Page 9 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1983
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cepcional situação económica-financeira, apesar de perda de O mercado brasileiro apresenta-se com demanda sempre
ponderável parcela do Fundo Nacional de Telecomunicações crescente por estes serviços, fazendo uso constante e mais
e perda das isenções de impostos. O grau de endividamento intensivo das telecomunicações. Por todos estes motivos, o
do setor cai de 94,4% em 1976 para 38% em 1982; a depen setor de telecomunicações, gozando de excelente saúde eco
dência de recursos de terceiros cai de 57% em 1976, para nômico financeira, com uma indústria nacional em condições
22,1% em 1982; a taxa de retom o do capital próprio man de suprir ao mercado com elevado índice de nacionalização,
tem-se estável em torno dos 10% e a qualidade dos serviços é um dos setores que deveria ser autorizado a manter-se em
aprimora-se. crescimento.
A n t o n i o C a r r e i r a — O setor de telecomunicações rios anos autofinanciável, inclusive com uma participação de-
não pode e não deve permanecer atrelado ao controle global clinante da participação de capital de terceiros (empréstimos
dos investimentos das empresas estatais. A medida adotada internos ou externos).
de forma genérica atinge o setor de telecomunicações sem Com corte indiscriminado nos investimentos do setor de
levar em consideração os aspectos técnicos que influencia telecomunicações, o Governo não está se ajudando em nada,
ram sua adoção. Por este motivo acredito que qualquer au- pois esses investimentos em nada afetavam o déficit públi
' toridade governamental ao debruçar-se sobre a questão-, por co, e, pelo contrário, o Governo vai criar o agravamento de
um instante que seja, autorizará o setor de telecomunicações uma situação econômica negativa. O setor, que já vinha em
I a manter seu programa de investimentos. processo de desaquecimento, sofrerá ainda mais, gerando de
O fato primário, gerador do corte nos orçamentos das em- semprego nas indústrias fornecedoras, perda de substância
: presas estatais, é o déficit do setor público. Diversas empre tecnológica conquistada na fabricação de encomendas ante
sas estatais para manter seus investimentos necessitavam de riores, menor arrecadação de impostos, risco de perda da qua
aportes financeiros do Tesouro Nacional. Como esses recur lidade do serviço prestado à sociedade, aumento da deman
sos já estavam comprometidos com o pagamento de subsí da reprimida por serviços de telecomunicações e piora da si
dios ao crédito rural, à conta-petróleo e à conta-trigo, ge- tuação financeira das indústrias, diminuindo sua competiti
I rava-se déficit que vinha sendo coberto via endividamento ex- vidade em concorrências no mercado externo.
temo, emissão de moeda e lançamento de títulos de dívida Por todos estes motivos, acredito que a autorização do Go
pública. Ocorre que o setor de telecomunicações não utiliza verno para a continuação do investimento em telecomunica
recursos do Tesouro Nacional, sendo seu investimento há vá ções seja apenas uma questão de pouco tempo.
C a r l o s d e P a i v a L o p e s — Na busca de culpados pela crise econômica
que o Brasil atravessa, as empresas estatais são citadas como causadoras da atual si
tuação, pesando sobre elas uma imagem negativa. Não há dúvida que em função da
participação dessas empresas no PIB, cabe-lhes uma parcela de responsabilidade, mas
a generalização desta crença é improdutiva e sobretudo perigosa como todas as gene
ralizações. O setor de telecomunicações, por exemplo, é uma ilustração de atuação efi
ciente do Estado, permitindo que o país passasse de uma situação caótica para a inte
gração plena de todo território nacional, sem comprometer a saúde das empresas que
realizaram a proeza e sem que os usuários tivessem que pagar preços reais crescentes
pelos serviços. As tarifas telefônicas têm crescido a taxas menores do que a inflação,
o que significa que houve ganhos de produtividade que foram repassados aos usuários.
O setor de telecomunicações alia a sorte de ser incontestavelmente necessário ao
progresso do país, de haver uma demanda reprimida e possível de ser atendida sem
pressionar a inflação (porque a infra-estrutura é financiada pela poupança individual
dos próprios assinantes dos serviços), e com o mérito*de ser administrado com eficiência.
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