Page 64 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1997
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Marcos E. Bandeira Maia*
oje, está evidente para todos que o processo dinheiro, mas sim pelo investimento dos novos sócios (de
de privatização da Telebrás enfim se tornou uma maneira geral o grande público) no negócio, provo
irreversível e, se depender da vontade do nosso cando a diluição da participação acionária do governo,e
ministro das Comunicações, será muito mais cedo do carreando im ensas quantias para suportar os também
que se poderia imaginar. A dúvida que me ocorre é elevados investim entos requeridos para manter no mais
porque privatizar vendendo o controle através de leilão atual estado da arte as suas complexas redes de teleco
ou licitação tipo Banda B, na expectativa de que se habi municações. Desta forma, se asseguram os franceses,
litem os grandesplayers mundiais das telecomunicações, alemães, italianos, suecos e outros tantos que o controle
dentre eles ressaltam os as operadoras européias a acionário e decisório de suas empresas de telecomu
m aioria delas ainda estatais, as grandes operadoras nicações ficarão em seus países, e que cada uma de per
americanas, ou mesmo as grandes operadoras asiáticas. si se manterá íntegra e uníssona, compondo uma grande
Na verdade o governo pensa em presa em condições de disputar este
em transferir não só a responsabilidade "Temos percebido que será o mercado mais concorrido
pela continuidade de um programa au cio próxim o século, em condições de
dacioso de investimentos para recu igualdade com os gigantes, principal-
perar a velha e desgastada planta de que cada vez mente da América do Norte.
telecomunicações brasileira, como tam Tem os percebido que cada vez
bém arrecadar um grande volume de mais se formam mais sc formam grandes alianças, bus-
recursos, para destiná-los a aplicações cando fortalecer parcerias de fornia a
que nada tem a ver com o grande obje- cll lclílÇciS bllSCcinuO dar uma maior abrangência de atuação
ti vo de dar aos brasileiros um nível mí e com petitividade às grandes operado
nimo de retorno em termos de uma boa fortalecer ras de telecomunicações, permitindo
rede de telecomunicações, recompen que estas possam estender as sua>
sando a nós usuários do imenso inves- t t redes buscando estabelecer operações
tim en to que fizem os no sistem a parcerias globais.
TELEBR AS nos últimos 30 anos. O Brasil dispõe, hoje. de uma das
Sabemos nós, companheiros do setor, que o governo m aiores redes integradas de telecomunicações cons
é dono de 2 1 (7( sem nunca ler investido um tostão para truída, apesar do governo, com o imenso esforço de um
construir este imenso patrimônio. Muito pelo contrário, grupo abnegado de engenheiros, técnicos, economistas
este patrimônio foi construído pela contribuição de nós advogados e adm inistradores brasileiros. Face a miopia
usuários, através do autofinanciamento, políticas de dos governos passados, perdem os excelentes oportu
sobretarifas do tipo FNT, e, finalmente, pelos exceden nidades de consolidar um crescimento da nossa rede.
tes de caixa gerados, apesar da SEST, pela profissional que lhe daria um porte continental, com investimentos
e com petente administração que tivemos na maioria de que seriam totalm ente autofinanciados. e que poderia
nossas empresas operadoras. estar projetando hoje a nossa capacidade gerencial e
Todos nós sabemos que o segundo melhor negócio tecnológica para além de nossas fronteiras.
do mundo é telecomunicação mal administrada, e não é Vejam que fez exatam ente isto a então estatal Tele
por outra razão que os principais players estão tão fónica de Espanha (TISA), que saiu comprando parte
interessados em nossa imensa rede, que apesar de des do controle acionário de empresas na Argentina, Uruguai.
gastada tem uma topologia muito bem construída e Chile, Peru, Bolívia e no nosso Rio Grande do Sul. para
planejada para suportar o crescimento requerido pela não citar outros, porém com acordos de acionistas que
demanda existente. Por uma infeliz coincidência, tam lhe entregavam a responsabilidade e comando destas
bém no ano que vem estarão se privati/ando as principais operações.
operadoras européias c outras tantas nas Américas.o O que vimos é uma TISA cada vez mais forte,eque
que vai sem dúvida roubar uma boa parte da importância passa a exportar a tecnologia de gestão espanhola para
da cena brasileira. todos estes rincões, gerando empregos de alto ni\el para
O interessante, é que a privatização na Europa o seu contingente de engenheiros e administradores es
não está se dando por encher o bolso do governo de panhóis e, mais do que isto, passou a centralizarem Madn