Page 40 - Telebrasil - Março/Abril 1981
P. 40
A POSIÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DO PETRÓLEO
Neste ponto, permitimo-nos tecer algumas considerações que julgamos
importantes para bem situar a posição do Conselho Nacional do Petróleo
como órgão responsável pela normalidade do abastecimento de petróleo,
derivados e álcool etílico para fins automotivos e matéria-prima da indús
tria petroquímica.
Os inusitados aumentos no custo do petróleo e as incertezas na obtenção do
produto no mercado internacional obrigaram a adoção de diferentes medi
das, com o fim de aliviar os efeitos da pressão externa sobre a economia in
terna.
A política de preços proporcionalmente mais elevados para as gasolinas au
tomotivas teve e tem objetivos definidos:
• Conter, parcialmente, os aumentos nos preços dos produtos que mais in
fluenciamos índices econômicos nacionais, no caso os óleos combustíveis,
o óleo diesel e o gás liquefeito;
• Abrir mercado para os volumes de álcool previstos no Proálcool.
Os maiores preços para as gasolinas e as companhas de racionalização de
seu uso levaram a uma substancial redução de consumo. Entre 1974e 1980,
o consumo da mistura carburante — gasolina com frações de álcool — re
gistrou uma queda de 5,8%, apesar do aumento de 106% na frota de veí
culos com motor Otto.
Em 1980, o álcool substituiu 18,8% da gasolina consumida no país.
Os preços favorecidos para os demais produtos, todavia, proporcionaram
aumentos de consumo em níveis não desejados: 34% para os óleos combus
tíveis, 77,4% para o óleo diesel c 65% para o gás liquefeito.
A contenção e, mesmo, a redução desses consumos tomou-se, agora, mais
premente.
Com a limitação das importações de petróleo em 750.000 barris diários, re
centemente adotada, a expansão do consumo de derivados no país ficou
condicionada ao aumento da produção interna daquela matéria-prima. Nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, a CEG e a
No caso dos óleos combustíveis, a eliminação parcial dos favorecimentos COMGÁS já se adaptam para a distribuição canalizada do álcool gaseifi
que beneficiam seus preços c a oferta de carvão mineral nacional. cm condi cado Para tanto, aguardam tão-somente a liberação das correspondentes
ções competitivas, contribuíram para a redução de 4,7% cm seu consumo, quotas do produto.
no ano de 1980.
A continuidade desse procedimento, a par dc campanhas visando à elimi
ÓLEO DIESEL
nação do desperdício e do consumo supérfluo, poderá levar a índices mais
Sobre o óleo diesel, a maior produção obtida pela adição de 10% de nafta já
satisfatórios, a curto e a médio prazos.
se apresenta insuficiente para atender â demanda sempre crescente.
Quanto ao óleo diesel c ao gás liquefeito, sua substituição pelo álcool etíli
Para evitar que maiores importações do produto venham pesar sobre a
co, enquanto não se tomam economicamente viáveis outros sucedâneos,
balança comercial do país, urge o uso do álcool em substituição ao óleodie-
impõe-sc como parâmetro indispensável na programação do abasteci ?
sei, enquanto não se efetiva o Programa Nacional de Oleos Vegetais para
mento nacional de combustíveis. Nessa substituição reside a maior preocu
fins automotivos.
pação do Conselho Nacional do Petróleo.
Verificando-se que o transporte rodoviário responde pdf 70% do consumo
de óleo diesel, o esforço maior para a contenção e redução desse consumo
GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO deverá alcançar, prioritariamente, a indústria automobilística. Nesse sen
tido, faz-se necessário:
A reduzida fração dc gás liquefeito extraída do petróleo (6%) e o número dc
• Impedir a produção de caminhonetes e utilitários com motor Diesel;
brasileiros que dele dependem— cerca dc 80 milhões— recomendam sua
substituição parcial pelo álcool, sob pena dc futuros problemas sociais, dc • Incentivar a produção de caminhonetes, utilitários, ônibus, microôni
repercussões hoje dc difícil avaliação. bus, caminhões leves e médios com motor Otto para uso exclusivo de ál
cool.
A eliminação gradual dos favorecimentos que beneficiam o preço de venda
do GLP, prevista na Política de Preços dos Energéticos definida pela Co As medidas aventadas alcançam 73% da atual frota de veículos Diesel. Sua
missão Nacional dc Energia: substituição, parcial e programada, levará a uma ponderável economia de
óleo diesel, em prazo relativamente curto.
• Desestimulara o uso proibido do gás liquefeito em veículos automotores;
A economicidade do ciclo Diesel sobre o ciclo Otto constitui verdade in
• intensificará o uso da lenha, do carvão vegetal e dos resíduos agrícolas
contestável, quando enfocada em termos volumétricos. Em termos finan
nas áreas rurais e nas regiões Norte e Oeste do país;
ceiros, porém, e isso é o que mais afeta o consumidor, a economicidade do
• Induzirá ao uso do metano obtido através de biodigestores, nas áreas ru ciclo Otto a álcool poderá ser maior, na medida em que o custo do veículo
rais. Diesel e o de seu combustível apresentem-se mais elevados.
Nas áreas urbanas, todavia, a falta de sucedâneos recomenda o uso do ál Para o intento, a Política de Preços dos Energéticos, definida pela Comis
cool como substituto do GLP, no setor doméstico. são Nacional de Energia, já traz em seu bojo os pressupostos básicos:
A tecnologia já disponível para o fabrico de fogões a álcool e o interesse de ‘ ‘O preço de cada derivado de petróleo será reajustado, de maneira gra
empresas especializadas cm sua comercialização constituem indicadores dual, tendo em vista a sua substituição por energéticos nacionais.”
de que a desejada c necessária substituição poderá ser iniciada protamente. (Resolução-CNEn."2, de 02-07-80).