Page 38 - Telebrasil - Julho/Agosto 1987
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XVI PAINEL TELEBRASIL
Mitos e Realidade das TCs
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que a estrutura básica das telecomunicações
deve permanecer nas mãos do Estado, que deverá
prover ao transporte integrado da informação Se
gundo Uchóa, deve também permanecer a idéia
de monopólio — um mito precioso — que pode
ser entendido também, em algumas circunstân
cias, como um monopólio de regras comuns que
poderão gerir diversas instituições voltadas para o
mesmo objetivo, como aliás diz a lei.
— Finalmente, deve se tomar cuidado com o
m ito de que todo empreendimento privado e
maléfico e de que todo empreendimento estatal
está protegido das tramas do mal. Tal como no
mito das duas faces, ambos os lados apresentam
deficiências e pontos fortes. Há astúcia em am
bos os lados e virtudes em ambos os lados— disse
o palestrante.
Encerrando a lista dos mitos, Uchóa também
colocou o nacionalismo exarcebado e sua aplica
ção não homogênea, e considerou que certas
áreas, como é o caso da informática, são defendi
das por amplos segmentos da sociedade, ao passo
que em outras são inteiramente dominadas por
multinacionais e ninguém reclama
Para o conferencista, é estéril persistir na dis
cussão de conceitos muitas vezes inerentemente
ambíguos. E arrematou seu discurso, que qualifi
Telebrasil reuniu Lrés ex-Ministros: H. Mattos (l.°E), E. Quandt <2.°D) e R. Ludwig (l."D). cou de ensaio, dizendo:
Também na mesa, (E-D), Antonio João, A. Carreira, R. Lamoglia. — Se a tribo julgar que o enredo atual não está
bom, então que escreva outro, pois idéias não fal
tam. Mas que o enredo escolhido se torne um mito
precioso: com o Kepler podemos descobrir
desentendimentos de linguagem, simbolizados nopólio, desregulação, são entendidos de modo melhores leis para compreendermos o que se pas
pelo mito da Torre de Babel e é conveniente lem diferente por cada membro do grupo e em conse-
sa no setor das TCs. Porém, a decisão da escolha
brar que toda linguagem tem duas faces como a qüência na angústia de querer quebrar a inerente não pode se eternizar. Mesmo com algumas ale
de Janus: uma que une e outra que desintegra e ambiguidade dos conceitos, o setor com isso vai
gorias inacabadas, mesmo que o enredo não agra
reforça os contrastes — alertou Uchóa. perdendo a ação, por questionar demais, por re
de a todos os figurantes, é tempo de a Escola se
Para o conferencista, o perigo maior ocorre en gulamentar demais, por querer definir demais,
apresentar com garbo no desfile simbolicoda
tão quando o cérebro racional se descontrola e ponderou o conferencista.
Marquês de Sapucaí. A melhor alternativa náoéa
passam a prevalecer as emoções da parte equina E onde estará o cerne da questão? — indaga
de nos eternizarmos na escolha do melhor mito
do cérebro ou, o que é ainda pior, os instintos rep- Uchóa E é ele mesmo que responde ao dizer que
do melhor enredo, pois todos se equivalem de
tilianos simbolizados pelo crocodilo. Quando são não foi o modelo do monopólio que dificultou a
uma maneira ou de outra, mas sim a de partirmos
as emoções o fator dominante pode se esperar até vida do setor, mas sim a ingerência demasiada
para o desfile, com a intenção de obter, tal como
uma trégua, mas quando são os instintos que pre mente grande do Estado, que se apropriou indevi
no passado, nota dez em todos os quesitos e as
valecem, o ser humano se entredevora em cruza damente das riquezas do setor, como no caso do sim encantarmos as arquibancadas com a harmo
das estabelecidas com base em dogmas desati FNT Defendeu o vice-presidente da Embratel
nia do nosso enredoa JC F) v
nados.
A seguir, particularizou o orador o encaminha
mento de seu pensamento para os problemas do
setor, valendo-se dos conceitos estabelecidos ao
longo de sua brilhante digressão humanistica, Ao
fazer uma imagem metafórica do setor de TCs,
disse Uchóa que este se habituou a operar como
funciona a parte mais nobre do cérebro, isto é, de
maneira lógica e racional. No entanto, outros gru
pos da grande tribo do Estado, da Seplan aos in
formáticos, entoaram cantos, muitos entusiasma
dos pela paixão do cantar, mas, possivelmente,
sem o mesmo conteúdo do canto e sem a mesma
laboriosa história da tribo das telecomunicações.
O setor, visto em perspectiva histórica, come
çou a perder terreno e não soube recorrer, em
tempo, a seus mitos preciosos e contentou-se em
investir em seu cérebro novo, na sua lógica, no
seu córtex para enfrentar suas dif iculdades. Toda
via, segundo o conferencista, isto não se revelou
suficiente e havia que também recorrer as emo
ções do cérebro equino e até em última instância
às ameaças reptilianas do crocodilo para se rever
ter a tendência declmante da autonomia do setor,
ameaçada, historicamente, em seu próprio ter
reno.
— Neste contexto as dificuldades de lingua
gem e de interpretação serviram para embaralhar midade de confraternização durante a abertura do X V I Painel Telebrasil. em ,^jí: -
a discussão. Tal como numa nova Torre de Babel, fez parte da programação sócio-cultural do evento, onde também foram inclu^ ‘ ,
os conceitos de projeto nacional ou brasileiro, mo