Page 48 - Telebrasil - Março/Abril 1982
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N O T A S S O B R E A C O N C E P Ç Ã O
E S T R A T É G I C A D E C E N T R O S D E L U C R O
O a r t i g o t r a t a d o c o n f l i t o t e m p o r a l e x i s t e n t e e n t r e a m a x i m i z a ç ã o
d o s l u c r o s e a m a x i m i z a ç ã o d o v a l o r e d a c o n t r i b u i ç ã o s o c i a l d a
e m p r e s a . E s t e é u m t e m a c o n c e i t u a l m e n t e i m p o r t a n t e p a r a
d i r i g e n t e s e p l a n e j a d o r e s q u e n e c e s s i t a m c o n c i l i a r o s o b j e t i v o s
e m p r e s a r i a i s a c u r t o e a l o n g o p r a z o s .
P l í n i o G u i l h e r m e d a S i l v a F i l h o — E n g e n h e i r o d e P r o d u ç ã o f * )
Do processo de planejamento estratégico ao comportamento
(maximização de lucros), lon g o p razo (maximização do valor
operacional da empresa, não existe, a rigor, nenhum conceito
da empresa) e o que se poderia chamar "longo prazo social"
administrativo que garanta, em toda a extensão, a otimização
(maximização da contribuição social).
de seu desempenho quanto ao seu objetivo essencial.
Como um dos aspectos talvez mais importantes da questão,
As dificuldades começam na própria definição do objetivo ins
cabe investigar o ângulo de conciliação entre os 3 critérios!
titucional da empresa, que tem evoluído da idéia de m axim i
dado que a rapidez da transição atual tem levado a sociedade
zação d e lucros, passando pela de m axim ização d o valor da
(e, particularmente, os acionistas e gerentes de empresas) a
em presa, até às modernas tendências de m axim ização d e sua uma atitude de perplexidade que induz a uma desconfortável
contribuição social (1).
oscilação entre as 3 posições.
Em qualquer dos casos, se interpõe a escala temporal, inerente
a toda praxis humana. Neste contexto, o equacionamento administrativo através de
"centros d e lucros" não deveria ser entendido "a priori" como
comprometido com resultados estritamente de curto prazo,
Com efeito, o conceito de m axim ização d e lucros tende a uma
salvo que injunções semânticas teriam arraigado esta con
perspectiva de curto prazo, já que a própria apuração de lu cepção.
cros é procedida a intervalos reduzidos de tempo, enquanto
que a proposição de m axim ização d o valor da empresa associa
Contudo, se na prática esta orientação prevalecer, é inegável
a sobrevivência à rentabilidade, ao ser definida como a maxi
que uma estrita visão de lucros a curto prazo pode prejudicara
mização do valor presente do fluxo de caixa gerado ao longo
empresa, às vezes de modo irreversível. A este respeito, a li
de uma série de tempo suficientemente longa. Já a posição de
teratu ra esp ecia liz a d a está rep leta de exemplos (ver
m axim ização da contribuição social ultrapassa as fronteiras da
referências: Banks & W heelwright, 1979; Hobbs & Heany,
empresa, tal como considerada nos casos anteriores, intencio-
1978; Ansoff, Declerck & Hayes).
nalizando a sua assimilação ao meio-ambiente, ao invés de
pressupô-la como resultante da auto-regulação deste.
Em sentido amplo, há basicamente 2 aspectos fundamentais a
considerar no conceito de centros d e lucro:
Trata-se, em certo sentido, da sobrevivência da empresa como
conseqüência da sobrevivência da sociedade, e de seu pro
• o conflito curto p razo x lon g o prazo
gresso na medida de sua contribuição ao bem-estar social. • o efeito estrutural
Parece não haver dúvidas de que este é um conceito definitivo
Os aspectos até aqui abordados se referiram essenrialmente à
para os próximos tempos, em que pese a polêmica atual —
questão do cónflito de perspectivas entre objetivos de curto e
que, a nosso juízo, reside mais em torno da operacionalização longo prazo.
do conceito do que de sua validade, já que deve tratar, de
forma amalgamada, interesses quase sempre conflitantes, re No fundo, não há nada que possa contestar legitimamente
lacionados a lucro, distribuição de riquezas, preservação da uma preferência pelos resultados de curto prazo, desde que
natureza, consumo não predatório, escassez, etc. esta seja uma opção consciente, manifestamente alternativa às
possibilidades de longo prazo examinadas. Ninguém deve,
Compreendidos desta maneira, as 3 colocações correspondem provavelmente, discordar de que existem negócios em que a
a um a g ra d a ç ã o n o a lc a n c e de tem p o : c u r t o p r a z o mobilidade é vital e a ênfase no curto prazo deve preponderar.
Mesmo que este não seja o caso mais geral, pode-se imaginar
um planejamento estratégico aderente a tais condições.
(*) Currículo do autor no fim do artigo. Em termos de um modelo racional, a questão pode ser posp
inicialmente através de uma análise d e utilidade na troca
(1) Que incluem, além dos benefícios aos proprietários e dirigentes, a participa- resultados de curto prazo por resultados de longo prazo. Em
çâo dos empregados e os benefícios globais do mercado e à comunidade de em bora com enfoque d iverso, Banks & W heelw right (ver
presas e indivíduos — conforme o conceito de "auto-interesse esclarecido ci referência), fazem alusão ao controle do "trade-off entre as
tado pelo Prof. Paulo Cesar Motta (PUC-RJ) em seu documento de trabalho
"Responsabilidade Soda/ das Empresas — Uma Visão Operacional". decisões de curto x longo prazo.