Page 35 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1984
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inimigos das máquinas industriais no sé
culo XIX, veem hoje perigo na automação
da produção. Falou sobre a necessidade de
se liberar o comércio mundial para absor
ver os produtos de automação. Referiu se
ao aumento do lazer que esta proporcio
nará e previu que certas indústrias hoje lo
calizadas em países periféricos (onde a
mão-de-obra é barata) retornarão, graças à
automação, para os países centrais.
Citando novamente Tofler, disse Ro
berto Campos que as mudanças da "tec
noesfera” com a automação serão acom
panhadas de evolução na “ infoesfera”
com a informática, o que trará importantes
conseqüências para a "socioesfera". Os
contactos entre o indivíduo e a autoridade
crescerão graças à teleinformática e meca
nismos de plebiscitos eletrônicos perma
nentes, via TV interativa, irão alterar o me
canismo democrático que passará a ser
mais direto e eletrônico (à semelhança do Empresário Henry Maksoud: “Cuidado com os pseudo-intelectuais"
que já acontece com o debate de candida
tos a cargos eletivos frente ás câmeras de
televisão). ventures (França, Inglaterra) e de transi — Das hordas de caça evoluiu o homem
A seguir, o palestrante discorreu sobre ção (México, India, Argentina). para a sociedade tribal e desta para a so
o modelo brasileiro das TCs, qualificando- Ao fim de sua análise, numa clara re ciedade civilizada. Na sociedade tribal o
ocomo um "inquestionável sucesso", e o ferência a lei de reserva de mercado, Ro indivíduo era privado da decisão moral de
definiu como centralizado na operação do berto Campos criticou o modelo "fechado" como deveria viver sua própria vida inde
serviço (um semi monopólio), e mixto, adotado pelo Brasil para sua informática, pendente e era treinado, dirigido, alimen
com predominância de joint-ventures, na que trará, a seu ver, atraso tecnológico, di tado, agasalhado como uma peça sujeita
gestão industrial — uma solução que, a ficultará o acesso ao mercado externo, não ao poder autocrático de um chefe ou oli
seu ver, imobiliza pouco capital nacional é realista (um país individado que recusa garquia. Tal como hoje acontece no regime
(pode ficar num mínimo de 17%), cria em capital das joint-ventures) e diminuirá a socialista — comentou Maksoud.
pregos e dá acesso ao mercado externo. oferta global de empregos. E finalizou com Falou a seguir da época agrícola (de
Analisou depois os diversos modelos de uma frase de efeito, ao afirmar que o país baixa produtividade e alta concentração
informática dos países desenvolvidos e em está atacado de duas viroses: o burococus dos benefícios em mãos de uns poucos) e
desenvolvimento que classificou em: com planaltmus, e o tupmococus pahdus, com deteve-se no fenômeno da Revolução In
petitivos interna e externamente (EUA, o que despertou alguns sorrisos pálidos da dustrial (nunca os bens foram tão abun
Cingapura, Hong Kong); semi-competiti- platéia. dantes), cuja falsa imagem desde o início
vos, com limitação à competição interna difundida por "filósofos e escritores sem
(Japão, Taiwan, Coréia do Sul); dirigistas, Henry Maksoud base factual econômica", foi a de que a ri
com pesquisa cooperativista e joint- queza na sociedade capitalista é adquirida
Henry Maksoud advertiu sobre os peri às custas dos elementos mais fracos dessa
gos do controle da informação pelos "in sociedade.
telectuais" cuja natureza definiu no decor Citando F.A. Hayek mostrou que o ga
rer de sua palestra e referiu-se à sociedade nho de produtividade obtido pelo emprego
informatizada para afirmar que as novas de máquinas, permitiu pela primeira vez
tecnologias da comunicação aumentarão a na história reinvestir em melhores meios
velocidade de disseminação de idéias e in de produção (capital) e criou o proletariado
fluenciarão a maneira como as pessoas (que passou a prover a seu próprio sustento
virãoa julgaras instituições políticas. Cha ainda que não tivesse ferramentas pró
mou a atenção para o aprendizado que o prias).
ser humano sempre buscou junto aos — Mas não é essa a imagem do capi
meios de comunicação e que levou a civili talismo que o movimento intelectual dos
zação a seu atual estágio. últimos cem anos tem apregoado e que
Numa digressão antropológica pro tem sido predominantemente contrário às
curou mostrar que "o homem evoluiu pelo bases político-institucionais que deram
triunfo dos elementos culturais que se força à Revolução Industrial.
mostraram mais eficazes na formação de Para Henry Maksoud, “ a classe dos in
grupamentos humanos pacíficos e livres, telectuais é surpreendentemente numero
cada vez maiores", mas que às vezes o ho sa e inclui os disseminadores clássicos da
mem revolta-se contra essa "disciplina da informação e os detentores do saber espe
civilização", por puro atavismo de senti cializado. O homem comum aprende atra
mentos tribais. vés dos canais de comunicação controla I