Page 33 - Telebrasil - Março/Abril 1985

vale citar a propósito o que diz monogra­ quanto tradicionalmente o fluxo de exe­ semelhante o computador poderá am ­

fia publicada pela Embratel: cução das instruções (o programa) é es­ pliar seu próprio conhecimento a partir

"Com o advento da IA o homem di­ tabelecido a priori e depois o computa­ de deduções (inferências) do tipo: se Só­

vide sua singularidade de ser racional. dor segue uma sequência pré-estabele- crates é humano e como todo humano é

Passa a distinguir-se dos animais pela cida na nova maneira de programar, mortal então Sócrates é mortal - para

racionalidade e das máquinas inteli­ quem estabelece o caminho a ser segui­ gaúdio dos que se deleitam em estudos

gentes pelos que alguns chamariam de do é a própria máquina, munida apenas de lógica menor.

alma e outros de consciência ou psiquê. de instruções gerais com regras esta­

As conseqüências dessa desestabiliza- belecendo uma condição e uma ação cor­ Comunicação Homem-Máquina

ção em termo filosóficos, psíquicos e so­ respondente. O que o computador então

ciológicos são inúmeras e começam a fará: a) — interagir com o usuário para Na realidade, a comunicação ho­

despontar'’. identificar a existência de fatos, eventos mem-máquina não existe de per si e sim

ou situações; b) — confrontá-los com as a comunicação de homem para homem

Linguagens de computação regras estabelecidas; c) — concluir no­ através de máquinas. O que se procura,

vos fatos, eventos ou situações, até che­ no entanto, é que a interface entre ho­

— Ao se falar de IA, vem logo à men­ gar a uma conclusão ou a um diagnós­ mem e máquina se aproxime o mais pos­

te a utilização do computador eletrônico tico”. sível da linguagem natural e da inter­

não mais para processar dados numéri­ Dentre as novas linguagens inter­ pretação de símbolos, imagens e sensa­

cos, mas sim para processar conheci­ pretativas destaca-se a Prolog, que sig­ ções do ser humano. Daí surge a questão

mentos. Convém relembrar que o com­ nifica literalmente Programação Ló­ de como o cerebro armazena, controla e

putador em sua essência é constituído gica, nascida ao início da década de 70, explora a informação e chega ao conhe­

de uma memória onde são armazenadas nos laboratórios de IA da Universidade cimento.

ordenadamente milhares de informa­ de Marselha (França). De acordo com Clarisse Sieckenius

ções e de uma unidade de processa­ A abordagem da linguagem Prolog "a comunicação homem-máquina é algo

mento que opera sobre estas — explica consiste em "descrever um universo que fundamental para as aplicações de in­

Heider Coelho. corresponde aos objetos de um problema teligência artificial:

O computador obedece a sequência

de instruções que de alguma maneira

foram armazenadas em sua memória. A COMO OPERA O "PROLOG

nível físico, as coisas se passam em velo­ 0 fato de que Joáo é o pai de Pedro sera representado na linguagem

cidade eletrônica, traduzidas pelos en­ Prolog pela seguinte relaçáo ou "cláusula":

genheiros projetistas, em grandezas pal (Joáo, Pedro)

tais como volts, segundos ou micro­ Joao e Pedro são símbolos unidos pela estrutura (ou combinação) que

amperes. Em cima destas grandezas, de constitui a relaçáo precedente. í a partir de tais estruturas que é

manejo pouco prático, especialistas cri­ possível definir relações mais complexas ou de nível superior, tal como

aram edificações lógicas e matemáticas, a noção de avô.

verdadeiras linguagens destinadas a co­ Um avó é o pai de um ascendente direto (pai ou máe), o que permite

municar ao próprio homem, o que este afirmar de maneira um pouco mais formal:
X é o Avô de Y e apenas se X é o pai de Z e que essa pessoa Z é
manda a máquina fazer — edificações ascendente direto de Y.

estas conhecidas genericamente por lo- Na linguagem Prolog a mesma afirmação teria a’seguinte codificação:

gicial ou software. Avô (*X,Y*) — Pai (*X,*Z) - ascendente direto fZ /Y )

Nas linguagens de computação ditas Os elementos desconhecidos na linguagem Prolog são denominados

clássicas, como Fortran e Cohol (mais le variáveis e são um nome começado pelo símbolo‘ .

an tig as), o m ecanism o é sem pre o Para pesquisar se André é avô de Pedro, o computador pesquisa os

mesmo e consiste em comandos que má­ ascendentes diretos de Pedro e ma encontrar João e Maria. A seguir

quina deve obedecer, perguntas cuja pesquisaria se Andre é pai de Joáo ou de Mana e concluiria
afirmativamente que André é avô de Pedro.
resposta levam a tal ou qual caminho ou

repetir certas operações até que deter­

minada condição seja obtida. E a pro­

gramação, denominada pelos franceses e em seguida expressar as relações lógi­ — Há uma polêmica de longa data de

Barberye e Martin de imperativa, visto cas que interligam esses objetos”. O qual é a verdadeira ligação entre lin­

que, nela, o homem comanda passo a computador pode assim responder a guagem e pensamento. Há os que defen­

passo o que a máquina deve executar. questões formuladas sobre o universo do dem que o pensamento é sempre codifi­

Diga-se de passagem que este modo de problema. Na linguagem Prolog o pro­ cado em linguagem e há os que acham

programar é o que mais se aproxima gramador dirige sua indagação para que se trata de coisas independentes.

com a operação de uma máquina de cal­ aquilo que deseja saber e não para "di­ Não resta dúvida, todavia, que toda a

cular e menos com a maneira de proce­ tar os passos exatos na sequência certa explicitação do ser humano é apoiada na

der da psicologia do ser humano. de como o computador deve agir”. (Vide linguagem, bem como a transferência

Box). de conhecimentos para a máquina.

Novas linguagens Linguagem como o Prolog são parti­ Dessa maneira — explica —, são ne­
cularmente adaptadas para a análise e cessárias equipes m ultidisciplinares

Com o passar do tempo desenvol­ interpretação da linguagem humana. para o desenvolvim ento de IA, in ­

veram-se novas linguagens de computa­ Elas podem por exemplo reconhecer a cluindo psicológos, filósofos, matemáti­

ção, como Lisp, Basic e APL, nas quais estrutura de uma oração identificando o cos, linguísticos e técnicos em computa­

estabeleceu-se uma comunicação in­ seu sujeito, verbo e complemento, além dores. Essas equipes discutirão assun­

terativa entre homem e máquina, apro­ de reconhecer categorias gramaticais e tos tais como epistemologia (como se

ximando-se muito mais com esse diálo­ compilar vocabulários. passa do não conhecer ao conhecer), se­

go da maneira de agir da maioria das No caso da oração o gato pegou o ra­ miologia (como se comunica o signifi­

pessoas. Tais linguagens são denomina­ to, um computador, dotado de uma lin­ cado de algo), semântica (o significado

das de interpretativas. guagem "inteligente”, identificará que das palavras), sintaxe (funções das

Este mesmo assunto é bem enfocado o é um artigo, pegou é um verbo e gato é palavras na sentença), fonética (arti­

por J.P. Jacob, C. R. Souza e G. E. Tomp­ um substantivo identificado assim a culações de sons) e muitos outros. Ocor­

kins, da IBM, ao afirmarem que "en­ existência de uma oração. De maneira re, portanto, uma evolução em relação^