Page 27 - Telebrasil - Julho/Agosto 1975
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Brasil no Contexto 1973. No mesmo período o comér
cio das partes contratantes, compu-
tando-se exportações e importa
da América Latina ções com os países fora da Zona,
cresceu em 141%.
Estes números, entretanto, pode
JOSE OLAVO DINIZ riam ser bem diferentes se inúme
ras implicações supervenientes não
estivessem atravancando o livre
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais curso das águas alalquianas, que
pela Faculdade de Direito da Universidade continuam, tempestuosas, a perder-
de São Paulo. Assessor da Diretoria da se pelos meandros dos entraves bu
Ericsson do Brasil. Diretor da Associação
Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica rocráticos agravados pelas incontá
— ABINEE. 2° Vice-Presidente da TELE- veis perturbações político-sociais
BRASIL. em constante ebulição nas repú
blicas sul-americanas. Como se isto
tudo não bastasse para influir nega
É muito comum as autoridades ou verdadeiramente só de efeito. Ela tivamente nas negociações a que
empresários de outros países que tem sua razão de ser. têm interesse, em nível empresa
nos visitam utilizarem a expressão rial, as indústrias da Zona, criam-
“ilha de tranqüilidade” ao referi Ao sentarem-se na mesa de reu se organismos paralelos como o
rem-se ao Brasil. niões anualmente (e por rodízio), próprio Pacto Andino ou “ Acordo
os empresários da ALAINEE (Asso de Cartagena” , como também é co
De fato, no conturbado panorama ciação Latino Americana da Indús nhecido, que nada mais são do que
do mundo hodierno, poucas re tria Elétrica e Eletrônica) vêem frus agrupamentos de nações dentro da
giões podem se dar ao luxo de con tradas suas esperanças de nego própria Zona, as quais embora
tinuar crescendo a taxas expressi ciação de produtos, seja em acor identificadas pelos objetivos peo-
vas, manter sob relativo controle o dos bilaterais ou de complementa- curam atingir seus fins por outros
processo inflacionário e incremen ção industrial, seja por força de meios mais apropriados às realida
tar, ao mesmo tempo, novas e ma vontade multilateral. É aí que nos des econômicas que vivem os paí
ciças inversões de capital nos mais cabe meditar sobre a tal ilha em ses de menor desenvolvimento na
diferentes setores da atividade pro que nos colocam os observadores América Latina.
dutiva. da conjuntura mundial. Embora Uma concentração de esforços sin
com uma força de mercado expres ceros das autoridades e dos em
Entretanto, se esta posição de re siva, com uma (inegável) estabili presários em busca da revitaliza
lativa calmaria nos consola, isto só dade política propiciada pelos su ção dos instrumentos legais exis
não basta. Mesmo porque, no mun cessivos governos revolucionários, tentes para referendar os negócios
do moderno da comunicação ins por uma economia de mercado em que se pretende transacionar na
tantânea, do efeito multiplicador da franca expansão, precisamos en mesa das negociações nos parece
informação via satélite, pouco ou contrar fórmulas mais adequadas à ser um dos caminhos em busca da
quase nada adiantaria vivermos velocidade que o processo desen- ansiada integração latino-america
numa ilha solitária, onde, à moda volvimentista está exigindo dos or na na área de interesses comerciais
de Robinson Crusoé, só podería ganismos de cúpula. Mais uma vez legítimos num mercado em franca
mos ter a natureza e a solidão co a imaginação criativa precisa ser expansão e com tantos recursos
mo companheiras... posta à prova. Não queremos des naturais e humanos como os que
É necessário, por isso mesmo, in merecer a valiosa contribuição que existem nesta privilegiada região
tegrar-se, estabelecer processos a ALALC vem dando ao processo do globo terrestre.
mais rápidos e ágeis de intercomu comercial latino-americano. Se
nicações comercial, zonal e extra- gundo dados estimados do seu O Brasil, creio eu, não deseja e
zonal. Nos últimos 14 anos, vive Serviço de Estatística e Processa não pode querer continuar a ser a
mos na América Latina a experiên mento de Dados da Secretaria da ilha decantada onde os reflexos
cia nada animadora da ALALC a ALALC, no ano de 1973 o comércio da crise mundial ainda não atingi
reger as relações comerciais entre interregional dos 11 países mem ram totalmente. Ao contrário, quer
os países da Zona, como instru bros da ALALC — incluindo a Bo cumprir seu destino de nação con
mento que deveria mobilizar, incre lívia e Venezuela, que aderiram à tinental, integrado e interessado no
mentar e desenvolver o mecanis Zona a partir do ano de 1968 — desenvolvimento, no progresso e
mo importação-exportação, através aumentou em 283% desde a entra na estabilidade político-social dos
do processo de concessões tarifá da em vigor no Tratado de Monte demais países do continente sul-
rias e outras metas fixadas no Tra vidéu. Dentro da região, as expor americano, limítrofes ou não, vi
tado de Montevidéu. tações passaram de 488 milhões de sando um intercâmbio comercial do
dólares em 1961 a 2.052 milhões de qual só resultarão benefícios para
É claro que na prática resultou a dólares em 1973, ao tempo em que o próprio continente latino-america
teoria ser outra... como lembra, em as importações intrazonais subiram no de tantas tradições, de tanta
feliz inspiração, o jargão já consa de 588 milhões de dólares em 1961 identificação e de propósitos e
grado. A frase, no entanto, não é a 2.069 milhões de dólares em objetivos tão comuns.