Page 9 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1985
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Origem do capital
Um importante aspecto da discussão
refere-se à origem do capital das empre
sas. Uns são de opinião que este é um
dos aspectos secundários da nacionali
zação e que a necessidade primordial é o
domínio da tecnologia — o saber como
fazer.
— A defesa da indústria nacional não
é assunto discutido somente no Brasil.
Não existe país no mundo que não pro
teja a indústria instalada em seu pró
prio território. Assim, por exemplo, a
própria iniciativa do desregramento da
AT&T nos Estados Unidos exerce pres
são para que outros países façam o
mesmo, abrindo e internacionalizando o
mercado mundial de telecomunicações O delicado problema da liberação das contratações este ano foi outro assunto abordado pelos
— constata Luiz Carlos Bahiana, da administradores.
Equitel, que se diz, por outro lado, alar
mado com "a exagerada preocupação
que é dada à composição acionária do ca tar a mesma estratégia empregada para conizado pelo FMI”.
pital dâs empresas, no Brasil”. o setor automobilístico — uma indús Ficou claro ao longo da discussão que
tria multinacional grande empregadora apesar de sua diversificação — há em
de mão-de-obra — o que já não é o caso presas que além de servir ao Sistema
do setor industrial das TCs”. Telebrás produzem para os mercados de
Existe, em resumo, entre o empre informática, energia elétrica, entrete
sário o consenso de que o aspecto funda nimento, eletrônica profissional, do
mental da questão ainda é o domínio da méstica e para aplicações militares — a
tecnologia que depende de um complexo indústria sente-se preocupada com o
de fatores e que define o País como um atraso das encomendas por parte do Sis
todo. Por outro lado, eles não ignoram a tema Telebrás.
existência de uma Lei de Informática — O atraso do início da execução or
que requer capital 70% nacional para as çamentária afeta a todos, mas penaliza
empresas que produzem equipamentos particularmente a pequena e média em
de tecnologia digital, fato que já está presa — reconheceu Roberto Lamoglia,
tendo reflexos na indústria de telecomu- Diretor de Assuntos Industriais, prome
nicações. E o caso, por exemplò, do equi tendo que a Telebrás deverá investir de
pamento PABX (CPA) digital, onde em 500 a 600 bilhões de cruzeiros nesse seg
presas como a Sul América (Philips) op mento da indústrià "que queremos fo
taram pela total nacionalização de seu mentar”.
capital para poder importar insumos e A incerteza na aprovação do orça
permanecer no mercado. mento afeta a programação e o planeja
Almir Vieira Dias, presidente da Telebrás. Estas e outras questões estão sendo mento do sistema, observaram os em
submetidas à discussão no setor, in presários, que aproveitaram para ofere
cluindo aspectos fundamentais de sua cer sugestões.
Para o executivo, a grande distinção política industrial, tais como: O que Antonio Carreira aludiu, por exem
a ser feita é entre grandes, médias e pe caracteriza um projeto brasileiro? Como plo, à viabilidade da fixação de uma pro
quenas empresas, um modelo que consi deve ser um programa de nacionaliza gramação mínima, baseada num limite
dera estável, visto que "mantida a lu ção? Quem deve ter acesso prioritário de investimento também mínimo. Luiz
cratividade das grandes — através de aos produtos desenvolvidos pelo CPqD? Carlos Bahiana, por sua vez, partindo
encomendas proporcionais à sua escala do princípio de que, em média, são con
— não sentirão necessidade de adicio Curto prazo tratados 400 mil terminais/ano, sugeriu
nar à sua linha de negócios produtos de que, a partir desse número, poder-se-ia
importância secundária, que poderiam No encontro promovido recente programar qual o volume correspon
até subsidiar”. mente pela Telebrasil, em São Paulo, dente de canais telefônicos, blocos de
Também o presidente da Telebrás, para uma discussão informal sobre o DG, além de outros equipamentos e ser
Almir Vieira Dias, acha que há espaço modelo industrial das TCs, observou-se viços. Comentou ainda — numa posição
para todos e que a divisão da indústria a preocupação dos presentes quanto à que julgou um pouco revolucionária,
deve ser conduzida em relação ao tama realização orçamentária para este ano mas desburocratizante — que a nego
nho das empresas e reconhece realisti ou seja quanto às perspectivas do setor a ciação direta (não descartando as cole
camente que "a exemplo de outros paí curto prazo. tas de preços) é tão válida quanto uma
ses do 3.° mundo, não podemos prescin — O ano de 1985 foi particularmente licitação, sugerindo "eliminar a para
dir da alta tecnologia internacional”. indefinido em termos orçamentários, fernália que acompanha normalmente
A visão do engenheiro Cláudio Das- visto que as contratações das estatais toda concorrência”.
cal, da Elebra, já é outra: "Ao longo de foram proibidas no início do ano, sob O delicado problema da liberação das
sua história, o Brasil optou em ser um pena de sanções pessoais aos transgres contratações este ano foi outro assunto
país industrial e, nos últimos vinte sores — disseram os empresários — abordado pelos administradores tendo o
anos, quis o domínio de sua própria tec acrescentando que "o limite de investi presidente da Telebrás esclarecido que
nologia, procurando conseguir autono mento mudou várias vezes frente a ra "o sistema, hoje, tem um teto autorizado
mia de decisões em todos os níveis”. Na zões conjunturais e até pela necessidade de 4 trilhões de cruzeiros” visto que não
opinião do empresário, não se deve ado da redução do déficit público, como pre havia sido, até a época da reunião, "for-