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TABELA 3
EVOLUÇÃO RECENTE DE ALGUNS ÍNDICES DE INFLAÇÃO
(Em percentagem)
ANOS 1GP—D1 IPA—Dl ICV-^RJ INPC
I 1980 I
Janeiro 6,2 7,3 4,7 6,6
Fevereiro 4,2 3,6 3,7 3,8
Março 6,6 6,5 4,7 5,1
I Abril 5 J f 6,6 4,6 Í T l
I Maio 6,4 7,1 5,3 5,6
Junho 5,9 6,4 4,7 5,2
1 Julho j ~8A f 9,6 ~6A 5 j |
I Agosto 1 6.9 6,8 5,9 4,5
Setembro ____________5_£__________ 1 5,2 4,4 6,2
I Outubro 7,6 T 9,4 5,3 6,9
Novembro 7.6 8,5 6,0 8,3
Dezembro 5,9 5,1 8,2 6,9
1981
I Janeiro 6.6 6,1 8,4 6,5
• I
De fato, logo no início de 81, diversas autoridades governamentais decla A Tabela 3 contém os dados referentes ás taxas mensais de inflação, para
raram que este ano a condução das referidas políticas teria caráter bem mais quatro diferentes índices, um dos quais é o INPC, e ilustra os pontos acima
realista do que tivera no ano anterior. A correção monetária iria situar-se abordados.
próxima da “ inflação” e a política de desvalorizações cambiais iria pautar- Possivelmente, essa tendência vai prevalecer nos próximos meses. Um dos
se pelo diferencial observado entre as taxas interna c externa de inflação. O fatores que poderia ser citado como contribuindo para isto seria a política de
indicador da inflação doméstica seria, então, o 1NPC. Sobre este ponto, ca liberação das taxas de juros.
bem os comentários abaixo. Em meados de 80, o IPA. por exemplo, revelava taxas de crescimento bem
superiores às do INPC — no período junho-agosto, a taxa média do IPa
Como base de cálculo, ou melhor, como parâmetro de referência para a cor
foi de 7,6%, ao passo que a do IN PC foi de 5,2%. Entre setembro e novem
reção monetária, o INPC possivelmente não constituiria um índice inade
bro, o IN K 'já dava sinais de que iria aproximar-se do IPA— enquantoeste
quado. Afinal de contas, esse índice possui cobertura bastante ampla e,
crescia à taxa média de 7,7%, o IN K ' crescia, cm média, 7,2% ao mês. Por
além disso, em boa medida, a correção monetária visa restabelecer justa
fim, nos últimos dois meses (dezembro de 80 e janeiro de 81), o cresci
mente o poder de compra dos consumidores.
mento do INPC superou o do IPA.
Essu política atua no sentido de desencorajar a acumulação de estoques, por
Arbitrariedade parte das empresas, e seu primeiro impacto deve ser sobre o comporta
mento do IPA, que, como vimos antes, inclui apenas mercadorias físicas,
A mesma observação não vale, no entanto, para o caso da taxa dc câmbio. inclusive matérias-primas e bens intermediários. Neste contexto, o efeito
Na formulação da política cambial, a taxa interna de inflação deve ser le da política de juros sobre o IPA seria o contrário do verificado em 1980.
vada cm conta exatamente para refletir o comportamento dos custos inter I )e qualquer modo, é preciso observar o seguinte: visando garantir um certo
nos de produção das empresas. Ora, o INPC é um índice de custo de vida, horizonte, tem sido prática habitual anunciar a correção monetária com al
onde itens como gastos com alimentação, transporte, vestuário, serviços guma antecedência. Por outro lado, como não existe uma fórmula de cál
em geral, tem peso importante; a curto prazo, o comportamento dos preços culo, e como, a curto prazo, qualquer índice de inflação apresenta flutua
desses bens e serviços, a nível dc consumidor, não deve guardar relação ções mensais, no fundo não tem muita importância o índice tomado como
direta com o comportamento dos custos dc produção das empresas, onde referência. Procuraremos exemplificar.
preponderam os salários e os preços das matérias-primas e bens intermediá
Num dado momento, em meados de determinado mês, tem-se conheci-
rios. Assim, como parâmetro para a política cambial, o INPC, ao menos em
mento do índice de inflação do mês anterior e está para ser anunciada a cor
tese, não é melhor do que o 1PA, que aparentemente foi o índice utilizado no
reção monetária dois meses adiante. Ora, se por acaso a taxa mensal de in
passado.
flação mostrou significativa queda em relação ao período anterior, nãoé
aconselhável reduzir-se abruptamente o coeficiente de correção monetária
Sendo assim, por que será que o Governo fez tanto alarde acerca do INPC?
a ser anunciado. Isto certamente provocaria indesejável instabilidade nos
Presumivelmente, dois foram os propósitos. Primeiro, indicar que as corre
mercados fi nance i ros. N a verdade, o que real mente i mporta é que, ao longo
ções monetária c cambial iriam acompanhar rcalmcnte de perto a inflação,
do ano, a correção monefária fique bem próxima da inflação. Em função
como explicado acima. Segundo, uma vez que existem diversas medidas
deste raciocínio, podemos prever que o Governo não vai permitir flutua-
de inflação, procurava-se chamar a atenção para o índice que, na época, %
ções abruptas na correção monetária, adotando, ao contrário, a estratégia
apresentava taxas mais baixas dc crescimento. Com isto, o Governo pro
de estabilizarc em seguidadiminuir gradualmente as correções mensais (de
curava atuar favoravelmente sobre as expectativas inflacionárias, que,
modo compatível com o provável declínio inflacionário), fechando o ano
como se sabe, constituem peça importante dc qualquer política de combate
com uma correção monetária total próxima de “ algum índice de inflação' ’.
à inflação. Neste aspecto, no entanto, talvez os resultados não correspon
dam exatamente ao que esperava o Governo, pois, nos últimos meses, o Transcrito da revista PERSPECTIVA ECONOMICA, publicação
crescimento do INPC tem sido maiçr do que o do IP A . mensal do escritório Levy.