Page 5 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1984
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editorial
A N O V A
Depois de quase 20 anos de sereno e veloz
navegar, o sistema de telecomunicações bra
sileiro começou a ser sacudido por ondas que
fustigam a sua relativa tranquilidade. Como
a tripulação — apesar de jovem — adquiriu
rapidamente experiência e maturidade no
desempenho das suas tarefas, temos a segura
confiança de que ela saberá conduzir a nau
pelos melhores caminhos, de modo que a sua
integridade física seja preservada e os incô
modos sejam os menores possíveis para todos
os que formam este grande barco, que navega
a serviço da sociedade brasileira.
Na origem destas ondas estão os assuntos
familiares em todos os debates nos quais, nos
últimos anos, se envolve a comunidade de
telecomunicações: restrições orçamentárias, nolõgicos colocados á disposição do setor. Es imaginar que poderemos desenvolver tais
ociosidade da indústria, carência de recur tes avanços, por sua vez, ou por causa deles ações sobre premissas imperativas. Tudo
sos, privatização, quebra de monopólio, con criaram perspectivas de novos e variados ser deve estar calcado em competência e agili
flitos de área de atuação, novas tecnologias e viços e estes, quase numa reação em cadeia dade empresarial. A história é rica de exem
novos serviços, teleinformática, nacionaliza induziram a mais usos e aplicações. A reali plos de gigantes que pereceram ou não rea
ção, enfoque empresarial estratégico, mar dade tecnológica do momento presente, pro giram à autodestruição, por não terem se
keting e alguns outros temas não menos sig jetada concretamente para um futuro não adaptado à evolução das coisas.
nificativos. muito remoto, é tão abrangente e dinâmica A agilidade é fundamental para que solu
Se bem que nem todos se constituam em que provoca, necessariamente, uma refor ções ótimas a longo prazo não nos inibam
ameaças diretas e alguns decorram da na mulação nos conceitos estabelecidos e enrai quanto a medidas de curto prazo que venham
tural evolução do setor, é fora de qualquer zados no proveitoso uso pela sociedade, a atender às emergentes necessidades de
dúvida que a rapidez desta evolução acaba durante mais de um século, do telégrafo, do nossos usuários, por serviços cada vez mais
por estimular, no mínimo, um sentimento de telefone e do telex, como meios inigualáveis eficientes e económicos. Estas necessidades,
inquietação. para rápidas trocas de mensagens. como tradicionalmente era feito, não podem
Neste particular, um primeiro conforto As circunstâncias em que se implan se resumir em quantidade e qualidade; há
nos vem de pontos distantes, quando pode taram redes para operar estes dispositivos, a que se avançar mais e entrar no campo pros-
mos observar que o panorama, em outros nível mundial, estão mudando de forma tal pectivo da sua identificação clara.
mares — guardadas as particularidades de que às vetustas e tradicionais organizações Não estamos apregoando como solução
cada situação — não difere substancial que soberanamente reinaram durante este simplista a manutenção de status monopolís-
mente daquele que estamos vivendo. Esta tempo, oferecendo os serviços de telefonia, tico generalizado no setor, mas julgamos que
generalização não nos deixa dúvidas quanto telegrafia e telex, juntam-se, nos dias de ho deve ser lançado um alerta para o perigo de
à constatação de que estamos diante de uma je, novas e agressivas entidades que, de as empresas operadoras locais se transfor
nova ordem e, como conseqüência, as ações forma ágil e eficaz, penetram por brechas marem em simples fornecedoras de meios. As
decorrentes terão que ser ajustadas à reali que, até algum tempo, sequer imaginávamos novas tecnologias que estas próprias empre
dade presente e, provavelmente, poderão ser existir. Estes fatos se desenvolvem e assu sas auxiliaram a criar, não podem ser a fonte
não convencionais para os padrões que vêm mem contornos mais nítidos e concretos, na de sua involução se, por qualquer razão, elas
sendo adotados. trilha avassaladora da tendência de as comu- não oferecerem os serviços proporcionados
Repentinamente, despertamos para a re nicaçóes se processarem sob a forma de por tais tecnologias.
alidade de que nossa máquina tem de ser dados. A adaptação a esta nova ordem vai exigir,
ainda mais veloz, mais versátil e que em nos A verdade é que as tradicionais empresas sem dúvida, competência, despreendimento,
so mar rapidamente surgem novas naus, mo telefônicas não estão mais sozinhas no ramo alguns sacrifícios e muita unidade. A sobre
dernas, potentes, que não se preocupam mui e discussões do tipo privatizar ou não privati- vivência do nosso sistema parece depender,
to em desviar-se de eventuais rotas de coli zar, podem ganhar novas e perigosas conota fundamentalmente, destes fatores. Aliás,
são. Como o choque é desaconselhável para o ções, ao se descambar para o campo do cer não foram outros os que permitiram os re
setor, esforços têm de ser desenvolvidos para ceamento de suas opções e alternativas de tumbantes sucessos alcançados pelo setor
que as negociações não se transformem em ação. E tão ou mais perigoso de que isto, é tais nas últimas duas décadas. A unidade deve
pelejas e, ao mesmo tempo, sejam preserva empresas não se darem conta do que está se ser uma palavra de ordem dentro da nova
das todas as conquistas já alcançadas, di passando ao seu redor e não deflagrarem, ra ordem.
ga-se de passagem, não sem muito esforço e pidamente, ações orientadas para a preser
dedicação. vação do seu futuro.
Danton Eifler Nogueira
Os fundamentos da nova ordem se origi No nosso caso particular, envolvidos
nam, indubitavelmente, dos avanços tec- pelos ventos da abertura, será pura ilusão Diretor da Telebrasil
Telebrasil set/out 84