Page 7 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1965
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mensão é a das obras e dos atos que medida de nossa simples presença, a
transcendem a transitoriedade dos mo responsabilidade que nos cabe. Essa
mentos que passam. responsabilidade tem um preço míni
10. — Pode parecer sem encanto mo, que é o da justiça e o da isenção,
para o povo a verdade despida dos ar sem ódios, nem rancores, assim como
ranjos e dos cocares que estimulam a o dever da preservação impessoal.
imaginação, a verdade humilde e de Não se trata, porém, de passar uma
sataviada, sem gestos arrogantes, sem esponja sóbre o passado, pois êste tem
gritos ameaçadores, ou promessas ca o seu pêso próprio, a incidir sóbre o~
rismáticas. Mas eu estou convencido pratos da balança, e a balança da
de que a humanidade, após meio sé justiça como se sabe,oscila com o apoio
culo de “ mostração”, — e eu mesmo equânime da fôrça.
14. — Como é necessário lembrar
compartilhei com fervor dessa época
das camisas simbólicas e das dedica — neste instante em que se cassam di
ções cívicas em colunas marciais — reitos de administradores corruptos -
tenderá cada vez mais a preferir a sim que cada ato de corrupção teve pelo
plicidade que se casa a uma clara menos um parceiro, um industrial, um
consciência de limites e de limitações. comerciante, um funcionário, um ad
vogado, um empreiteiro, sempre al
11. — Só um povo com consciência guém, em suma, que talvez esteja ba
de maturidade, quando mais não seja tendo palmas, sem prestar atenção à
pela convicção de estar em condições arritmia de seu próprio coraçao...
de adquiri-la, mostra-se à altura da
15. — A coragem de ser “ honesto” ,
tarefa de nossa época, que parece ser de ser “sério” muitas vézes se confun
de com a coragem de ser simples, como
a da velocidade e do paroxismo, mas a ousadia de dizer: em lugar de mais
oculta o fundo desejo da estabilidade uma Universidade, abram-se mais cem
e da segurança, graças ao binómio ins- escolas ou trinta institutos profissio
cindível da “ liberdade” e do "bem-es nais; em lugar de mármores preciosos
em edificios públicos, mais serviços e
tar social” .
12. — E' neste ponto essencial que servidores capazes, mais aparelhamen-
tos técnicos a dar beleza interior às
somos diferentes dos pregadores de re paredes decentemente caiadas...
formas no govêrno anterior: éles que
riam reformas até mesmo à custa da
liberdade: nós as queremos nos limi
tes possíveis das liberdades preserva 16. — Em tudo é preciso, porém, que
das. — 'R e ior mas-meios” e “ re/or- resplenda a fôrça de uma convicção
mas-fins” , ou, indo ao fundo da ques sincera. Nem basta a convicção que
tão, uma diferença no plano da inten se resume em mais uma "atitude de
cionalidade, nos critérios com que sc mostração” , como, por exemplo, a que
jogam e se equacionam os dados dos inspirou uma pretensa “ ordem dos go
problemas. rilas” , com a melhor das intenções,
13. — De qualquer modo. só hã Re mas que ao meu vêr, não se afina com
volução na medida e enquanto se re o sentido autêntico da obra revolucio
conhece a necessidade de uma nova nária.
adequação entre a problemática dos Felizmente, são os nossos militares os
meios e a problemática dos fins, supe primeiros a repelir iniciativas que ol
rando-se as dificuldades postas por ca videm os valores cívicos que palpitam
sos isolados: é a atitude perante a “ to debaixo da farda de cada um dos nos
talidade” do sistema vigente, com o sos soldados. O destino desta Revolu
propósito de fazer a critica construti ção está mais na consciência do ho
va de suas estruturas que caracteriza mem comum do que na espada dos
uma Revolução, e não o corte isolado militares ou nos poderes dos líderes
ou o reparo timido de um de seus v i civis
gamentos Mesmo porque a corrup 17. — A Revolução que estamos v i
ção, antes de ser um problema do “ ho vendo e cujos caminhos definitivos
mens corruptos” , é um sintoma de “ so ainda estamos sondando, nasceu nas
ciedade corrupta” . ruas, sob uma inspiração tão generali
A corrupção é sempre de natureza zada e comum, que seria ousadia al
binada, envolvendo a positividade dos guém assumir poses de dono. Houve.
que subornam e a negatividade dos Dor certo, mentores, homens que se an
que se deixam subornar: assim como teciparam à intuição do momento,
dos que se omitem e dos que toleram. alertando a Nação, cada qual sob o
E se só agora estamos tomando pro ângulo de uma das muitas perspectivas
vidências enérgicas, tenhamos ao me que se vão delineando no cenário ideo
nos a coragem de assumir, todos, na lógico do Brasil atual.