Page 896 - Telebrasil Noticiário

O Déficit das Autarquias Federais

EUGÊNIO GUI)IN

O Globo — Rio, 2-3-66

As contas do exercido financeiro da União, um ritmo mais reduzido do custo de vida, isso

em 1965, estão cncerrando-sc com um dcficit é devido: a) ao fato de ter tido o Govêrno de

de 64S bilhões, um pouco inferior ao previsto. criar cruzeiros para comprar cerca de 400 mi­

A receita do Tesouro Nacional foi de 3.200 bi­ lhões dc dólares do superavit do balanço de

lhões de 1965 contra 1.914 bilhões em 1964. pagamentos; b) ao fato de se ter auxiliado a

Mesmo introduzindo a correção monetária cor­ economia agrícola do país, comprando cêrca de

respondente à inflação de 1965, a arrecadação 250 bilhões de produtos agrícolas; c) às com­

do ano supera, apreciavelmente, em termos reais, pras de café tornadas necessárias pela super­

a de 1964. O déficit de caixa de 1965 representa produção. São os três principais fatores que

20% da receita arrecadada, contra 37% em 1964. obrigaram o Govêrno a emitir, apesar da incig-

Acresce que o defidt foi íinandado em sua maior nificância do dcficit do Tesouro. São essas emis­

parte pelo produto das Obrigações do Tesouro sões que ainda estão atualmente empurrando

adquiridas pelo público e pelos bancos, isto é, os preços para dma. Nadaf indica que cias ve­

por meios não iníladonários. nham a repetir-sc cm 1966.

O indice de alta do custo de vida na Gua­ * *

nabara (45%), muito mais elevado do que o

indice geral de preços por atacado (30%), ex­ Sc é verdade, portanto, que o quadro da

plica-se pelos aumentos de aluguéis, de tarifas administração financeira do Tesouro represen­

de energia e de transporte, etc., todos de na ta uma importante realização do Govêrno Cas­

turez3 corretiva, para retificar os grandes dese­ telo Branco, o mesmo não se pode infelizmen­

quilíbrios verificados em governos anteriores. te dizer dos resultados financeiros das autar­

quias federais.

* *

O quadro abaixo compara a importância

O quadro da administração financeira fe­ dos déficits da Rêde Ferroviária Federal e da

deral dificilmente poderia ser mais lisonjeiro. Marinha Mercante com o déficit total de caixa

Se êlc não se reflete, como seria desejável, em da União.

EM BILHÕES DE CRUZEIROS

Deficit da Defidt da Total Defidt de %
- x X m a j
Marinha Rêde Caixa da 5 sobre 6

Mor cante Ferroviária União

1961 18,2 36,6 54,8 130,4 42%

1962 28,2 65,6 93,8 280,9 33%

1963 423 177,6 219,9 504,7 44%

1964 72,8 286,5 351,3 698,7 51%

1965 85,0 333,6 418,6 587,0 71%

Donde se vê, pela última coluna, que o dc­ HÁ DEZENAS DE MILHARES DE EMPRE­

ficit das duas autarquias federais — Rêde Ferro­ GADOS SUPERABUNDANTES NA RÊDE

viária e Marinha Mercante — PASSOU DE FERROVIÁRIA.

44% DO DÉFICIT DA UNlAO EM 1963 A

51% EM 1964 E 71% EM 1965. As autarquias A tonelagem de carga seca de cabotagem do

estão portanto constituindo UM ÔNUS CRES­ Pôrto de Santos, QUE ERA DE QUASE UM

CENTE PARA A UNIÃO. MILHÃO DE TONELADAS EM 1955, BAI­

XOU A 120.000 EM 1964 E MAIS Oü MENOS
* *
O MESMO EM 1965.

Um recente trabalho do Assessor de Trans­
No balanço do Ativo c Passivo do Govêrno

portes do Ministério do Planejamento ("Jornal Castelo Branco, isto se traduz em uma só pa­

do Brasil" de 10 de fevereiro último) indica que lavra — FRACASSO.