Page 5 - Telebrasil - Julho/Agosto 1984
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sado em saber se a empresa que a ele presta de tudo a segurança e a continuidade do pla
tais serviços é pública ou privada. E, em par nejamento, que por sua vez dependem direta-
ticular, aos usuários das áreas rurais e das mente do comportamento da administração
regiões menos rentáveis interessa ter acesso telefônica. Quem poderá prever o que vai
ao sistema mesmo que o atingimento de tais ocorrer se vier a privatização? Serão manti
áreas seja um investimento de retorno mar dos os mesmos princípios da presente política
ginal, ou até negativo para a empresa opera industrial? Será dada continuidade a um sis
dora. Parece que neste caso o administrador tema de administração profissional, como
privado teria preferência em concentrar suas aconteceu nos últimos dez anos? Tenho dúvi
Periodicamente, nos últimos anos, e repe aplicações nas regiões mais rentáveis. Não, das. Por isso creio poder afirmar que às in
tidamente, nos últimos meses, tem vindo à aos usuários certamente não interessa. dústrias nacionais não interessa a orivati-
tona a questão da privatização do Sistema Interessaria ao Governo, acionista ma zaçáo.
Telebrás. Nosso último painel comprova o in joritário do Sistema Telebrás? Será que é por O que não deixa de ser curioso é que as
teresse que o assunto vem despertando. que o Governo necessita de aplicações adicio preocupações com privatização não se mani
Para mim sempre foi um profundo e inde nais por parte de grupos privados para a ex festam só no Brasil. Sabemos que a NTT, no
cifrável mistério o fato de que tais pensamen pansão e aperfeiçoamento do sistema? Pare Japão, encontra-se numa fase de estudos,
tos pudessem ocorrer. Admitidamente, ha ce que não, pois o sistema foi construído inte com vistas a alguma forma de privatização.
sempre margem para a melhoria da eficiên gralmente através das contribuições dos Na Europa Ocidental, notadam ente na
cia e conseqüentemente do desempenho de usuários, é superavitário, limitado por impo França, a inquietação é grande pelos ru
qualquer empresa. Possivelmente o controle sições de tetos de investimentos, sem falar mores de privatização. De onde vêm essas
do Sistema Telebrás por empresários priva nas polpudas contribuições de centenas de bi pressões? Alguns analistas sugerem que o
dos poderia trazer tais aperfeiçoamentos. lhões de cruzeiros que lhe são extorquidas desmantelamento do monopólio americano
Entretanto, é preciso não esquecer que toda anualmente para amealhar recursos para o da ATT liberou forças novas no mercado
empresa grande, seja pública ou privada, ca Tesouro Nacional. Portanto, não há falta de mundial de telecomunicações que estariam
racteriza-se por uma dinâmica mais compas capitais. Ao contrario, há o uso indevido por trás destas novas tendências. Se assim
sada, conseqüència não só do grande número deles. for, devemos ficar atentos. Temos problemas
de pessoas envolvidas nas decisões, mas tam Interessará talvez às indústrias nacio suficientes no âmbito nacional, e por ques
bém da necessidade de harmonizar, nos nais? Eis uma questão que precisa ser aclara tões nacionais seria de novo conveniente que
vários níveis de gerência, interesses os mais da. A política industrial brasileira, e em par não importássemos nenhum outro.
variados e muitas vezes conflitantes. Nunca ticular a das telecomunicações, previu já há Embora os comentários acima sejam no
terá a empresa grande a agilidade da peque muitos anos um modelo industrial bem defi momento de natureza ainda especulativa,
na. E o Sistema Telebrás não é exceção. nido. Este modelo consistiu na fixação no eles se tornam importantes se puderem ex
Por esta, e por outras razões que apare Brasil de um certo número de indústrias, as plicar a privatização brasileira das teleco
cerão mais adiante, até hoje não entendi que sociadas ou não a empresas internacionais municações. Que, como vimos, não interessa
vantagens realmente traria tal operação. Ao com fabricação local e altos índices de nacio ao usuário. Nem ao governo. Também não in
longo de muitas e tediosas viagens aéreas es nalização de material e pessoal. A concreti teressa às indústrias.
gotei, durante uma determinada fase da mi zação de tais objetivos requereu anos de tra Talvez você, leitor, seja o único capaz de
nha vida, o repertório de romances policiais balho árduo e hoje se encontra praticamente responder à pergunta que me fiz, e para a
dos melhores autores internacionais. Foi consolidada. Durante esses anos estabele- qual não encontro solução lógica: a quem in
quando aprendi que, acima das preocupa ceu-se progressivamente um complexo con teressa a privatização?
ções, embora necessárias, com um monte de junto de portarias, especificações, normas e
minúcias técnicas, uma questão fundamen práticas que regulam o interrelacionamento
tal se impõe desde o início: a quem interessa o entre as indústrias, as empresas operadoras,
crime? Não há nada mais frustrante para um a Telebrás e o Ministério. O último cadastro
investigador do que o crime sem motivo da Telebrás mostra a existência de 185 forne Luiz Carlos Bahiana
aparente. cedores, dos quais cerca de 50 são fabricantes
Diretor da Telebrasil
A quem interessa a privatização? Ao de equipamentos de telecomunicações. Para
usuário? Este deseja dispor de um eficiente e as indústrias, dependentes que são de seus
seguro sistema de telecomunicações a preços programas fabris, muitas vezes com longo
aceitáveis, e não está absolutamente interes- prazo de maturação, são importantes acima