Page 28 - Telebrasil - Maio/Junho 1981
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S í n d r o m e d o P e q u e n o E m p r e s á r i o
As pequenas firmas nacionais que fabricam componentes para as grandes cumprir um sem número de posturas para
indústrias têm um bom estágio buffer, estando, por isso/ de alguma poder finalmente montar a fábrica. Na pro
forma, protegidas de dificuldades maiores. O mesmo não ocorre, porém, cura do comprador, precisará viajar pra lá e
com as que dependem da venda ao consumidor, mormente quando o mer pra cá, morar em hotéis e pendurar-se no
cado é monopsônico. telefone. As prestações começaram a ven
cer, é preciso faturar. Finalmente, consegue
um contrato. Assina tudo que exigem, pois
os contratos, nesses casos, são usualmente
de adesão. Acham o preço alto (e realmente
é, mas pudera, o que teve de despesas é,
O que causa certa perplexidade é o fato de muitas vezes, maior que o custo de
sermos todos favoráveis à indústria nacio produção). Se tudo correr bem, a esperança
nal, notadamente se de tecnologia também reacende; mas, se algo falha no sistema, a
nacional. Não se pode dizer que o amparo corda parte no ponto fraco. Quem vai supor
seja apenas platônico, pois há financiamen que foi o equipamento de maior nome? Terá
tos e empréstimos com juros subsidiados e ele que provar que não foi o seu equipa
prazos de carência, embora com alguma mento que falhou. Os custos aumentam. 0
burocracia. lucro se esvai. Na próxima vez terá que re
Vamos então seguir, ainda que “ de ver o preço. Mas o sistema é um circuito fe
leve” , o que ocorre na prática. Não sendo chado, todos sabem tudo (pelo menos mais
um capitalista, o pequeno industrial precisa ou menos). As informações favoráveis têm
levantar o capital necessário para o empre curso discreto, mas as dúvidas ou restrições
endimento. Essa operação requer, no en voam, além de quê, é de bom tom alardear
tanto, uma garantia real da ordem de 130% prudência e dureza.
(ou mais) do valor levantado c o novel em As coisas ficam ainda mais difíceis. E,
presário, é, normalmente, muito mais do assim, os entendimentos se arrastam. Os es
tado de ideais e entusiasmo (ou até mesmo Vai a um comprador potencial, declaiu forços e despesas se avolumam. É a síndro
de ambição) que de cruzeiros. Por essa ra que o produto é 100% nacional, que o preço me da indústria genuinamente nacional.
zão é preciso limitar o financiamento a um está dentro da faixa e que apresenta vanta Não faltam palavras de estímulo, simpatiae
mínimo. gens técnicas e econômicas. Os números discursos. Faltam confiança, objetividade,
O recurso de associar-se a um capitalista falam mais convincentemente que os quali revisão de normas e até mesmo coragem
é interpretado como “ vender a alma“ . E ficativos. Tudo parece ir bem, mas é preciso para vencer o acomodamento. Mas isso re
trocar o risco c a esperança, que conduzem, que haja uma concorrência, e da concorrên quer que estejamos preparados para assumir
pelo assalariamcnto da inteligência, que ro- cia constará que o fornecedor precisa ser o algum risco, pois o risco calculado é uma
tiniza. O certo seria seguir a inclinação e as produtor, ter uma fábrica, sob pena dq ser das formas de proporcionar justificado
sumir o risco, cm vez de ser absorvida. considerado intermediário! IX* nada valem apoio. É preciso não esquecer que a empol
Um projeto ajustado, uma boa oficina e argumentos e ponderações. Está escrito e, gante epopéia da viagem à Lua requereu de-
assistência técnica cuidadosa viabilizariam se está escrito... Observar o que está escri cisão para assumir riscos. O Homem,
o empreendimento. Depois, os testes de to, ainda que esse escrito não atenda a obje mesmo para realizações mais simples,
qualidade c de campo, c a homologação. tivos maiores, é mais tranquilo e seguro que como ficar de pé, aceitou o risco de cair.
Alguma burocracia, uma boa dose de pa levantar questões. Caiu c levantou-se tantas vezes quantas ne
ciência c, finalmente, o produto teria um Resta agora procurar novo caminho c cessárias foram para adquirir a postura ere
“ diploma“ . Tudo se resumirá então cm buscar mais dinheiro, aceitar novos sócios e ta, mas valeu a pena.
vender e faturar. novos financiamentos, procurar local e Contribuição de: |. C. Vallim
Quem ganhou Com os juros tabelados na faixa de 70 cionou uma receita contábil (porque ela
por cento e a inflação beirando os 100 ainda não se efetivou e existe apenas no
por cento, a maioria das empresas op papel) considerável para as empresas,
em 80 com juros tou pelo endividamento, usando o cré superiores ao total dos juros pagos.
dito para aumentar seus estoques ou o Com o fim do tabelamento dos juros, a
perderá em 81 imobilizado (terrenos, propriedades, situação tende a se inverter. A inflação
participações acionárias, algum tipo de está na faixa de 120 por cento, mas os
maquinário etc.). Observa-se que mui juros foram a 140 por cento. Isto quer
Os balanços das empresas referentes tas companhias tiraram seus lucros ba dizer que as firmas endividadas não
ao exercício de 1980, que agora estão sicamente da diferença entre a valoriza poderão contar mais com a valorização
sendo publicados, dão uma boa idéia ção de seus estoques/imobilizado e as dos seus estoques ou do seu imobili
dos efeitos do tabelamento da taxa de taxas de juros pagas aos bancos. Ou zado para lucrar. Ao contrário, quem
juros e da inflação sobre a economia no seja, ganharam com a inflação. O ín ganhou dinheiro no ano passado, atra
ano passado e devem servir para refle dice de imobilização é tão alto que a cor vés desse processo, vai perder muito
xão dos analistas. reção monetária desses ativos propor este ano.
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