Page 3 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1965
P. 3
"O sucesso de qualquer organização depende da direção, da iniciativa
e, certamente, da entusiástica determinação do homem que a chefia.
Alas, nem todos os Diretores Gerais do Correic são escolhidos com tais
qualidades. Quase sempre são politicos nomeados por politicos e nos
últimos 50 anos a média de permanência na chefia tem sido de dois
anos e dois meses, no máximo, e de dois meses no mínimo. Da mesma
forma, a maioria dêles não tem tido a necessária experiência de di
reção e nas suas mais simples tarefas é consumida grande parte do
tempo e da energia que deveriam ser empregados na administração
do todo” .
E pergunta, enfático: —
•‘Poderia alguém admitir um homem sem experiência em direção de
grandes emprêsas, para reorganizar, por exemplo, a UNILEVER?”
Com a veemência marcante de que todo o artigo está impregnado, passa
Marples a criticar as falhas existentes na administração do Correio, cujos
Diretores não exercem, em tempo integral, suas atividades de chefia especi
ficamente, perdendo-se em tarefas as mais simples, fora da administração,
atendendo ao Parlamento para votar, responder a perguntas e prestar infor
mações, restando-lhe, assim, pouco tempo para administrar o órgão. E afirma:
‘‘Em resumo, o pôsto mais alto deve ser ae tempo integral para o
profissional experimentado e não pode ser de tempo limitado para
amadores sem estabilidade funcional. Há necessidade de tempo inte
gral, com prazo mínimo de 5 (cinco) anos” .
Feita a crítica mais severa, passa o articulista a sugerir as medidas que
seriam, a seu ver, indispensáveis à solução do problema, afirmando:
‘‘Os telefones devem ser separados do “Post Office” e transferidos para
emprêsa privada de utilidade pública. O Estado deve vender ao pú
blico as ações da Companhia de utilidade pública, como hoje ocorre
nos Estados Unidos” .
Ao discorrer sóbre a importância e o prestígio da ‘‘Bell Telephone Co.”, dos
Estados Unidos, apontando-a como mais desenvolvida e eficiente do que o
Correio Americano — que, a seu ver. sofre muito mais influência política do
que c Correio Britânico — vai êle ao ponto de sugerir que se buscasse na
“Bell Telephone” elementos tècnicamente experimentados para, na Inglaterra,
administrarem a nova emprêsa de utilidade pública, a cargo da qual ficasse
a responsabilidade pela operação do sistema inglês de telefonia.
E assim termina Ernest Marples seu magnífico trabalho, com estas pa
lavras que, esperamos ter traduzido sem distorções:
“A administração da emprêsa deve ser constituída, em sua maioria,
de elementos que exerçam suas atividades em tempo integral. Seu
Presidente e seu Gerente devem ser escolhidos dentre os melhores ele
mentos; têm que ser técnicos da melhor qualidade, líderes administra
tivos que poderão ser recrutados entre todos os habitantes do país
e não somente entre os melhores dos trezentos e poucos membros
do Parlamento. Deve haver permuta de técnicos com os Estados Uni
dos; deveríamos buscar inspiração ali, na sua técnica, nas suas ro
tinas, no seu sistema de trabalho. Precisamos atualizar-nos, precisa
mos manter-nos sempre em dia com o desenvolvimento da técnica ele
trônica. A não ser que se determine logo aos nossos técnicos seja
permitido desenvolver ao máximo sua atividade, a Inglaterra jamais
conseguirá desenvolver-se nesse campo de atividade” .
Aí está, senhores apologistas da concepção de que o sistema nacional
de telefonia deve ser da atribuição específica e privativa do Estado, o pensa
mento do parlamentar inglês que traz na sua bagagem de serviços prestados
à Inglaterra os anos de luta que enfrentou à frente do “Post Office” e, por
tanto, do serviço oficial de telefones da Grã Bretanha.