Page 59 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1978
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Uma vez efetuada a aceitação, pela empre de, pelo menos, de suas necessidades em que por falta de recursos fique comprome
sa de serviços, dos equipamentos forneci capital. tido o ritmo de desenvolvimento das Tele
dos, estes entram em regime de “leasing” comunicações em velocidade compatível
por um período de 10 anos o material finan A “regra do jogo” é, portanto, que a Telecom com as necessidades do país.
ciado com recursos próprios e de 15 para os opere autonomamente, sem subsídios do
financiados mediante empréstimos de ter erário, e realizando lucros. Esses lucros, Com isso, ocorreria grande economia de
ceiros. que ela deve buscar na sua eficiência opera recursos com investimentos na fase de
cional, servem para fornecer parte do capi aquisição dos equipamentos de'telecomu-
Existe, portanto, um sistema financeiro tal de giro, suportado também por provi nicações, recursos que poderiam ser par
próprio, que permite a execução de planos sões adequadas para a manutenção desse cialmente canalizados para treinamento e
de telecomunicações de forma contínua e capital e para depreciações. Para o restan elevação no nível de qualidade da capacida
harmônica, suprindo as oscilações eventuais te, a empresa recorre, como qualquer outra, de gerencial das empresas operadoras.
da política do Tesouro Nacional, ajustadas ao crédito pela rede bancária.
às flutuações da conjuntura. Desde a im Por outra parte, com a instalação de novos
plantação desse sistema, em 1970, até 1975 Além disso, porém, para angariar recursos terminais e meios de transmissão na base
ele participou com cerca de 25% no total dos menos onerosos, ela resolveu recorrer à de “leasing”, as empresas operadoras po
investimentos no setor. Graças a essa con poupança popular, lançando, no ano findo e deriam auferir uma receita adicional, que
tribuição, a expansão do setor pôde manter no ano corrente, dois empréstimos com a poderia ser aplicada na aquisição de bens
um ritmo de mais de 30% por ano, exigido garantia do Governo Federal australiano. de capital e em outros investimentos de
pela demanda em um pais onde também, infra-estrutura indispensáveis.
como no Brasil, a oferta de serviços de O primeiro empréstimo, em 1976, foi de 200
telecomunicações havia ficado aquém das milhões de dólares, e foi rapidamente subs Não afetando, outrossim, o passivo das
necessidades. Só na região de Paris, onde crito. O segundo, no ano corrente, é de 160 empresas operadoras, o “leasing” não inter-
era mais crítica a situação, puderam ser milhões, em títulos redendo juros de até firiria com as linhas de crédito convencionais,
instalados, graças ao sistema que estamos 10,9% anuais, resgatáveis a prazo fixo (4, 7, seja na base nacional ou internacional,
descrevendo, nada menos de 420.000 termi 10, 15 ou 20 anos), mas negociáveis em até aqui utilizadas.
nais suplementares. qualquer tempo, Inclusive com a própria
empresa, como também em Bolsa. Enfim, em virtude de sua intrínseca renta
Essas sociedades, que poderiamos qualifi bilidade financeira, as operações de “lea
car de empresas auxiliares do setor de tele É claro que, no Brasil, o quadro Inflacioná sing” ofereceriam às empresas operadores,
comunicações, vêm alcançando bons níveis rio ainda persistente tornaria Irrealista uma cujos negócios apresentam já uma boa ren
de rentabilidade, fundados que são os con solução baseada em captação de recursos tabilidade, a possibilidade de elevar ainda
tratos sobre cuja base operam no interesse por via bursátll para o problema básico do mais sua rentabilidade e de ampliar e
justo e equilibrado das partes, garantindo setor no momento, que é a Insuficiência de melhorar seu espectro de serviços, o que
ao financiador razoável e segura remunera fundos para o financiamento das expansões. não ó só de seu interesse, como também
ção, e não menor segurança às empresas de A solução australiana, que ô refletida em do Interesse dos usuários dos Serviços Te
serviços, a custo abordável e segundo crono- outros países como por exemplo a Bélgica, lefônicos e da própria economia brasileira.
gramas ajustados ao crescimento de sua não teria aqui possibilidades de êxito, pelas
própria receita derivada dos equipamentos mesmas razões que dificultam a captação Poder-se-la objetar que os volumes de in
adquiridos. de capital acionário pelas empresas privadas. vestimentos seriam muito superiores aos
normalmente encontrados nas atuais em
Essa rentabilidade permite às empresas Resta, portanto, a fórmula francesa, isto ê, presas de “leasing”; a isso responderiamos
auxiliares recorrer, inclusive, à confiança do um sistema de empresas auxiliares proprie que não seria impossível, nem difícil, que as
público para a captação de recursos, tanto tárias de equipamentos de telecomunica empresas de “leasing” já existentes, com a
sob a forma de ações negociadas em Bolsa ção e contratando com as empresas de ser ajuda dos bancos a que estão ligadas, pu
como de debêntures emitidas sem aval do viços o “leasing” dos mesmos. Essa fórmu dessem formar um consórcio especial para
Estado, mas que encontram fácil colocação. la, cabe ressaltar, alcançou êxito considerá financiar equipamentos de telecomunicação.
Uma dessas sociedades de capital aberto vel, porquanto a densidade telefônica em No caso, creio que poderiam elas contar
conta com cerca de 100.000 acionistas. França, que era de 7,6 telefones por 100 com os bons ofícios de nós todos para al
Essa empresa, por si só, garantiu a instala habitantes antes da lei de 24 de dezembro cançar tal objetivo, que atenderia ao interes
ção ou ampliação de 366 Centrais Telefôni de 1969 que permitiu o funcionamento de se mútuo tanto das concessionárias como
cas urbanas no espaço de 5 anos, além de tais empresas, passou a 13,4, ou seja, qua da indústria de telecomunicações.
Centrais de Trânsito, Centrais Rurais, Redes se o dobro, em 1975. Enquanto que em
deTeleimpressores, etc. Assim, e talvez só assim, seria possível evi
1969 só 360.000 novos terminais foram im tar uma descontinuidade excessiva nos
plantados, em 1975 a cifra foi de 1.150 programas de expansão, e corrigir a situa
Na Austrália, país cujas dimensões conti
nentais e disseminação de centros popula ção crítica em que hoje se encontram nos
cionais oferecem certa similitude com as Se, no entanto, essa fórmula pode a justo sas indústrias, confrontadas com a perspec-'
condições brasileiras, pela necessidade título ser considerada como requerendo,’ tiva de uma capacidade ociosa incompatível
vital de enlace entre as várias regiões e para sua implantação, cuidadosos e demo sequer com a mínima rentabilidade dos seus
pólos econômicos, e também com o exterior, rados estudos a fim de enquadrá-la na legis investimentos, e, em certos casos, com a sua
surgiu igualmente o imperativo de encon lação do pais, existe uma forma expedita de própria sobrevivência, caso devesse proion-
trar fontes de financiamento extra-orçamen- alcançar os mesmos resultados, que seria o gar-se a situação atual.
tárias para assegurar a devida expansão de simples uso do “leasing” mercantil já em
uma rede de telecomunicações que compre vigor entre nós, cujo mecanismo exigiria Falo aqui, senhores, em nome de todos os
ende hoje 5.700 Centrais de Telefonia Públi apenas ligeiras modificações de estatuto fabricantes nacionais de equipamentos de
ca e 380.000 quilômetros de cabos telefô legal, de modo a rémover as limitações comutação urbana, honrado que fui com a
nicos. atualmente existentes quanto a volume de confiança de nossos corppanheiros deste
financiamento (hoje limitado a 15 vezes o setor, falo também, e de novo com muito des
valor do capital integralizado da empresa vanecimento, credenciado por nossa associa
A Austrália possui atualmente 3,8 milhões
de terminais, através dos quais passam 4 de “ leasing” mais reservas) e quanto à ção de classe, a ABINEE, da qual tenho a
bilhões de chamadas anuais. A compara parcela de operações permissíveis para cada honra de ser Vice-presidente; e, nessa qua
ção com o Brasil é étèqüente, dada a dispa cliente (que não pode exceder 10% do to lidade, falo decerto pro domo, já que estão
ridade das respectivas populações; mas até tal das operações da empresa). Aliás, isso em jogo nossos interesses mais vitais. Esses
1983 a demanda estimada é de mais 1,2 mi já tem ocorrido em casos isolados, existin interesses são legítimos, de vez que nossos
lhões de terminais. do pois precedentes válidos (caso da TELE- acionistas respectivos investiram conside
PARÁ). ráveis quantias em criar no Brasil a capaci
dade fabril e humana necessária para aten
Para financiar essa vasta expansão sem Adm itidas essas ligeiras alterações da der às diretrizes da Política Nacional de Co
onerar o erário público, a Austrália resolveu legislação vigente, e uma yez aceito o prin municações, e vêem hoje em risco a própria
apelar paraa poupança popular. A “Telecom” cípio que expomos e propomos, seria pos base e razão de ser de vastos empreendi
(equivalente local de nossa Telebrás) ô sível assegurar um maior nível de encomen mentos, para os quais se delineiam pers
obrigada por Lei a atender com sua própria das por parte das empresas operadoras com pectivas propriamente desastrosas. Se a isso
receita às despesas operacionais e à meta um mínimo de desencaixe, evitando-se assim se limitasse o problema, seria apenas certo