Page 32 - Telebrasil - Julho/Agosto 1988
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A PEQUENA E MEDIA
EMPRESA NAS TCs
Guarino e Lacerda:
Pessimismo e otimismo no futuro do País
A palestra do engenheiro eletricista Antomo de proteção ao trabalhador é um eficiente ins econôm icas, sociais, políticas, ideológicas,
Guarmo de Sousa, ex-presidente da Flupeme trum ento de caixa do M inistério do Trabalho, geram inquietação e perplexidade, trazendo, ao
(Associação Fluminense das Pequenas e Me prmcipalmente pelas multas que a ffscalizaçáo mesmo tempo, em seu bojo, alternativasedesa
dias Empresas) e ex-presidente da Cebrai (Cen aplica contra as empresas". fios fascinantes ao empresariado.
tro Brasileiro de Apoio as PMEs), e que atual O palestrante falou ainda sobre a situação Para o conferencista, “ o nosso universo de
mente é empresário do setor de plástico, foi caótica do Banerj, banco do qual ele participou telecom unicações não está isolado dessa efer
uma das mais aplaudidas, tal a veemência com do Conselho de Administração, "e hoje estou vescência e a forma como iremos interagir de
que expôs a situação das pequenas e médias com meus bens alienados, e para sair do País te pende exclusivamente de nossa competênciae
empresas, bem como suas opiniões a respeito nho que pedir licença ao Banco Central". visão estratégica. Eu acredito em nossa capaci :
desse segmento da sociedade brasileira. Contou, em seguida, sobre as dificuldades tação e os dirigentes do setor deram e conti
Guarino começou contestando contra “ uma das pequenas e médias empresas diante dos al nuam dando mostras de competência".
falácia muito conhecida, muito tradicional e tos juros do mercado financeiro e acusou a buro Segundo M areio Lacerda, “ os pameisda
muito aceita de que o pequeno empresário sabe cracia governamental como um dos principais Telebrasil têm sido ao longo do tempo um forum
tudo, ao pequeno empresário falta dinheiro para
produzir, fa ta mercado para ocupar" Para ele, J 1
por sua longa experiência no setor, “ falta prmci-
palmente competência gerencial e, por tudo is
ÍIC
so, tenho recebido algumas pedradas de meus
próprios pares quando afirmo essa minha opi
mão, publicamente“ .
O pequeno empresário brasileiro, de
modo geral, e até por comprometimento cul
tural com o nosso estagio de desenvolvimento, e
um desconhecedor profundo do manejo das tec
nicas financeiras, de estoques, de administra
çáo, de produção, etc. No entanto, é um pro «
fundo conhecedor da tecnologia modular da sua 4
empresa — disse o orador A \ V
Guarino deu como exemplo a época do Plano
Cruzado, quando as microcmpresas saudaveis o i n
sem dividas se transformaram, de um dia para Lacerda, sobrevivência do capitalism o nas em Guarino: melhor capacidade gerencial teria evi
outro, em pequenas empresas altamente com presas forçará sua moderm/açao. tado a debâcle ocorrida em 86 e 87.
prometidas com todas as formas de dividas e es
tranguladas financeiramente.
- Eu náo quero livrar nenhum fator externo entraves nas negociações.
desse compromisso de fracasso de milhares de Outra dificuldade explicou o empre altum ente qualificado para debate das questões
pequenas empresas — ressaltou o palestrante sano é .i capitalização da empresa no Brasil. dc TCs, envolvendo todo o segmento interes
—, mas estou enfocando inicialmente que uma Ate pelas condlçoes Inflacionárias que nós vive sado, o grau de franqueza e a abertura que são
melhor capacitaçao gerencial certamente evi mos, nao existem investimentos lixos e nem re com uns a esses painéis, além da diversidade de
taria esse debaele ocorrido em 86 e 87. origem dos participantes que asseguram onivel
cursos para esses investimentos O BNDES atua de contradições dem ocráticas necessárias ao
Mais adiante de sua palestra, Antomo Guari através dos bancos de desenvolvim ento, que
no disse que a qualidade do produto é outro fa sao, na maioria, agências que não têm como aperfeiçoam ento e evolução das questõesabor
tor fundamental de dificuldade das PMEs a ní conviver com a pequena empresa. Ou então são dadas.
vel interno, porque o pequeno empresário nao altamente paternalistas em programas de m i- Falando sobre política industrial, o execu
tem como influenciar a qualidade da m até croempresas. tivo lem brou que “ implantou-se uma infra-es
ria-prima, enquanto a capacitação dos opera Guarino revelou o lobbymg que os pequenos trutura básica que perm itiu o relativo salto de
rios da pequena indústria e outro fator impor produção nos últim os 30 anos, o que nos levou a
e médios empresários fazem diante da Consti posição de 8:' economia do mundo ocidental
tanto da geração de estabilidade e qualidade, tuinte desde 1987 e que esperava que a nova
mesmo porque o processo de seleção de pessoal Carta Magna melhorasse a situação desses em Hoje, enfrentam os o desafio cie mantermos um
ainda é muito precário. ritm o de crescim ento capaz de assegurar uma
presários. m elhor distribuição da renda per capita da po
Segundo Guarino, “ com raras exceções, o
Tudo o que basicamente discuti aqui está pulação".
trabalhador dificilm ente incorpora novos ensi
consubstanciado num documento que sera en Nosso governo esta enredado na própria
namentos, a partir do momento em que é adm i
tregue aos parlamentares federais, às Assem indefinição e nas dificuldades politicase econô
tido numa pequena empresa Ele adquire ape
bléias Legislativas e às Câmaras M u n icip a is micas. As m ultinacionais se assustam coma in
nas adestramento proprio da função que desen
|)ara adaptação pós-Constituiçào. Essa é a m i certeza de retorno de seus investimentoseoem
volve, nunca incorporando os ensinam entos
nha visão desanimada, desiludida, de quem lu presariado nacional hesita diante das idase vin
provenientes das novas tecnologias. Ainda é
tou cerca de 10 anos na liderança de pequenas das do governo, e a maioria prefere não correr
grande a lacuna entre as fontes do saber e as
e medias empresas. Se há alguns pontos positi grandes riscos — frisou o palestrante.
fontes de transformações do saber em bens de
vos somados ao longo desse trabalho, há tam Mareio Lacerda entende que “ a própria ne
consumo e produtos".
bém um resultado talvez negativo-, uma pro cessidade de sobrevivência do capitalismo no
Dizendo que a lei das empresas lim itadas
funda desilusão em termos de perspectivas para Pais irá forçar sua modernização e abandonam
(l tda.) nao distingue as de fundo de quintal e as
a pequena empresa no Brasil — co n c lu iu o mero protecionism o. Trata-se da construção de
pequenas empresas que pertencem a holdings orador. uma sociedade apoiada em empresas estataise
como a Volkswagen, o conferencista acrescen
privadas, no sentido de encontrar um caminhe
tou que “ as legislações federal, estaduaise m u Márcio Lacerda interm ediário que permita a abertura soberai'3
nicipais sao altamente perversas com as micros
da econom ia".
e pequenas empresas, haja visto que elas sao 0 eng. Mareio Araújo Lacerda, diretor de Não podemos nos queixar de falta depd:
geradas para controlar e aumentar a arrecada equipamentos da Batik e presidente da Abecor tica in d u stria l no setor de telecomunicações
ção do erário público“ . tel, últim o orador do XVIII Painel Telebrasil, in i Essa política deu excelentes frutos ao Pais. ^
Quanto a legislação trabalhista, Guarino ciou sua palestra frisando "a im portância do m edida em que assegurou o desenvolvimento
acha que “ muito mais do que urn instrumento momento em que vivemos, onde as questões da industria brasileira - - afirmou ooradoí
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