Page 1030 - Telebrasil Noticiário
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HUGO                          P.           S O A R E S















                                          Como os leitores déste  modesto  “TELEBRASIL-NOTICIÁRIO"  devem  vir  no­


                             tando  ültimamente,  as  tarifas  dos  serviços  telefônicos  locais  e  interurbanos  —


                             agora  sob  a  hábil  administração  do  “Contei”  —  começam  a  adquirir  as  côres


                             de  tarifas  realísticas,  a  começar  por  aquelas  da  Capital  da  República,  cu.io


                             serviço  é  operado  pelo  próprio  Govèrno  da  União.

                                                                                                                                              a

                                         Foi  tendo  em  vista  a  pesquisa  da  causa  da  verdade  tarifária  —  que.  final­


                             mente,  ora  se  desabrocha  no  Brasil,  não  so  para  os  serviços  telefónicos  e  tele­


                             gráficos,  mas também  para  os  de  transportes  ferroviário,  aeroviário  e  outros  —


                            que  veio  a  nossa  mente  fazer  uma  nova  leitura  do  relatório  da  Comissão  no­


                            meada  pelo  Govèrno  Federal,  pelo  Decreto  n.°  41.800,  de  9-7-57,  para  estudo


                            do  problema  do  serviço  telefónico  no  pais,  onde  esbarramos  com  certos  trechos


                            lapidares  contidos  em  dito  relatório,  os  quais  não  podemos  furtar-nos  de  aqui


                            transcrever  para  beneficio  de  todos:                                                                                                                  J






                                                                           No  Brasil,  os  serviços  públicos,  quer  diretamente  administrados


                                                               pelo  Estado,  quer  por  particulares,  não  estão  oferecendo  aos  usuá­


                                                               rios  a  desejada  eficiência.  O  motivo  precípuo  dessa  falta  reside  na


                                                               grande  insuficiência  de  receita.



                                                                           Um  serviço  público,  tal  como  o  de  transporte,  energia  elétrica,


                                                              ou  telefone,  resulta  de  um  investimento.  Decorre  de  um  conjunto


                                                              de  esforçoo  técnicos  e  de  poupanças  que,  aplicados  na  instalação  de

                                                              tais  serviços,  vão  contribuir para  melhorar  as  atividades  econômicas



                                                              e  sociais  da  coletividade.  Essa melhoria  social  é  o  verdadeiro  lucro


                                                              do investimento, uma vez que o acréscimo da renda social,  em  decor-


                                                              rência da implantação ou da expansão de um serviço público, quando


                                                              bem  lançado  e  eficientemente  administrado,  tende  a  transformar-se


                                                              em  soma  consideravelmente  superior  ao  custo  do  empreendimento


                                                              Evidencia-se,  assim,  a  insubsistência  do  princípio  de  suprir  o  Ser­


                                                              viço  Público  exclusivamente  pelo  custo  de  produção,  ou  seja,  sem


                                                              prever lucros.  Ao  contrário,  revelam  os  fatos  que  a  enorme  vanta­

                                                              gem  trazida  pelos  Serviços  Públicos a  seus  usuários  é  uma  decorrên­


                                                              cia  da  produtividade  econômica  oferecida  pela  eficácia  dos  investi­


                                                             mentos  e  pela  eficiência de sua administração.  E  bem  sabemos  que


                                                             não  há  incentivo  para  aprimorar a  técnica,  para  imprimir  eficiência


                                                             à  administração e  para  acumular recursos financeiros  se  não  houver


                                                             um  excedente  de  receita,  isto  é,  se  não  houver  um  lucro  para  com­


                                                             pensar todos  êsses  esforços.



                                                                          Pouco  importa  que  o  serviço  seja  realizado  direta  ou  indireta­


                                                             mente  pelo Estado.  Tanto faz que  a  propriedade  do empreendimen­


                                                             to seja estatal ou pertença a um concessionário  particular.  Em qual­


                                                             quer  das  duas  hipóteses,  o  empreendimento,  para  dar  lucro  à  cole­


                                                             tividade,  deve,  por  sua  vez, ser lucrativo.  E’ necessário  que  seja  lu­


                                                             crativo,  a  fim  de  poder  assegurar  a  necessária  compensação  a  seus


                                                            diretores, a seus técnicos,  a seus empregados e  a todos  aquêles  que  se


                                                            dispõem  a  poupar  no  consumo  para  facilitar  o  emprêgo  dos  fatores


                                                            de  produção  nos  investimentos.


                                                                        Sem  lucros  para  a  emprêsa  —  do  Estado  oü  do  particular  —  é


                                                            impossível  contar  com  lucros  para  a  coletividade.                                                                                                           Entretanto,  em

                                                           nossa políitca econômica, nós nos  temos inclinado a considerar o Ser­


                                                           viço  Público  mais  com  o caráter  de  gratuidade  do  que  de  lucrativi­


                                                           dade.  Essa maneira errônea  de encarar tão  importante  serviço  para


                                                           o  desenvolvimento  econômico  do  país  nos  tem  sido  fortemente  ne­


                                                           fasta.  A  prova  do  desastre  está no  desmantêlo  dos  transportes  ma-
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