Page 2 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1965
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Também  na  Inglaterra  o  Estado  não  Consegue  Pleno
                    êxito  na  Operação  de  Serviço  Telefônico

                                                               Hugo  P.  Soares

               Habituado  a  .ouvir  o  grande  argumento  de  quantos  pregam,  neste  país  a
           estatização  dos  serviços  de  telecomunicações,  fundamentado  no  desenvolvimen­
           to  e  eficiência  do  sistema  inglês,  operado  pelo_“Post  Office”,  foi  com  sincera
           surprêsa  que  acabo  de  verificar  não  ser  assim  tao  exata  a  assertiva  em  aprêço
               ‘•The  Sunday  Telegraph”,  de  Londres,  edição  de  20  de  junho  último  di­
           vulga  magnífico  trabalho  de  Ernest  Marples,  membro  do  Parlamento  Britânico
           e  antigo  “Postmaster  General”  —  Diretor  Geral  dos  Correios,  que  abrange  o
           serviço  telegráfico  e  telefônico  —  sob  o  título  “What  I  Would  Do  With  the  Te-
           lephones”,  no  qual  encontramos  vigorosa  crítica  à  instituição  oficial  encarrega­
           da  da  operação  do  serviço  telefônico  na  Inglaterra  e  a  exposição  de  conceitos
           com  os  quais  rigorosamente  coincide  nosso  ponto  de  vista  em  tôrno  do  assunto.
               Sentimo-nos,  na  verdade,  felizes  por  comprovar  que  também  lá  na  Ingla­
           terra  —  tantas  vèzes  usada  como  grande  argumento  por  parte  daqueles  que
           recomendam  a  estatização  de  nosso  sistema  de  telefonia  —  vozes  as  mais
           respeitáveis  e  renomadas,  como  a  do  ilustre  parlamentar  ora  citado,  levantam-
           se  para  condenar  tal  critério,  critério  que  é  apontado,  com  veemência  e  se­
           gurança,  como  dos  mais  prejudiciais  e  lesivos  à  eficiência  do  sistema  de
           telecomunicações.
               Tal  o  brilho  do  trabalho  e  a  perfeita  coincidência  existente  entre  o  pensa­
           mento  de  Ernest  Marples  e  o  ponto  de  vista  de  quantos  defendem,  no  Brasil,
           a  adoção  de  uma  política  de  govêrno  contrária  à  estatização  do  serviço  de  te­
           lefonia,  que  julgamos  indispensável  tecer  comentários  a  seu  respeito,  procuran­
           do  transmitir  aos  leitores  um  pouco  daquilo  que  tanto  nos  empolgou.
               De  acordo  com  o  articulista  inglês,  indiscutivelmente  um  conhecedor  da  ma­
           téria,  pois  foi  Diretor  Geral  do  Correio  Inglês  em  1955,  e  é  dos  mais  respeitáveis
           membros  do  Parlamento  Britânico,
                  “qualquer  plano  destinado  a  modificar  o  atual  serviço  telefônico  —  e
                  eu  estou  convencido  de  que  êle  precisa  ser  radicalmente  modificado
                  —  deveria  partir  do  exame  da  grandeza  (número  de  empregados)  do
                  Post  Office” .
               Partindo  dessa  premissa,  Marples  passa  a  tecer  comentários  e  a  proceder
           a  uma  rigorosa  análise  dos  resultados  logrados  pela  organização  estatal  na ope­
           ração  do  serviço,  apontando  as  falhas  existentes,  indicando  suas  causas  e  for­
           mulando  sugestões  que,  no  seu  entender,  precisam  ser  ajustadas  e  postas  em
           prática  na  Inglaterra,  para  assegurarem  melhor  adequação  ao  serviço  telefô­
           nico  daquela  grande  nação  amiga.
               Fazendo  segura  comparação  entre  o  que  êle  chama  de  “the  huge  I.C.I.”
           (Imperial  Chemical  Industry)  e  o  “Post  Office”,  êle  afirma:
                  “O  gigantesco  I.C .I.  emprega  120  mil  pessoas,  enquanto  que  o  Correio
                  emprega  376  mil,  além  de  22  mil  subchefes.  Assim  sendo,  o  Correio  é
                  uma  emprêsa,  mas  a  sua  crucial  fraqueza  e  que  êle  não  é  dirigido
                  como  o  é  a  I.C.I.  e  desta  forma  jamais  poderá  vir  a  ser  adminis­
                  trado” .
               Ao  analisar  a  necessidade  da  reorganização  do  “Post  Office”,  aponta  o
           articulista  as  dificuldades  existentes.  Segundo  êle,  o  maior  passo  a  ser  dado
           está  na  entrega  da  administração  do  órgão  governamental  a  quem  tenha  ini­
           ciativa  e  entusiástica  determinação  de  chefia.  As  alterações  devem  partir  da
           cúpula,  pois  quando  a  emprêsa  precisa  ser  reorganizada,  o  trabalho  deve  par­
           tir  da  alta  administração  e  não  das  esferas  burocráticas  inferiores.  E  pros­
           segue:  —
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