Page 1182 - Telebrasil Noticiário
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mini IT                                                                        L









                                                                                                                                                                                                                                            HUGO  SOARES








                                            AS  TARIFAS  DE  SERVIÇO  PÚBUCO  SAO  CAUSA  DA  ESTAGNAÇAO



                                                                                                                          DAS  RÊDES  TELEFÔNICAS                                                                                                                      ^






                                                               Na  atual  conjuntura,  subjugada  pela  inflação  galopante  que  engolfa  a Nação,


                                           as  emprésas  de  serviço  público  são  as  principais  prejudicadas  pela  falta  de  uma


                                           política  de  sustentação  que  lhes  assegure  os  recursos  indispensáveis  à  continuidade



                                           de  suas  atividades  normais.


                                                               Sobe  o  custo  de  vida,  sobem  os  salários  em  contrapartida;  nossa  moeda  se


                                            dilue  e  cada  dia  mais  se  pulveriza,  com  seu  poder  aquisitivo  reduzido  à  expressão


                                           mais  simples.  Mês  a  mês,  o  cruzeiro  desfalece,  perde  consistência  e  vê  reduzida  sua


                                           expressão  em  função  das  moedas  fortes.  Por  fôrça  disso,  qualquer  empreendimento


                                           que  demande  tempo,  para  sua  execução,  traz  serias  implicações  dada’ a  dificuldade,



                                           por assim  dizer  intransponível,  de  se  orçar seu  custo  e  de  se  lograr chegar  ao  final


                                           dentro  de  esquemas  certos  e  orçamentos  reais  sem  o  que  deixará  de  ser  um empre­


                                           endimento,  para*  constituir-se  em  uma  aventura.


                                                              Em  se  tratando  dos  serviços  de  utilidade  pública,  quer  os  concedidos  a  par­


                                           ticulares  para  operá-los  em  nome  do  Estado,  quer  os  explorados  diretamente  pelo


                                           Govémo  —  a  situação  é  ainda  mais  radicalizada,  pois  estabeleceu-se  neste  país  um


                                           clima  de  irresponsabilidade  quase  total,  o  qual  vem  sustentando  uma  política  tari­



                                           fária  demagógica,  inadequada  e  inconseqüente,  que  impede  o  desenvolvimento  de


                                           tais  serviços  e  os  leva,  passo  a  passo,  ao  colapso.


                                                              Enquanto  tudo  sobe  de  preço  —  mão-de-obra,  matéria  prima,  impostos,  ser­


                                           viços  essenciais  ao  empreendimento  operado  —  a  tarifa  de  serviço  público  a  do


                                           serviço  telefônico,  principalmente,  apenas  se  reajusta  para  atender  às  reivindica­



                                          ções  salariais  dos  empregados  das  emprésas  operadoras.  As  leis,  decretos  e  regrula-


                                        mentos  vigentes  prevêm  a  segurança  de  uma  tarifa  que  remunere  adequadamente


                                          o  investimento  e  assegure  a  formação  de  reservas  destinadas  à  expansão  das  rêdes


                                          telefônicas  existentes.  Entretanto,  sempre  que  as  tarifas  de  serviço  telefônico,  nesta


                                          ou naquela  Cidade,  é  reajustada,  o  valor  correspondente  ao  acréscimo  tarifário  auto­



                                          rizado  tem  sempre  uma  só  destinação:  cobrir  a  elevação  de  despesas  resultantes  da


                                           “concessão”  do  aumento  salarial  aos  empregados  —  se  pudermos  chamar  de  “con­


                                          cessão”  os resultados  a que  se  chega em acôrdos salariais,  celebrados,  quase  sempre,



                                         sob  ameaça  de  greve.


                                                             Em  todos  os  casos  de  reajustamentos  de  tarifas  aprovadas  nos  últimos  anos,


                                         nem  um  centavo,  siquer,  de  acréscimo  tarifário  se  destinou  a  remunerar  melhor  o


                                         investimento  e  o  capital  em  giro,  ou  a  formar  reservas  destinadas  à  melhoria  do


                                         serviço.  Se  os  empregados  passam  a  receber  um  aumento  salarial  de  x%  o  au­


                                         mento  de  tarifa  é  calculado,  matemàticamente,  em  ípdices  que garantam  à  emprêsa



                                         díspôr,  no fim do mês,  da soma necessária apenas à cobertura daquela nova despesa.


                                                            O  CONTEL,  órgão  instituído  por  Lei  federal  para  controlar  o  problema  tari­


                                         fário,  está elaborando  os estudos  necessários à conceituação  mais  segura  de  uma  po­



                                         lítica  tarifária  adequada  e  realística.  Que  êste  estudo  venha  a  ser  concluído  o  mais


                                         rápidamente  possível,  são  os  nossos  votos  a  fim  de  evitar  o  colapso  de  todo  o  sis­


                                         tema  de  telecomunicações  existente,  hoje,  no  país  —  pois  o  que  aí  está,  vivendo  a


                                        duras  penas,  ao  desamparo  de  recursos  e  sob  a  impiedosa  trituração  da  conjuntura


                                        inflacionária,  poderá entrar em colapso a qualquer momento com prejuízo  para todos.



                                                            Afora  os  aumentos  para  majoração  de  salários,  quando  novos  acréscimos  se


                                         anunciam,  têm  êles  outra  destinação  que  não  beneficiam  nem  o  sistema  operado,


                                        nem  o  rendimento  financeiro  dos  empreendimentos:  é o  caso,  por exemplo,  da  sôbre-



                                        tarifa  de até  30%  que  se pretende  cobrar,  em breve,  cujo  produto  se  destina  a  cons­


                                        tituir  fundos  e  recursos  para  a*  EMBRATEL,  —  entidade  estatal  criada  pela  Lei


                                        4.117,  que  se  propõe  a  construir  a  rêde  nacional  de  Telecomunicações.


                                                           Não  nos  cabe,  agora*,  opinar  sôbre  os  méritos  da  nova  organização,  mas  uma


                                        pergunta  nos  acode  à  mente:  —  não  seria  razoável  cuidarmos  das  emprésas  que



                                       ameaçam  morrer  antes  de  cuidarmos  daquelas  que  ainda  vão  nascer?
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