundial e pendência da tecnologia externa como
Criada em 25 de fevereiro de 1948, a foi explicitada pelo economista argentino
Cepai é sediada em Santiago, no Chile, Raul Prebish, em 49, ao propor o cresci fator de desenvolvimento. "A idéia ce-
possuindo subsedes em Bogotá, Buenos mento da América Latina de dentro para palina que industrialização e planeja
Aires, Montevidéu e W ashington. Inte fora, mudando a pauta de suas exporta mento estatal resolveriam todos os pro
gram a Cepai, o Instituto Latino-Ameri ções para incluir manufaturados, isto é, blemas latino-americanos é tida, hoje,
cano e do Caribe para o Planejam ento promovendo a industrialização interna como ingênua, mas continua verdadeiro
Econômico e Social (Ilpes) e o Centro Lati por substituição de importações. Os cho- o pensamento que o crescimento da re
no-Americano de Demografia (Celade). O ues do petróleo, dos anos 70, e a abun- gião poder ser treado por fatores exter
atual secretário executivo da Cepai é o ância de financiamento no mercado fi nos”, registrou o professor da UnB.
guatemalteco Gert Roshental. O brasilei nanceiro internacional, enfraqueceram o
ro Alfredo Costa Filho ocupa a direção pensamento da Cepai, que agora se re — Em termos globais, o crescimento
geral do Ilpes. A atuação da Cepai reflete nova com o problema da dívida externa e da economia dos países desenvolvidos
o posicionamento dos governos de seus com o movimento para maior integração caiu de 3,1 para 2,1%, nas décadas de
quarenta estados-membros, que incluem latino-americana. (JCF) 70/80 e 80/86, respectivamente, ao pas
Estados Unidos e países da Europa Oci- so que nos mesmos períodos a queda foi
de 5,5 para 1,5% nos países em desen-
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