Page 4 - Telebrasil - Fevereiro/Março
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crativos — tudo aquilo que passou às mãos do Estado ou do Município
entrou em “pane”, caindo num regime de “déficits” acumulados, de
difícil solução. Não precisamos apontar nenhum caso específico, pois
todos já são por demais conhecidos.

      Ora, não vemos, por tudo isso, melhores razões, neste duro transe,
para perseguirmos, agora, a estatização indiscriminada das empresas
de serviços de utilidade pública. Houvesse neste país melhores atrativos
para a fou'maçâo de capitais próprios, destinados a serem aplicados em
empreendimentos relacionados com serviços de utilidade pública — de­
vidamente assistidos pelo Poder Público, com a segurança de tarifas
justas a todo tempo, propiciadoras de remuneração também a todo tempo
adequada — e o capital nacional, as economias dos nacionais, os frutos
da poupança e do tirocínio dos brasileiros haveriam de acorrer, forço­
samente, para tais empreendimentos, assegurando, desta maneira, a so­
lução de todos os nossos problemas.

       Um velho brocardo diz: — muito ajuda quem não atrapalha!

       No caso dos telefones, por exemplo, se o capital investido em ações
das 300 empresas existentes no Brasil pudesse garantir rentabilidade pelo
menos equivalente àquela assegurada pelos empreendimentos imobiliários
ou por investimentos feitos em atividades de fins puramente lucrativos,
não estaríamos, hoje, Tia situação de penúria em que nos debatemos,
pois as economias dos brasileiros estaríam sendo canalizadas para aquelas
empresas, cujo capital até há pouco tempo estava restrito à participa­
ção dos investidores estrangeiros, na maior parte dos casos, como pio­
neiros que foram, neste país, de tais empi'eendimentos. Muita gente
que se limita, hoje, a emprestar dinheiro a juros, a comprar ações que
pagam dividendos da ordem dos 25 a 30% ao ano ou a especular com
imóveis, sob a sombra protetora do caos inflacionário, estaria investindo
por inteligência e patriotismo suas economias em ações das empresas
operadoras de serviço telefônico, assegurando-lhes, assim, os recursos
indispensáveis à execução de seus planos de expansão, sem a necessidade
dos processos até aqui adotados para atraí-los, compulsòriamente.

       NÕX) será com a estatização que se logrará corrigir tão grave falha.
O que a política intentada, com a melhor boa fé e o maior desejo de
acertar, pelo atual Governo poderá conseguir, como bem o disse o ma­
gistral Gudin, será a estatização do “déficit”, mas nunca a solução do
problema. 0 mais indicado sería assegurar condições para a eliminação
dos “déficits”, pois, nas mãos do Govêimo, como nas mãos do particular,
os investimentos deficitários não poderão lograr qualquer êxito. Não
seria lógico desviarem-se recursos do erárío para a cobertura dos “dé­
ficits”, recursos que devem ser aplicados de outra fo7'ma, 7nais condizente
com o interêsse coletivo.

      A nãó ser que nos provem que a estatização pura e simples dos servi­
ços de utilidade pública provoque um milag7'e, toimando 7'endosos empreen­
dimentos deficitários, nós havemos de continuar, coin o 7naior respeito e
sem qualquer intenção de combate que vise a denegrir ou subestimar a
capacidade de t7'ábalho das entidades estatais, a 7'egistrar a mesma per­
gunta, que será muito difícil responder-se afirmativa7nente : — Resol­
verá a estatização dos serviços de utilidade pública o proble7na brasileiro?

      O tempo dirá!
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