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P L A N E J A M E N T O
própria operacionalizaçáo e seu "efeito estrutural" na em
presa.
Em empresas amplamente diversificadas ou em conglomera
dos, a organização do planejamento estratégico e operacional
através de "centros de lucro" parece ser uma das formas mais
eficazes desde que haja cuidados em evitar as distorções an
teriormente citadas.
Quanto as unidades produtivas têm, no entanto, forte interre-
lacionamento, quer compartilhando recursos ou mercados,
ou em processos de produção integrada,a implantanção de
uma filosofia de "centros de lucro" deve ser examinada cuida
dosamente, podendo até ser contra-indicada. E nestes casos,
principalmente, que o conceito pode ser disfuncional, quando
se otimiza o centro de lucro ao invés da empresa como um
todo.
É óbvio que, se as unidades são totalmente isoladas, a otimiza
ção das partes sempre conduz à otimização do todo. Para as
empresas multi-industriais, porém, não se pode perder de
vista a recomendação de Arthur D. Little, quanto ao máximo
desenvolvimento na habilidade de usar "a sinergia, a alavan
cagem e o equilíbrio", afinal propriedades tipicamente estru
turais.
O modelo de preferência de utilidades pode ser visualizado
tomando-se emprestado da Economia o conhecido diagrama Por outro lado, o sistema de administração estratégica, o
de Fisher relativo a investimento (consumo) entre 2 períodos. modo contínuo do planejamento (Ansoff) deve ser implemen
tado com parâmetros claros e precisos no caso de centros de
Ainda que não se pretenda conseguir potência de resolução lucro, que assim tendem mais para o conceito de "centros de
com estas curvas operacionais ou que a atitude do administra estratégia" na acepção de Arthur D. Little, com medidas pró
dor seja formulada matematicamente, esta ilustração serve prias de controle, avaliação, recompensa, etc.
como uma metáfora gráfica que permite conceber preferências
entre alternativas de curto x longo prazo. Na prática, as exigências mais estritas recaem sobre as defini
ções de itens de receitas e custos. De fato, mesmo a experiên
Em tese, poder-se-ia dizer que, se existir, o ponto A repre cia menos recente com ps chamados "centros de custo" vinha
senta a situação de máxima utilidade em que é indiferente op se limitando à apuração àe despesas por unidade organizacio
tar-se pelo resultado C, de curto prazo, ou L, de longo prazo, nal. O processo de apuração de custos só tem evoluído a partir
em idênticas condições de risco. da idéia de centros de lucro, e aí envolvendo problemas com
plexos, e comuns ao caso de apuração de receitas — principal
Ainda conceitualmente, pode-se imaginar uma família de cur mente quando os centros de lucro compartilham recursos.
vas representativas da troca entre resultados de curto prazo x
longo prazo, associadas a risco; de modo a se supor ser possí Como ilustração, cita-se o caso típico das próprias empresas
vel à empresa definir ou escolher a sua posição estratégica (ou de serviços de telecomunicações que atuam em áreas amplas,
de seus produtos).
O que se está pretendendo dizer é que o fundamental para a
empresa é a sua definição quanto à tomada de posição em ter
mos de alcance de curto ou longo prazo. A partir daí, é sempre
possível conciliar a fórmula administrativa de "centros de
lucro" com os objetivos do planejamento estratégico, embora
se reconheçam as dificuldades práticas, conforme mencio
nado por Banks & Wheelwright, que sugerem, no entanto,
controles e métodos de implantação que visam minimizar o
impacto de eventuais tendências de curto prazo dos centros
de lucro.
Um aspecto de extrema relevância, que merece ser destacado,
é sempre a explicitação dos conceitos estratégicos, que, em
tempo, estudiosos como Michel Vandestrick têm sido levados
à concepção do planejamento estratégico como uma lingua
gem, a própria instrumentalização de um novo pensamento
empresarial.
Finalmente, deve-se evitar o risco de generalização precipita
das no julgamento de métodos administrativos, cujo fracasso
pode estar mais vinculado a deficiências de implantação e con
trole. No caso de "centros de lucro"o aspecto mais importante
a ser examinado não é, a nosso ver, a ênfase indesejável no
curto prazo — o que pode ser contornado — mas, antes, a sua
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