Page 23 - Telebrasil - Julho/Agosto 1984

pode se beneficiar com essa política por­
que trabalhamos com séries muito pe­
quenas. Qual a mui ti que vai concorrer
com uma empresa que faz séries de ape­
nas 50 unidades?”
Quanto à transferência de tecnolo­
gia, Bulk também não encontrou resis­
tência. Ele enviou quatro engenheiros à
fábrica da Wandel & Goltermann, na
Alemanha, para um aprendizado de seis
meses. Eles absorvem a tecnologia lá
utilizada e quando voltaram ensinaram
aos demais técnicos da empresa.
O desafio dos componentes
O principal problema para quem pro­
duz em pequena escala é, na opinião de
Bulk, a dificuldade de encontrar compo­
nentes no mercado nacional, porque es­
tes são comprados em pequenas quanti­
dades. Como ele mesmo conta: "O fabri­
cante pergunta se queremos comprar
100 mil peças e nós respondemos que
não. São apenas 522” — exemplifica.
"Outro exemplo é o nosso osciloscópio
OS-22, que pesa sete quilos e gasta mais
de 700 componentes comprados no mer­
cado nacional, à exceção de tubos de rá­
dios catódicos e .alguns acessórios sem
similar no Brasil. A falta de um só des­
ses elementos inviabiliza a entrega do
produto”, diz ele.
O pessoal de Bulk (e até mesmo ele
pessoalmente), percorre as lojas espe­
cializadas da rua Santa Efigènia á pro­
Hinnerck ou Henrique?
U m
Antes de ser Henrique, o pequeno
Hinnerck Bulk deixava Hamburgo,
na A lem anha, para acom panhar
seus pais que se transferiam para a ’
Colômbia. Daí em diante sua vida
mudou. A Europa virou local de estu­
dos com a maior parte de sua carreira
profissional desenvolvida no Brasil.
Depois do curso médio realizado na
Colômbia, Henrique Bulk voltou à
Alemanha para concluir cursos uni­
versitários. Ele se especializou em
engenharia eletrônica e de telecomu­
nicações nas cidades de Aquisgran e
Darmstadt.
Desde o início, Bulk se interessou
pelo campo das medições em teleco­
municações. Através de seu trabalho
na Wandel & Goltermann, que ele
classifica como "uma empresa de mé­
dio porte e bem conceituada no se­
tor”, Bulk conheceu o Brasil. "Gostei
e fiquei”, lembra ele. Jsso foi em
1969, "quando uma coúiunicação
telefônica do Rio Dara São Paulo era
cura de componentes. Muitas vezes os competentes, é a garantia de acesso re­
seus fornecedores estão em falta de de­ gular a componentes, a preços razoá­
terminados componentes temporaria­ veis, seja para o uso normal (para a pro­
mente, ou, em casos mais graves para a dução) ou para tecnologia de ponta (no
indústria, os componentes saíram defi­ desenvolvimento)”.
nitivamente de circulação. Quando isso Bulk vai mais longe e desabafa: "Até
acontece, é necessário fazer um dispen­ agora nunca recebemos qualquer ajuda
dioso redesenvolvimento dos equipa­ financeira para desenvolver produtos
mentos em produção. Para Bulk, uma de nossa linha nem garantia mínima de
compra. Seria altam ente estim ulante
que essas atitudes fossem observadas
pelo governo, o que permitiria, concre­
tam ente, viabilizar um crescim ento
acelerado de uma indústria brasileira
de equipamentos de medição.”
Produtos
A filosofia de trabalho na WGB é que
o sistema de medidas tem de ser muito
melhor do que o sistema a ser medido.
Assim, cada produto é testado indivi­
Tentador monocanal TM-100 aplicado em dualmente ao final da montagem. A li­
telefonia rural. nha de produtos da WGB inclui conjun­
tos de m edição seletivos, de ruído
situação ainda mais preocupante é que branco, assim como psofômetros (carac­
"nos últimos meses até fornecedores su­ terísticas de medição a nível ponderado
miram do mercado, fechando suas por­ com a curva do ouvido humano), peque­
tas por cansa da crise”. nos medidores e geradores de nível com
Qual a solução para uma pequena índices de nacionalização entre 65 a
empresa que está em fase de cresci­ 80%. No momento, o carro-chefe da em­
mento, quer progredir e competir no presa é o osciloscópio, produzido inicial­
mercado externo? Bulk aponta os cami­ mente numa linha de 300 unidades. Há
nhos: "Achamos que o maior apoio que um ano e meio desenvolvido no Brasil, o
uma indústria como a nossa pode rece­ osciloscópio da WGB cumpriu as especi­
ber, através dos órgãos governamentais ficações técnicas da Em bratel e está)
a l e m ã o q u e a c r e d i t o u n o B r a s i l
%
A vontade de ter sua própria em­
presa ganhou contorno, definido
quando Bulk sentiu que havia uma
chance real. Além do apoio funda­
mental do Geicom, Minicom e Tele­
brás, ele entrou por um caminho que
não interessava aos alemães. A fa­
bricação de osciloscópios e medidores
de monocanal não têm aplicação na
Europa. Ele os fabricaria primeira­
mente para o mercado interno bra­
sileiro e, depois, para os demais paí­
ses latino-americanos que têm siste­
mas de telefonia rural.
Para realizar seu sonho, Bulk se
Hinnerk (Henrique) Bulk: "A primeira endividou. Vendeu seu veleiro e o
coisa que nacionalizei foi o meu nome”. apartamento cobertura no Rio de Ja ­
neiro. Atualmente mora com a fa­
mília em São Paulo — tem três fi­
quase impossível e a Telebrás ainda lhos, sendo que o mais novo nasceu
não existia”. Aqui, ele fundou a Wan­ no Brasil — e dedica todo seu tempo à
del & Goltermann Latino-America­ fábrica. Valeu a pena? "O meu hobby
na e fez um a c a rre ira ráp id a e foi o iatismo até uns anos atrás. No
bem -sucedida, de engenheiro a momento é a minha fábrica. Acho
gerente. que isso responde.”