Page 2 - Telebrasil - Novembro 1962
P. 2
pos de fartura, puderam as empresas concessionárias fazer frente às
primeiras dificuldades, pondo em prática a elevada experiência de seus
técnicos c sua magnífica capacidade dc improvisação. Esgotadas, entre
tanto, aquelas reservas, o drama começou a desenvolver-se e o problema
se fez, a cada instante, mais penoso. Nenhum equipamento, todo êle
7W. época fabricado no estrangeiro, pôde chegar ao Brasil, porque os
fabricantes estavam submetidos ao regime de prioridade de seus gover
nos, afogados no cáos do conflito mundial, e à falta absoluta de matérias
primas — sem condições, por isso mesmo, de desviar o ritmo de seu tra
balho para assim atender às reais necessidades de seus clientes de
além mar.
A partir de então, novos fatores de agravamento do problema pas
saram a ter curso forçado no país e, mesmo depois de finda a guerra
mundial, ganharam novas cores e se fizeram mais sensíveis. O Governo,
tendo em vista não dispor de divisas no estrangeiro, em quantidade ra
zoável, passou a embaraçar, tremendamente, o acesso das operadoras
de serviço telefônico ao mercado de equipamento especializado fora do
Brasil, por não considerar, até então, o referido equipamento como ma
terial de primeira categoria — indispeiisável à segurança nacional e
necessário ao nosso desenvolvimento econômico.
Com a inflação e todo o seu séquito de funestas consequências, o
problema agravou-se ainda mais. Tendo suas tarifas postas em relativo
ponto morto — enquanto as despesas de operação cresciam vertiginosa-
mente, submetidas que estavam ao impacto inflacionário, a fonte de
receita das operadoras permanecia pràticamente em congelamento, su
jeita a um tabelamento demagógico e quase criminoso — o serviço teria
que se desmantelar, fatalmente. E9 óbvio que não sendo as tarifas ade
quadas a todo tempo, inadequado haveria de ser o próprio serviço —
e foi o que ocorreu.
Por tudo isso, desde 1954 vêm batendo na mesma tecla, nêste país,
aquêles que, conhecendo de perto o problema, se sentem em condições de
indicar o preciso remédio para solvê-lo. Estava muito claro o caminho
da recuperação que se abria às autoridades, apontado, reiteradas vêzes,
pela TELEBRASIL em sua pregação cívica.
A solução dependeria únicamente da execução do trinômio inexorá
vel de providências, sintetizado friamente em tarifas adequadas a todo
o tempo; na implantação de uma indústria nacional de equipamento
telefônico farto e acessível a todos e, principalmente, na adoção do sis
tema de participação do usuário no investimento — cm seja o autofi-
nanciamento.
Hoje, decorridos oito longos e penosos anos, o problema continua o
mesmo — se bem que mais agravado — e a solução que se pode apontar
não é outra senão aquela (pie já em 1954 se esquematizara tão sàbiamente.
E ’ bem verdade que pelo fato de não terem as autoridades acolhido, de
pronto, a fórmula salvadora, tomou-se a sua aplicação ainda mais pe
nosa. Tivessem sido adotadas as medidas recomendadas no tempo devido,
no que diz respeito às tarifas e ao autofmandamento, e grande parte
da demanda já teria sido atendida nos saudosos tempos em que uma
linha telefônica instalada custava cêrca de vinte mil cruzeiros às empre
sas operadoras.